Neta de Arraes chega ao PT para atuar por bandeiras históricas da família
Antes filiada ao PSB, Marília Arraes quer retomar, no PT, o legado do avô e o trabalho por uma sociedade menos desigual
Publicado em
Conhecido em Pernambuco como “o pai dos pobres”, Miguel Arraes, ex-governador do estado, prefeito de Recife (PE), base aliada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e falecido em 2005, será representado no Partido dos Trabalhadores pela neta Marília Arraes. Antes filiada ao PSB, a mais nova petista decidiu mudar de partido para retomar o legado histórico do avô e o trabalho por uma sociedade menos desigual.
Neta do socialista, Marília Arraes se filiará ao Partido dos Trabalhadores na próxima quinta-feira (3). No entanto, a ficha de filiação da nova petista já foi abonada por ninguém menos que Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República e presidente de honra do PT, durante a festa em comemoração ao aniversário de 36 anos do partido, no último sábado (27).
Vereadora em Recife (PE), Marília Arraes participou da comemoração dos 36 anos do PT, no Rio de Janeiro, ao lado de representantes da legenda como o presidente da legenda, Rui Falcão; o secretário de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy; o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad; deputados e senadores petistas, entre outros.
Em entrevista à Agência PT de Notícias, Marília Arraes conta as divergências que teve com o PSB. Segundo ela, os problemas surgiram muito antes de seu primo Eduardo Campos ser candidato à Presidência em 2014 na chapa que teve como vice Marina Silva. Ela também fala sobre as bandeiras históricas do PT com as quais se identifica, conta os planos de se candidatar novamente ao cargo de vereadora no Recife, o desejo de eleger um prefeito petista na capital pernambucana, entre outros assuntos. Confira a entrevista abaixo.
Agência PT – Por quais motivos você resolveu sair do PSB e se filiar ao PT?
Marília Arraes – Sou militante do PSB há muitos anos, fui eleita duas vezes vereadora do Recife, mas venho discordando dos rumos que o partido tem tido, principalmente porque foi uma guinada à direita. Minha decisão de me filiar ao PT foi pelo fato de o PT ser o maior partido de esquerda do Brasil e a gente precisar realmente manter o Brasil no rumo que começou a ser tomado 13 anos atrás. Então, é importante a gente fortalecer essa luta, que é uma luta grande, num momento difícil do País, mas esperamos crescer na adversidade.
AGPT – Como você espera contribuir com o PT?
MA – Espero contribuir principalmente na minha cidade, lutando para que a democracia volte a acontecer no Recife e em Pernambuco. E também para colocar em prática as bandeiras de esquerda, as conquistas sociais que já foram alcançadas, para que a gente não deixe que o retrocesso volte a reinar no Brasil e, principalmente, em Pernambuco.
AGPT – Como foi o processo de afastamento do PSB? Você tinha divergências com Eduardo Campos e já externou esses problemas anteriormente.
MA – Minha discordância interna com o PSB já vem de muito antes de eu ter publicizado essa discordância. 2014 foi só o ápice dos desencontros de opiniões entre a direção do PSB e as minhas. A gente vinha tentando discutir internamente, mas no PSB em Pernambuco não havia instâncias internas para que a gente discutisse, expusesse as opiniões, o partido virou meramente um homologador das decisões que vinham de cima, de Eduardo Campos.
Eu discordei do que foi feito para que ele conseguisse ser candidato à Presidência, alianças com as forças mais retrógradas do Brasil, como exemplo a família Bornhausen, Heráclito Forte e outras figuras nacionais que pra gente representam um retrocesso e algo completamente incoerente com a história do partido. Então, foi aí que eu comecei a publicizar as minhas discordâncias, demorei um tempo para definir qual seria o caminho que eu tomaria, apesar de as conversas com o PT virem há dois anos.
AGPT – Quais são as bandeiras do PT com as quais você mais se identifica e que fazem essa ligação entre você e o partido?
MA – A principal bandeira do PT que me faz acreditar que a gente tem que lutar para que o partido se mantenha firme é a distribuição de renda, a luta contra a desigualdade. Essa já era uma luta de Miguel Arraes quando nem se falava em certas coisas que a gente vê hoje em dia. Isso é o que a gente tem que priorizar hoje no Brasil. Recife é a cidade mais desigual do Brasil. Lá a gente vê o quanto os governos que o PT teve na cidade fizeram a diferença para a vida do recifense de todas as classes sociais. Mudou, realmente, a vida da cidade e a gente vê a falta que faz uma política implementada pelo PT. Sem dúvida alguma esse foi o principal motivo por eu ter escolhido o PT. É importante que a gente lute para que a gente continue nesse caminho.
AGPT – Qual é a expectativa, agora no PT, para as eleições deste ano, principalmente no Recife?
MA – Recife tem uma realidade particular que provavelmente nosso candidato a prefeito vai ser João Paulo (ex-prefeito da cidade), que tem uma popularidade muito grande, é uma pessoa muito querida. E eu acredito que a gente vai para o segundo turno e vamos ganhar a eleição na cidade.
Espero que a gente eleja uma boa bancada de vereadores, porque essa realidade nacional tem mostrado que esse presidencialismo de coalisão. Nosso sistema político é bastante difícil de se governar. Então, a gente tem outro dever. Uma tarefa grande de, não só no Recife, mas nas outras cidades, eleger bancadas de vereadores, com número importante, para que facilite a governabilidade do prefeito. Serei candidata a vereadora neste ano.
Por Mariana Zoccoli, da Agência PT de Notícias