“Não podem pedir agora que o PT se suicide”: Gleisi rechaça guinada ao centro

Ao jornal O Globo, presidenta do PT reafirma que o partido deve se manter à esquerda, em sintonia com seus princípios históricos, para não se afastar das bases sociais que o fortalecem em quase 45 anos de existência

Alessandro Dantas

A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR)

Em entrevista publicada nesta segunda-feira (9) no jornal O Globo, a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), voltou a defender que o partido se mantenha fiel aos seus princípios históricos para não se afastar das bases sociais que o fortalecem ao longo de seus quase 45 anos de existência.

“O PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam o país. É um partido de esquerda e assim deve continuar. Isso não impede que converse e faça alianças, como tem feito”, afirmou a parlamentar, ao ser questionada sobre opiniões favoráveis a uma guinada do PT ao centro, como forma de adequação ao cenário político atual.

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Gleisi citou as eleições de 2022 como exemplo de que o PT é aberto a alianças com outras forças políticas, sem, no entanto, abandonar suas bandeiras históricas.

“Conduzi o processo eleitoral de 2022 construindo uma aliança ampla, com 11 partidos. Teremos em 2026 um quadro muito semelhante, até porque o governo já está ampliado, com legendas que não apoiaram o Lula em 2022 e agora discutem o apoio para daqui a dois anos. Se elas não vierem por inteiro, pelo menos parte delas, ampliando a frente de 2022”, disse a parlamentar.

“Diálogo político com o centro nós tivemos na campanha e ampliamos no governo. Já tentaram matar o PT e não conseguiram. Não podem pedir agora que o PT se suicide, rompendo com a base social que nos trouxe até aqui”, enfatizou.

Questionada sobre o que levaria o PT a romper com a base social, Gleisi afirmou que isso ocorreria, por exemplo, se o pacote de ajuste fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, retirasse direitos básicos e comprometesse políticas públicas fundamentais para a população.

“Fazer um pacote de retirada de direitos como o mercado quer. Ele está dizendo que as medidas são insuficientes. O que o mercado está pedindo é negar tudo aquilo que nós defendemos historicamente”, afirmou a deputada.

Questionada sobre a pauta do mercado, ela respondeu: “Acabar com o aumento real do salário mínimo, desvincular o mínimo da aposentadoria e dos benefícios sociais, mexer nos pisos da Saúde e da Educação. Não querem fazer a votação da reforma da renda para dar isenção a quem ganha até R$ 5 mil“.

Conversa com Lula

Gleis também foi perguntada se conversou com o presidente Lula sobre a necessidade de o ajuste fiscal não afetar as camadas mais pobres da população. Ao responder afirmativamente, ela destacou a sensibilidade do chefe do governo.

“Nas oportunidades que eu tive de falar com ele durante esse processo, reafirmei as posições do PT. Ele [Lula] sabia que tinha que preparar medidas e foi muito sensível e responsável nessa condução”, disse a parlamentar.

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Reforma ministerial

Já sobre rumores de que haverá em breve uma reforma ministerial, Gleisi afirmou: “Se ele [Lula} achar que tem que mexer no governo e isso é importante para dar resultados ao país e também para o aspecto político, ele tem que fazer”.

A parlamentar também foi perguntada se, em uma eventual reforma ministerial, o PT poderia abrir espaço para outros partidos. “Depende muito da conversa que o presidente vai ter conosco. O PT nunca vai faltar ao presidente Lula”, declarou.

2026

As eleições de 2026 também foram tratadas na entrevista, e Gleisi reafirmou que o candidato deve ser Lula. “Ele é fundamental para ganharmos as eleições. Não vejo um outro nome com capacidade de disputa na sociedade brasileira”, enfatizou.

Perguntada sobre como o governo vai conseguir melhorar a avaliação popular nos dois últimos anos do governo Lula, Gleisi respondeu: “É preciso uma ofensiva do governo para mostrar o que está fazendo. Tem muita coisa positiva acontecendo, como crescimento do PIB, redução do desemprego, aumento da renda. Mas a sensação da sociedade, ou a construção dessa sensação, não reflete isso. Precisa de um empenho maior de comunicação e político”.

Sem anistia para golpistas

A presidenta do PT falou ainda sobre a necessidade de uma discussão sobre o artigo 142 da Constituição, usado de forma distorcida por bolsonaristas para defender um golpe militar. “É o momento de arquivar o projeto de anistia e de mexer no artigo 142. Nunca podemos esquecer o passado. Nós fomos muito lenientes com a ditadura militar. As pessoas não foram punidas”, pontuou.

Sabotagem do BC

Na entrevista, Gleisi voltou a criticar a inércia do Banco Central, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, diante das sucessivas altas do dólar, manipuladas pelo mercado para pressionar o governo a promover cortes de direitos sociais. A deputada lembrou que o BC adotou uma postura bem diferente durante o governo passado.

“O BC tem instrumentos para enfrentar a especulação com a moeda. Torrou US$ 70 bilhões das reservas em 127 intervenções no tempo de (Jair) Bolsonaro e (Paulo) Guedes. Não intervir agora é dar um tiro no peito da população. Campos Neto fez tanto terrorismo que penso ter constrangido os novos diretores do BC”, afirmou a presidenta do PT.

Sucessão no PT

Outro tema da entrevista foi a sucessão no PT, e Gleisi foi perguntada se já há um nome cotado para substituí-la na presidência do partido.

“Não. Vamos divulgar agora o calendário do processo de eleição. A partir daí, começa a discussão. Antes da definição do nome, a gente tem que fazer o debate político sobre o PT. É isso que vai qualificar o nome para assumir o partido”, enfatizou.

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Da Redação

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