Padilha: Críticas de Bolsonaro a Cuba são por falta de proposta
Ex-ministro da Saúde destacou que encontros com embaixada do país se deu nos mesmos termos que outros países do mundo, para elaborar programa Mais Médicos
Publicado em
“Tem gente querendo reeditar o clima da Guerra Fria porque não tem alternativas para os problemas que vai encontrar. Tem mais de 1.500 municípios que não terão médicos. Como o governo eleito não tem proposta para tratar disso, reedita clima guerra fria”, afirmou o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.
Ele deu entrevista à Agência PT comentando as críticas ao programa Mais Médicos em matéria publicada pela Folha na terça (20), que cita trocas de mensagens entre embaixadas como se fossem feitas às escondidas. O programa sofreu um desfalque após declarações de Jair Bolsonaro que provocaram a retirada de Cuba.
Padilha explica que as conversas com Cuba tiveram início em 2011, mas só após um seminário internacional realizado nos primeiros 100 dias de governo, com a participação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Na ocasião, foram apresentadas experiências da Europa, da Oceania e das Américas, e discutidas alternativas para garantir o provimento e fixação de profissionais da saúde em áreas remotas.
“A ideia dos Mais Médicos trouxemos da experiência da Austrália, do Canadá, da Espanha e de Portugal. Na Inglaterra, por exemplo, 37% da força de trabalho médica é estrangeira. Isso foi entre 2011 e 2012, quando desenhamos o Mais Médicos e todas as iniciativas de provimento. São tratativas que temos com todos os países”, esclarece o ex-ministro.
O programa não foi implementado ainda em 2012 pois, com as eleições daquele ano, muitas prefeituras mudariam de gestão, o que prejudicaria a implementação do programa. Após o pleito, “foram prefeitos e prefeitas de todos os partidos que cobraram. Essa demanda fez com que se acelerasse o desenho e o processo para fazer o programa”, relembra Padilha.
Alternativas para atender locais isolados
O ex-ministro da Saúde afirma que as tratativas com Cuba buscaram abrir alternativas para atender a demanda brasileira. Até mesmo a organização Médicos Sem Fronteiras foi consultada, mas disse que o Brasil não se enquadrava em seu foco de atuação.
“Não fizemos como Bolsonaro, que perdeu os cubanos e não tem como chamar outros. Desde o começo, construímos alternativas para trazer profissionais de outros países, se fosse necessário. Decidimos fazer convênio com a Opas, não só Cuba, mas qualquer outra entidade que pudesse trazer esse volume de médicos”, afirma Padilha.
Ele ainda relembra que o primeiro edital do programa Mais Médicos apenas para brasileiros não teve todas as vagas preenchidas. Depois, o edital para médicos com diplomas de fora do Brasil também não teve todas as vagas preenchidas. Só depois a Opas foi acionada para fazer um “chamamento coletivo”.
Padilha ainda critica o fato do Mais Médicos ser um programa com três eixos estruturantes, mas que é tratado como se fosse um programa apenas para trazer médicos de Cuba. “O Mais Médicos tem todo um desenho, são três eixos. Primeiro, a mudança na formação dos médicos. Segundo, ampliação de vagas para formação, com interiorização das escolas, cotas e Prouni. Terceiro, provimento de Mais Médicos, e Cuba é parte desse provimento”.
Remuneração não pode ser comparada
Padilha ainda explicou que o vínculo de um médico brasileiro com o programa Mais Médicos é completamente diferente do vínculo da empresa de Cuba e que não podem ser comparados entre si.
“No caso dos médicos brasileiros, são bolsistas do governo brasileiro e recebem só quando tem o programa. Acabou o programa, ficam sem remuneração, sem previdência. No caso dos médicos cubanos, são contratados por uma empresa internacional, eles tem vínculo com essa empresa e continuam contratados lá, com remuneração. Eles recebem de acordo com as regras dessa empresa porque não são bolsistas, mas de uma empresa que tem convênio com a Opas”.
Enquanto o médico brasileiro recebe uma bolsa que não se configura como vínculo empregatício, o pagamento pelo trabalho dos médicos cubanos fica dividido entre o médico do país, a previdência do médico e sua família, o Sistema de Saúde Cubano e missões como aquela que combate o ebola na África.
Para Padilha, “querem estabelecer a comparação de relações completamente diferentes”.
Da redação da Agência PT de notícias