NEC PT: A centralidade da questão meridional para a disputa de hegemonia na sociedade após golpe

Os 15% de adesão que o PT tem na sociedade paulistana, segundo dados do Vox Populi de dezembro de 2016, terão de se contrapor aos 19% do PSDB

Ricardo Stuckert
Tribuna de Debates do PT

Festa da transposição do São Francisco deu mostras da perenidade da adesão da classe trabalhadora a seu líder e partido de classe

O centro sul do país constitui o polo de difusão da ideologia burguesa disseminada a partir da capital de São Paulo.

A base material da propagação dessa ideologia burguesa, de índole neoliberal, é a organicidade do capital, a partir de sua base econômica: a pujança do capital, a partir de sua matriz difusora, espraia a ideologia capitalista seguindo o rastro econômico do desenvolvimento do capital.

Assim, em país de desenvolvimento capitalista periférico, caracterizado por crescente desindustrialização de sua cadeia produtiva e exacerbação de seu poder agrário-exportador, produtor de commodities; a difusão da ideologia burguesa pode ser eleitoralmente aferida, no rastro da pujança econômica do capital financeiro ao agrário exportador, do centro sul urbano do país às fronteiras agrícolas das regiões centro-oeste e norte, onde impera o voto conservador.

A base material da produção da ideologia burguesa qualifica sua condição hegemônica na sociedade capitalista ao estabelecer uma relação orgânica com ‘uma classe que exerce uma função decisiva no mundo da produção material’[1] – qual seja a classe trabalhadora.

A contra-hegemonia da classe trabalhadora, exercida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), logrou quebrar essa relação orgânica que a ideologia burguesa exerce na sociedade capitalista por meio da sobre-determinação econômica de sua hegemonia de classe, na questão setentrional.

No polo mais fraco de difusão da ideologia burguesa, uma série de políticas anti-sistêmicas[2], realizadas por sucessivos governos petistas, logrou quebrar a hegemonia material que a burguesia exerce sobre a classe trabalhadora, para além do fenômeno eleitoral do lulismo.

A grande festa da transposição popular das águas do rio São Francisco – ocorrida a 19 de Março deste ano, na cidade de Monteiro e arredores, no estado da Paraíba – da mostras da perenidade da adesão da classe trabalhadora a seu líder e partido de classe, ao lograr quebrar a hegemonia burguesa local e socialmente constituídas.

À hegemonia racionada em expressão eleitoral, que coagia a sociedade pelo voto da maioria, expressando a ideologia da classe trabalhadora no curto período do segundo turno de anos eleitorais, antes do golpe; restará exercer seu consentimento, na defesa mesma dos direitos conquistados pela classe trabalhadora ameaçados no golpe burguês.

Expressivas manifestações da classe trabalhadora, como a greve geral que se avizinha, somente alcançarão o objetivo de barrar o golpe e a consequente destruição dos direitos do trabalho que o mesmo objetiva, ao lograr quebrar a hegemonia burguesa no centro difusor de sua ideologia.

Para tanto, os 15% de adesão que o Partido dos Trabalhadores tem na sociedade paulistana, segundo dados da pesquisa Vox Populi de dezembro de 2016, terão de se contrapor aos 19% de adesão que o paulistano dá ao PSDB[3].

Para exercer a função decisiva que a classe trabalhadora requer e, com isso quebrar a sobre-determinação econômica que a liga ideologicamente à burguesia, no núcleo essencial da atividade econômica; a questão meridional deverá ir além da estratégia eleitoral, rompendo a ideologia burguesa hegemonicamente dominante, pela interpolação dos valores contra-hegemônicos que somente uma classe fundamental[4] como a classe trabalhadora poderá exercer na sociedade capitalista.

O presente texto constitui singela homenagem do NEC PT ao intelectual marxista e militante comunista Antonio Gramsci, no aniversário de 80 anos de sua morte – 27/04/1937.

[1] Secco, Lincoln: Gramsci e o Brasil: recepção e difusão de suas idéias. São Paulo, Cortez, 2002, pp. 100-1.

[2] Consideramos políticas anti-sistêmicas, as políticas de crescimento econômico voltadas à geração de emprego e renda, assistidas pelos mais variados projetos sociais provedores de cidadania, moradia, água, luz, saúde e educação de modo a retirar da miséria e elevar da pobreza à condições razoáveis de existência, milhões de brasileiros.

[3] Enquanto no Brasil, segundo a mesma pesquisa, o PT mantém 15% de adesão na sociedade, ao PSDB restam 5% de aderentes. Ao PMDB aderem apenas 2% dos entrevistados nessa pesquisa, assim como os demais 32 partidos políticos existentes no Brasil, tem a adesão de outros 2% da sociedade, restando 74% daqueles que não expressam preferência partidária.

[4] Segundo Gramsci: ‘Se a hegemonia é ético-política, não pode deixar de ser também econômica, de ter seu fundamento na função decisiva que o grupo dirigente exerce no núcleo essencial da atividade econômica’ (Cadernos do Cárcere à página 591 da edição italiana).

Artigo do Núcleo de Estudos d’ O Capital do Partido dos Trabalhadores (NEC PT) para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

O NEC PT, que subscreve a tese Estado de Emergência Petista ao 6º Congresso do PT é composto pelos seguintes filiados: Agnaldo dos Santos, André Tomio Lopes Amano, Antonio David, Carlos César Félix Vieira, Ciro Seiji Yoshiyasse, Eduardo Bellandi, Flávio Perez, Francisco de Souza, Francisco del Moral Hernandez, José Rodrigues Máo Júnior, Juliana Casagrande, Karina Morais, Lígia Kimie Yamasato, Lincoln Secco, Luis Fernando Franco Martins Ferreira, Marianne Reisewitz, Marisa Yamashiro, Maurício Barbará, Pedro Crem Alves Porto, Suzi Alves, Takao Amano, Valéria Garcia e Walcir Previtale Bruno.

 

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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