“Não entendo o ódio”, diz Lula em visita ao MST em MG
Ex-presidente conheceu trabalhadores e trabalhadoras do acampamento Maria da Conceição, em Itatiaiuçu, onde falou do golpe e de segurança pública
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“Eu vou guardar este sapato aqui com muito orgulho para dizer que eu fui visitar o primeiro assentamento pertinho de Belo Horizonte!”, anunciou alegremente o ex-presidente Lula na manhã da quarta-feira (21), em visita ao acampamento Maria da Conceição, do MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra), próximo à BR 381-Fernão Dias, na cidade de Itatiaiuçu, Minas Gerais.
Construído graças à luta de mulheres sem-terra, que ocuparam a área em 8 de março de 2017 para denunciar corruptos devedores da Previdência e combater a reforma do golpista Michel Temer, o acampamento abriga hoje 150 famílias que são prova viva da luta da classe trabalhadora.
“Os trabalhadores e trabalhadoras organizados conseguem lutar contra os golpes. Como nesta terra, que era de mineradores e de especulação imobiliária˜, explicou Mirinha.
Logo ao chegar, Lula foi alegremente recebido por um grupo de crianças sem-terrinhas e por centenas de pessoas que estavam ali para lhe enviar um recado bem resumido nas palavras da professora Beatriz Cerqueira:
“Estamos com você até o fim. Não existe um plano B, C ou D. É com você que iremos fazer a nossa luta necessária pela nossa dignidade”, disse a professora. “E quero dizer que atos institucionais são belos, mas vir até o povo e sujar o pé na terra que o povo está é o que vale a pena!”, celebrou.
Para o governador do estado, o petista Fernando Pimentel, a quarta-feira já desde cedo desenhou-se como um dia histórico. “Este acampamento será um marco de nossa luta, pois lutamos muito para chegar até aqui. Vamos fazer tudo o que for possível para dar um pedaço de terra para cada um que está aqui. Com serenidade, Minas está resistindo ao golpe!”
Antes de subir ao palco para conversar com os acampados e acampadas, o ex-presidente fez questão de percorrer o local para ver de perto a realidade dos que ali vivem. Conheceu e visitou pessoas como José Teixeira, o Baiano, 63, que é um dos coordenadores da horta que abastece os moradores. Da visita, Lula levou alguns legumes e vegetais ali cultivados e muita sabedoria de vida.
“Eu quero que os pobres desse país deixem de ser pobres”, ressaltou o ex-presidente após a visita em seu discurso. “Nós temos que dizer: cansamos de ser pobre. Queremos trabalhar, estudar e ganhar o nosso pão. Nós não queremos tirar o que é deles, mas, por favor, não tentem massacrar o povo.”
Relembrando as etapas que levaram ao golpe que retirou do poder uma presidenta legitimamente eleita, Lula classificou o momento atual como um período excepcional de falta de democracia.
“Eu fico incomodado imaginando que a gente não está compreendendo o que está acontecendo no país. Eles inventaram uma mágica. Antes, para tirar presidente, eles matavam. Depois, inventaram o golpe militar, mas se sofisticaram. O golpe militar trazia coisa desagradáveis, então eles inventaram o golpe parlamentar.”
A grande preocupação dos articuladores do golpe que atualmente caça direito e persegue movimentos sociais e a classe trabalhadora é o fato de que eles não têm candidatos para as eleições de outubro.
“Não têm. E percebam a sacada do Temer: ele acabou com os direitos trabalhistas e tentou acabar com a Previdência. Aí o Datafolha faz uma pesquisa e diz que não iam votar. E o que ele faz? Tira a Previdência da pauta e faz uma intervenção no Rio de Janeiro, onde 90% das pessoas estão preocupados com a segurança.”
A manobra, explica Lula, tira da pauta debates importantes como a própria questão trabalhista, a reforma agrária, a saúde e a educação. “Eles não querem discutir nada, por isso jogaram na nossa cabeça a discussão sobre segurança e intervenção.”
“Nós queremos segurança”, ressalta Lula, “mas nós precisamos dizer para eles que o exército não foi feito para isso. Foi feito para defender a soberania nacional, e não para enfrentar jovem pobre na periferia da cidade.”
Não é desta forma, avalia o ex-presidente, que o Estado deve aparecer nas periferias. “A violência surge onde o Estado não está. Se não tem saúde, não tem educação, não tem emprego.”
A solução para a crise no Rio e em outros estados está fórmula reiteradamente repetida por Lula: investimentos. Em cultura, saúde, educação, moradia e cidadania. A fórmula dos golpistas, porém, vai no sentido oposto. “Estão tirando dinheiro da saúde, da educação e do que é mais importante. Eles tiraram o sonho da juventude de ter escola de qualidade.”
Na matemática do golpe, não haveria espaço para tirar a presidenta Dilma e, dois anos depois, deixar que Lula fosse democraticamente levado pelo povo de volta ao Alvorada. Daí a necessidade de evitar que ele seja candidato, explica.
“Fico imaginando o que é que essa elite liderada pelo sistema financeiro internacional e nacional, pela Rede Globo, tem contra o Lula. E não entendo tanto ódio. Porque respeito é bom, a gente que dar, mas também quer receber.”
“Agora, inventaram um apartamento na praia, que sabem que não é meu. E qualquer um de vocês sabe que, se não tem contrato, não é seu. Neste país, eles sabem que, se colocar todos os que estão me processando um dentro do outro, o que vão tirar de honestidade deles não dá a minha honestidade!”
A luta de Lula, ainda bem, é incansável. “Se essa gente acha que com 72 anos eu tenho medo, que eu tenho medo da morte, eu não tenho. Eu tenho medo é de trair a esperança que vocês têm em mim. Então eu quero dizer ao companheiros do MST que eu prefiro a morte do que trair os ideais de defender o povo pobre deste país!”
Assista como foi a visita ao acampamento em Itatiaiuçu (MG):
Ao vivo do acampamento do MST em Itatiaiuçu
Publicado por Lula em Quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Ao vivo do acampamento do MST em Itatiaiuçu
Publicado por Lula em Quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Ao vivo do acampamento do MST em Itatiaiuçu
Publicado por Lula em Quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Por Lula