Paulo Teixeira: É preciso taxar o andar de cima
Em entrevista ao “Brasil 247”, deputado petista fala sobre campanha contra o ex-presidente Lula, mudanças no PT e Operação Lava Jato
Publicado em
Gisele Federicce, 247 – A última semana foi marcada, entre outros fatos, por duras críticas feitas pelo ex-presidente Lula ao Partido dos Trabalhadores. Para o principal líder e fundador da sigla, a legenda perdeu sua utopia e está precisando de “lideranças jovens” e “mais ousadas”. As declarações foram feitas no seminário “Novos desafios da democracia”, com o ex-presidente espanhol Felipe González, realizado no Instituto Lula.
Para muitos petistas, o discurso de Lula deveria reverberar e se tornar a agenda para mudanças no partido. É a opinião do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), para quem as palavras do ex-presidente possuem uma “grande repercussão”. Teixeira integra a corrente Mensagem ao Partido, da qual também fazem parte o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro.
Uma das principais defesas do parlamentar, na entrevista, é pela “revisão” no reequilíbrio das contas pelo governo. Para ele, é necessário alterar a meta do superávit, parar de elevar a taxa de juros e lançar um amplo programa de proteção ao emprego, além de “taxar o andar de cima”. “De certa forma, uma parte dessa taxação está sendo feita, baixando o lucro dos bancos, tirando a desoneração que foi dada em excesso, mas temos que ampliar”, comenta o petista.
O deputado fala ainda do que considera ser “abusos” cometidos na Operação Lava Jato e das denúncias recentes contra Lula. “É inaceitável hoje querer criminalizar o ex-presidente Lula pelo fato de ele ter apoiado as empresas brasileiras no exterior”, ressalta. Leia abaixo os principais trechos:
A corrente da qual você faz parte, Mensagem ao Partido, tem defendido mudanças dentro do PT. Nessa linha, fazem sentido, em sua opinião, as críticas feitas pelo ex-presidente Lula ao partido nessa semana?
Eu acho que esse é um momento que nós precisamos promover uma grande mudança no PT. E essa grane mudança requererá uma reformulação do seu projeto para o País, um debate sobre a organização interna e uma recomposição partidária. Então quando o ex-presidente Lula vem e fala, eu acho importante que esse contexto da fala dele possa ser traduzido numa agenda de mudanças para o PT. Nós apresentamos um manifesto no Congresso [Nacional do PT, em Salvador], apresentamos uma agenda de mudanças, e agora eu espero que a direção do partido faça essas mudanças.
Por que o ex-presidente fez essas críticas ao próprio partido e à presidente Dilma? Seria cansaço?
Eu entendo que ele colocou naquele contexto do debate com o [ex-presidente espanhol] Felipe González. E acho que foi uma fala inicial. Acho que o PT é o partido que tem muitas pessoas idealistas que deram a sua vida por um projeto de mudanças no País. Agora o que eu acho interessante na fala dele é exatamente a possibilidade de isso se transformar numa agenda de mudanças. Porque nós apresentamos essa agenda. Assinaram nosso manifesto pessoas de seis campos políticos diferentes, 35 parlamentares… nós entendemos que essa agenda tem que ser levada a sério. Quando ele fala, tem uma repercussão grande e nós esperamos que a agenda seja colocada em prática.
Existe uma avaliação de que as correntes mais à esquerda estão crescendo dentro do PT. Você confirma isso?
Eu acho que o sentimento de mudança não está só nas correntes à esquerda no PT, está em segmentos do campo majoritário, em outros segmentos. A definição hoje de mudança está permeando militantes de diversos campos políticos.
A Mensagem ao Partido defendeu no Congresso Nacional do PT a proposta de encurtar o mandato da atual direção da legenda, que vai até 2017. Você disse na ocasião que a ideia era “refazer” a atual Executiva Nacional. Por que e o que deveria mudar?
O que nós defendemos é que há uma mudança hoje muito profunda no País. E diante dessa mudança, o PT precisa estabelecer um mecanismo de formulação e de repensar sua própria estrutura partidária. Evidentemente que, no nível da direção, tem que ter uma reformulação para dar contar desse novo rumo. Essa proposta não foi vencedora no Congresso, agora eu acho que houve uma mudança na correlação de forças internas, uma polarização enorme em relação ao PED (Processo de Eleição Direta).
Você se candidatou à presidência do PT em 2013, mas foi derrotado pelo atual presidente, Rui Falcão, que foi reeleito. Pretende se candidatar novamente em 2017?
2017 está longe, temos que pensar o PT agora.
Alguns petistas, como o senador Paulo Paim, foram contra a forma que o governo aplicou o ajuste fiscal, afirmando que as medidas iam contra bandeiras históricos do partido em defesa dos trabalhadores. Qual sua opinião?
Primeiramente, todos os que se pronunciarem com uma preocupação à manutenção do emprego, aos trabalhadores, são preocupações legítimas e que fazem parte da história do partido. Ruim seria se eles não se pronunciassem. A segunda questão é que eu acho nós estamos num momento muito difícil da economia, e nesse momento difícil, em que há confluência de diversos fatores: diminuição no preço das commodities, a crise nos países para os quais nós exportávamos, a sobrevalorização do dólar, o excesso na política anticíclica, na política de benefícios, a seca, todos esses fatores repercutiram muito na economia. Isso requereria um reequilíbrio das contas públicas.
Na nossa opinião, esse reequilíbrio tem que passar por uma revisão, porque todo esforço está sendo feito, mas achamos que tem que mudar a meta do superávit primário, tem que paralisar a elevação da taxa de juros, tem que lançar um amplo programa de proteção do emprego e também taxar o andar de cima, através da taxação das grandes heranças e de grandes fortunas. A nossa proposta é exatamente essa: taxar o andar de cima. De certa forma, uma parte dessa taxação está havendo, baixando o lucro dos bancos, tirando a desoneração que foi dada em excesso, mas temos que ampliar.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, disse essa semana que o ex-presidente Lula não está sendo investigado “neste momento”, o que significa que pode vir a ser.
Eu acho, primeiro, que a Lava Jato está expressando uma série de aberrações jurídicas, a iniciar por essa fala. Quando ele fala “ainda” não está sendo investigado… Ora, por que? Quer dizer, ele está falando do desejo dele? Em segundo lugar, eles estabeleceram mecanismos arbitrários: invadir escritório de advocacia, as prisões provisórias, o objetivo de ir perpetuando essas prisões, de temporárias querem estender Ad infinitum, os vazamentos seletivos e inclusive o desplante de falarem da saúde financeira e de as empresas não poderem participar de programas de concessão. Então eu espero que o STF possa limitar esses abusos que estão sendo cometidos no âmbito da operação Lava Jato.
O procurador diz ainda que a investigação irá durar mais dois anos, ou seja, até 2017, na antevéspera das eleições presidenciais…
Então, eu creio que ele extrapola e parece que ele tem aí um roteiro de estender Ad infinitum essa investigação. Eu acho que está faltando a esse procurador o devido recato que a função dele requer.
Em sua opinião, existe uma campanha contra o ex-presidente, como disseram recentemente os senadores do PT em um manifesto?
Eu acho que é inaceitável hoje querer criminalizar o ex-presidente Lula pelo fato de ele ter apoiado as empresas brasileiras no exterior. Enquanto ele apoiou as empresas, nós temos políticos que ajudaram a vender as nossas para companhias estrangeiras. Então ele fez o mais correto. Por isso são inaceitáveis esses vazamentos seletivos que buscam desgastar o ex-presidente Lula. Então toda a nossa solidariedade ao ex-presidente Lula.