Papa pede pelos pobres, mas governo trava seguro quarentena

País amanhece tomado por filas e aglomeração na porta de bancos e de agências da Receita. Em Roma, Francisco pede renda básica universal para trabalhador, em pleno Domingo de Páscoa. “Precisamos tornar realidade esse slogan tão humano e cristão: nenhum trabalhador sem direitos”, defendeu

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Papa Francisco prega renda universal para os trabalhadores mais pobres

A Páscoa já passou, mas a Via Crucis de trabalhadores informais, desempregados e mães chefes de família continua. Nesta segunda-feira, 13 de abril, o Brasil amanheceu com filas de pessoas em frente às agências da Caixa Econômica Federal e da Receita Federal em todo o país, repetindo as cenas vistas na última quinta-feira, quando o governo iniciou o pagamento do auxílio pomposamente batizado de Renda Básica Emergencial, que na prática tem criado dissabores e dificuldades para os cidadãos. Isso aconteceu um dia depois do Papa Francisco defender a criação de uma renda mínima universal para trabalhadores precários, autônomos e informais.

Mas o governo parece indiferente ao gesto de solidariedade emitido pelo Vaticano. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro insiste no fim do isolamento social, as famílias carentes brasileiras reforçam as aglomerações.  Em Manaus, idosos e mães com crianças de colo, boa parte usando máscaras, recebiam senhas para atendimento desde as 8h30 desta segunda-feira. Mas teve gente que chegou à agência da Caixa Econômica Federal da Avenida Autaz Mirim, na Zona Leste da cidade, por volta das 16h do domingo, para garantir o atendimento.

Mães solteiras ou aquelas que são chefes de família poderão, em tese, receber até R$ 1,2 mil, mas boa parte terá que enfrentar aglomerações. Isso porque o Ministério da Cidadania exige o preenchimento do número do CPF de filhos e dependentes para famílias das trabalhadoras não inscritas no CadÚnico e não beneficiárias do Bolsa Família.

Apenas os jovens de 16 ou 17 anos podem tirar o CPF pela internet. No caso de menores sem título de eleitor, é preciso comparecer a uma agência dos Correios, da Caixa Econômica ou do Banco do Brasil para a emissão do CPF. Por isso tantas mães com filhos no colo vistas nas filas espalhadas pelo país.

Dezenas de cearenses também amanheceram nesta segunda-feira em uma fila no entorno da sede da Receita Federal, em Fortaleza, para regularizar o CPF. Mesmo com o horário de atendimento iniciando às 8h, os primeiros trabalhadores chegaram ao local na noite de domingo e dormiram na fila.

Muitos dos se aglomeravam no local reclamaram que estavam com o CPF irregular por sempre terem declarado imposto de renda pelo formato MEI (Micro Empreendedor Individual), e nunca terem sido orientados a declarar como pessoa física.

Papa Francisco

Em meio à confusão causada pelos atrasos e exigências do governo, e a franca campanha do presidente Jair Bolsonaro pela quebra das regras do isolamento social para conter o aumento do número de casos de Covid-19, o papa Francisco divulgou carta aos integrantes dos movimentos populares e organizações sociais de todo o mundo neste domingo de Páscoa, 12 de abril.

Em carta endereçada aos movimentos sociais, Francisco fez um apelo. “Vocês, trabalhadores precários, independentes, do setor informal ou da economia popular, não têm um salário estável para resistir a este momento. A quarentena é insuportável para vocês. Talvez tenha chegado o momento de pensar em uma forma de renda universal de base que reconheça e dê dignidade aos nobres e insubstituíveis trabalhos que vocês desenvolvem”, disse.

Após defender um cessar-fogo mundial e medidas para reduzir ou anular a dívida de países pobres na missa de Páscoa, com transmissão ao vivo para 1,3 bilhão de católicos no mundo, Francisco anunciou, na carta, que destinava suas orações aos que dedicam suas vidas à transformação social, atuando a partir de suas comunidades. Para o papa, estes são “verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos”.

Segundo Francisco, apesar de excluídos dos benefícios da globalização, os movimentos sociais são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. “Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdecem nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho”, apontou.

“Talvez seja a hora de pensar em um salário universal que reconheça e dignifique as tarefas nobres e insubstituíveis que vocês realizam; capaz de garantir e tornar realidade esse slogan tão humano e cristão: nenhum trabalhador sem direitos,” concluiu o papa.

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