O país está esfacelado, com seu presente e futuro sob grave ameaça
A campanha Lula Livre, movimento pela garantia dos direitos constitucionais do ex-presidente, também é uma trincheira na defesa de um país soberano, socialmente justo e democrático, defendem lideranças políticas em artigo
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Às vésperas do bicentenário da Independência, o presente e o futuro do Brasil estão sob grave ameaça. Os atuais governantes estão nos conduzindo em direção ao que éramos na década de 1920: um país primário-exportador, submisso a interesses estrangeiros, com reduzidas liberdades democráticas e com a questão social sendo tratada como “caso de polícia”.
Os efeitos econômicos e sociais resultantes dessa ponte para o passado constituem o pano de fundo da disputa que se trava no país desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff. Para a turma do retrocesso, era preciso condenar, prender e tirar os direitos políticos do ex-presidente Lula, como parte de um roteiro que incluía entregar nossa indústria, concentrar riquezas, gerar desemprego para baixar os salários, cortar direitos sociais para sobrar mais para a especulação financeira e desorganizar a resistência reforçando o medo, as milícias, a repressão policial, os preconceitos e opressões.
A farsa judicial contra Lula —pilotada pelo ex-juiz Sergio Moro e pela Operação Lava Jato, com a complacência de setores do Judiciário, intenso apoio midiático, retaguarda da cúpula das Forças Armadas e assistência técnica dos EUA— foi parte importante dessa operação contra a soberania, as liberdades e os direitos do povo brasileiro, abrindo caminho para a eleição fraudulenta de Jair Bolsonaro.
Lula enfrentou uma via-crúcis judicial por mais de cinco anos, sendo submetido ilegalmente a 580 dias de prisão. Não foi, no entanto, a única vítima desse conluio antidemocrático.
Cerca de 4,5 milhões de empregos, segundo o Dieese, foram perdidos em decorrência das arbitrariedades cometidas pela Lava Jato. Acabaram praticamente destruídas a indústria naval e as cadeias produtivas do petróleo, além de desmontado o setor de engenharia civil.
Até o golpe de 2016, o Brasil caminhava para comemorar os 200 anos de Independência de cabeça erguida. O país enfrentava desafios tão importantes como sair do mapa da fome, expandir o nível de emprego, financiar a educação e a saúde com as riquezas do pré-sal, ampliar o mercado interno e conquistar protagonismo internacional.
Atualmente, porém, o Brasil está esfacelado. Fomos destroçados pelo golpe, pela Lava Jato, por Moro, por Bolsonaro. Voltamos a registrar alta no número de pessoas em extrema pobreza. Temos o pior registro de desemprego já calculado, com 14,4 milhões à procura de trabalho. O pré-sal foi entregue de bandeja a empresas estrangeiras. Os trabalhadores e trabalhadoras perderam direitos históricos. Somos, disparados, o pior país no enfrentamento à pandemia, com mais de 550 mil mortos, a maior parte resultado das ações e inações do governo Bolsonaro.
A libertação de Lula e a anulação de suas condenações, acompanhada pelo arquivamento de todos os processos, ainda uma batalha inconclusa, são bandeiras a serviço do futuro de todo o povo brasileiro.
A campanha Lula Livre, movimento pela garantia dos direitos constitucionais do ex-presidente, também é uma trincheira na defesa de um país soberano, socialmente justo e democrático. Um Brasil livre da fome, do desemprego, da violência, do coronavírus e de Bolsonaro.
Vivemos momentos decisivos. A pátria amada verá que os filhos seus não fogem à luta.
Fernando Haddad, professor e advogado, foi candidato à Presidência da República pelo PT, prefeito de São Paulo (2013-2016) e ministro da Educação (2005-2012, governos Lula e Dilma), Jandira Feghali, deputada federal (PC do B-RJ), João Paulo Rodrigues, membro da coordenação nacional do MST, Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula, e Valério Arcary, professor e membro da direção do PSOL
Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo