Caravana: conheça Soraya, mulher trans, feminista e Sem Terra

A militante falou da importância do Bolsa Família e das dificuldades: “algumas vezes cozinhávamos com carvão porque não tinha dinheiro pro gás”

Monyse Ravena

Soraya Melo Nunes, 20 anos, é um dos 102 integrantes da Caravana Contra Fome

Soraya Melo Nunes tem 20 anos e mora em Águas Belas, no agreste meridional de Pernambuco. Ela é uma das 102 participantes que estão cruzando quatros regiões do Brasil na Caravana Semiárido contra a Fome. Soraya é uma mulher transexual, feminista e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que recentemente se formou no curso de formação de militantes “Pé no Chão”, do MST-PE.

Soraya conheceu o Movimento através de sua avó, Irene. Ela, a mãe Ilza e os dois irmãos ingressaram juntos no Movimento e hoje a família está acampada, lutando pela terra que irá livrá-los do aluguel. Soraya parou de estudar no segundo ano do ensino médio, “mas quero voltar ano que vem, sinto muita falta de estudar, apesar de ter sempre sido muito fechada e sozinha na escola. Sempre tive medo de me relacionar com as pessoas e ser rejeitada”.

Desde os 13 anos Soraya começou a transformar seu corpo e iniciar o processo de reconhecimento como mulher transexual, teve o apoio da mãe e dos irmãos, o pai, que sempre foi distante, não apoiou, “mas ele nunca nos apoiou em nada, então não foi surpresa para mim”, completa.

LGBT Sem Terra

Recentemente ela participou do Seminário nordeste do Coletivo LGBT Sem Terra, em Fortaleza (CE). “Foi muito importante participar, eu achava que no Movimento não havia espaço pra pessoas como eu, transexual, mas vi que tem espaço e apoio”, comenta.

Soraya é a primeira mulher transexual a compor o Setor de Gênero do MST em Pernambuco. Mesmo em espaços de auto-organização de LGBTs no Movimento, ela diz que a presença de pessoas transexuais ainda é muito pequena. “Nesse encontro que fui e reunia todo o Nordeste éramos só eu e uma outra companheira que nos identificávamos como transexuais”.

Ela conta que sofreu preconceito de algumas pessoas quando entrou para o Movimento “umas piadinhas sem nenhuma graça”, mas levantou a cabeça e seguiu em frente. De fevereiro deste ano até hoje já concluiu um curso de formação de militantes, participou da Marcha “Lula Livre, Lula Inocente” e agora integra a Caravana. Na volta para Pernambuco, permanecerá até dezembro no Recife, fazendo parte da Brigada de Militantes, que contribuirá no processo de mobilização do Congresso do Povo.

Em meio a tantas atividades na militância, Soraya tem aprendido a vencer o medo de se relacionar com as pessoas, “o MST tem me dado essa oportunidade de vencer meu medo do preconceito e confiar mais nas pessoas”.

Caravana

Falando sobre a importância do tema da Caravana, Soraya conta que a família não passou fome, mas vivia com muitas dificuldades, “algumas vezes cozinhávamos com carvão porque não tinha dinheiro pro gás, às vezes não tinha carne, mistura, mas a comida estava lá”. A mãe de Soraya trabalha na agricultura, mas também como diarista na cidade, sem salário fixo, “até hoje o Bolsa Família é muito importante para nós, é o único dinheiro fixo que contamos.

Neste domingo (29), a Caravana chega a Belo Horizonte (MG), onde realiza atividades durante toda a segunda-feira (30), de lá segue para Guararema (SP), Curitiba (PR) e Brasília (DF), encerrando suas atividades no dia 07 de agosto.

Por Brasil de Fato

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