Oposição quer CPI do BNDES para jogo político, critica Costa
Para parlamentares petistas, comissão teria finalidade de atacar governo Dilma. Cientista político relembra escândalo no BNDES na era FHC
Publicado em
No Senado, a oposição articula instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar supostas irregularidades em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na avaliação do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), criar uma CPI do BNDES, quando já existe a CPI da Petrobras em andamento, é uma manobra desnecessária e retira o foco principal das apurações. “Não existe fato objetivo para uma CPI do BNDES”, afirma.
Para o petista, a oposição quer usar mais uma CPI para fazer jogo político. “Nesse caso específico querem também desgastar comercialmente um grupo ou outro que contratou o financiamento”, alerta o senador.
“O BNDES é um banco sério, importante, que tem agido com extrema transparência”, afirma o líder.
Para a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), a ideia da comissão parte do desejo da oposição em atacar a gestão da presidenta Dilma Rousseff. “A oposição está num furor de CPI. Nós já temos uma situação a resolver, que é o caso da Petrobras, que o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal já estão trabalhando”, justifica.
A senadora acredita que o Parlamento tem outras prioridades no momento, como a reforma política, auxiliar o governo na retomada do desenvolvimento, votar matérias referentes à segurança pública e responder demandas cotidianas da sociedade.
Com o pretexto da CPI da Petrobras, os parlamentares aprovaram um pedido de convocação para ouvir o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ainda não há data definida para o depoimento.
A comissão quer que Coutinho explique como eram feitos os investimentos pelo banco na Sete Brasil – empresa contratada pela Petrobras para construir sondas de exploração que seriam usadas para extração de petróleo na camada pré-sal.
Na gaveta – Se o presidente do BNDES comparecer à oitiva no Congresso, outro assunto pode repercutir na Casa. Além dos contratos firmados nos últimos anos, há fatos que foram inibidos durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na época, levantou-se suspeitas, nunca elucidadas, sobre irregularidades no leilão da Telebras. Segundo avaliou o cientista político Wagner de Mello Romão, “a suspeita de irregularidade na privatização da Telebras ocorreu porque o valor de mercado apresentado pelas empresas que participaram do leilão foi muito baixo”.
O caso aconteceu em 1998 e envolveu Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, presidente do BNDES à época, durante a privatização da Telebrás.
O vice-presidente do BNDES, Pio Borges, e Pérsio Arida, sócio do Opportunity, empresa que seria beneficiada com o esquema, pressionavam o Fundo de Previdência do Banco do Brasil (Previ) para que fechasse a sua participação no consórcio com o Opportunity e a Telecom Itália.
Para conseguir o que queriam, o presidente do BNDES teria pedido autorização de FHC para negociar em nome do ex-presidente tucano. FHC respondeu, em grampo feito ilegalmente por agentes da ABIN: ”Não tenha dúvida.”
Apesar da gravação revelar o envolvimento de lobistas com autoridades do governo tucano, o caso não foi concluído. Ainda de acordo com Wagner Romão, faltou investigação.
“O episódio poderia ter sido conduzido à uma CPI, mas, na época, os órgãos de controle, como a PF e a Procuradoria Geral da República (PGR), não tinham a independência que tem hoje”, afirma Romão.
Por Michelle Chiappa, da Agência PT de Notícias