Natal: petista quer tirar cidade das ‘capitanias hereditárias’
Fernando Mineiro deseja ser o primeiro prefeito do PT da capital do RN para, enfim, o município ter uma gestão com real diálogo com a sociedade
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Ele é mineiro de nascimento e apelido. Fernando Mineiro, no entanto, vive em Natal (RN) há três décadas. Nesse tempo, o professor da rede estadual de ensino exerceu por três vezes o cargo de vereador e por quatro o de deputado estadual pelo Rio Grande do Norte. O desafio, agora, é se tornar o primeiro prefeito petista da capital potiguar.
A sua ambição gira em torno de preparar Natal para o futuro. Ele afirma que o município pouco mudou desde que chegou por lá pela primeira vez, há 30 anos. “A administração municipal ainda atua na base dos critérios e princípios das capitanias hereditárias”.
De fato, as sucessivas prefeituras se mantiveram com poucas alterações nas últimas duas décadas. O atual prefeito (e candidato à reeleição) é Carlos Eduardo Alves (PDT) e sua vice é Wilma de Faria (PSB). A dupla já comandou Natal por seis vezes.
Carlos Eduardo assumiu o cargo em 2002 e foi eleito em 2004 e 2012 e Wilma chegou ao cargo em 1988, 1996 e 2000. Ou seja, Natal está sob o comando de ambos, com alguns intervalos, há 28 anos.
A principal crítica de Mineiro é sobre a falta de diálogo do prefeito com os setores da sociedade natalense. E ele não fala apenas dos movimentos sociais e da classe trabalhadora.
“É um prefeito meio Lombardi: não aparece. Você não vê uma notícia dele discutindo sequer com os empresários”, afirma. “Ele só faz um feijão com arroz administrativo”.
As principais bandeiras do pré-candidato para alcançar o Palácio Felipe Camarão, a sede da prefeitura local, estão relacionadas em abrir diálogo real com a sociedade, integrar os municípios vizinhos e pensar o desenvolvimento econômico de forma sustentável.
“Devemos fazer uma cidade moderna, participativa e para as pessoas”, pontua.
Leia a entrevista na íntegra:
Como o sr. analisa as últimas administrações municipais de Natal?
Natal é uma cidade com ares cosmopolitas, uma sociedade moderna, mas a administração ainda está no tempo do Brasil Colônia. A administração ainda atua na base dos critérios e princípios das capitanias hereditárias. O atual prefeito e sua vice têm, juntos, cerca de 20 anos na gestão da cidade, fora aqueles que os apoiaram.
É uma cidade administrada de maneira muito conservadora, sem inovação e sem pensar a cidade. Não se incorpora princípios de gestão moderna. Não há inclusão social, participação social, sem exercitar o diálogo. É uma cidade que, de tão bela, acaba não mostrando tão fortemente as tragédias administrativas. É uma cidade marcada pela mesmice administrativa.
Falta diálogo do atual prefeito com a sociedade?
Totalmente. Ele não tem a cultura do diálogo e da participação. É um prefeito meio Lombardi: não aparece. Não se vê uma notícia dele discutindo com qualquer setor da cidade. Não digo só dos setores populares ou dos trabalhadores. Não se vê notícia dele discutindo sequer com os empresários ou de administrar a cidade de maneira mais dialogada e participativa. É um grande problema.
Ele faz um feijão com arroz administrativo. E uma cidade do porte de Natal, principal cidade da região metropolitana, com quase 900 mil habitantes, não tem diálogo com as cidades vizinhas. Os problemas de Natal hoje são os mesmos problemas de 10 ou 15 anos atrás.
Qual é a importância de manter maior integração com as cidades vizinhas?
Quer seja saúde, mobilidade urbana, enfrentamento das questões de segurança, os principais problemas da cidade são metropolitanos. Devem ser enfrentados de uma maneira mais articulada na região metropolitana de Natal.
A capital deveria ser o carro-chefe desse debate e busca de saídas para problemas comuns. Natal precisa ser protagonista desse debate metropolitano. É impossível pensar que uma cidade isoladamente pode resolver suas questões, como se os problemas se esgotassem no limite territorial.
Como o sr. vê a mobilidade urbana na capital?
É uma cidade dominada pelas empresas de transporte. Natal nunca teve uma licitação para as empresas de transporte. Foi sempre um processo de concessões individualizadas. Além disso, só há políticas para os ônibus, sem nada mais integrado.
Nós precisamos pensar a região metropolitana, pensar projetos a médio prazo de VLT (veículos leves sobre trilhos), integrar as ciclovias. É preciso fazer um debate sobre a questão da mobilidade. Hoje, se você perguntar à população quais são os principais problemas de Natal, a questão da mobilidade aparece entre um deles.
Natal é um destino turístico importante no Brasil. Como o sr. analisa a política de turismo atual?
Não tem uma política para o turismo. No nosso ponto de vista, uma cidade para ser boa para o turista precisa primeiro ser boa para quem mora nela. Não dá para pensar a cidade só para o turismo.
Os destinos vendidos no Rio Grande do Norte tem Natal como chamariz, mas, de novo, sem integração com as políticas estaduais, com as outras cidades que também são destinos turísticos.
Não se debate a questão do turismo sustentável, a integração do turismo com a cultura e com a produção artesanal. Dava para se fazer muitas outras coisas além de vender somente as belezas naturais, a água salgada e a areia.
Era possível incorporar outras questões fundamentais e garantir a cidade para quem nela vive. Primeiro a qualidade de vida da população para também se tornar atrativa para o turista.
Quais são suas principais bandeiras de campanha?
Uma questão central é a participação social, o controle social. É preciso abrir o diálogo com os diversos setores da sociedade para buscar formas de enfrentamento dos principais problemas da capital. Natal hoje acumula uma série de questões historicamente renegadas. É preciso enfrentá-las por meio do diálogo e da participação social.
É preciso também integrar as políticas sociais. Hoje, cada secretaria e cada setor funcionam como se fossem uma caixa, de maneira compartimentalizada. É preciso integrar saúde, educação, cultura, ação social, políticas para a juventude, para as mulheres. Enfim, pensar a cidade para as pessoas.
Uma outra questão central é o conjunto de estruturas e programas. O que chamamos de programas estruturantes para a nossa cidade. É preciso pensar o desenvolvimento econômico de forma sustentável e incluir o turismo, o empreendedorismo, pensar na cidade para o futuro. Fazer uma cidade moderna, uma cidade participativa e para as pessoas.
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias