Haddad: Limite de gastos proposto por Temer é PEC da desigualdade

Em debate, Fernando Haddad, Marcio Pochmann e Renato Rabelo avaliam impactos do golpe em investimentos sociais

Foto: Paulo Pinto/AGPT

O Brasil enfrenta um período de ameaças aos direitos sociais e trabalhistas, analisa o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ao debater com o economista e candidato à prefeito de Campinas, Marcio Pochmann (PT). Além dos dois, estava presente o presidente da Fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo.

O evento aconteceu na quinta-feira (25), no Centro de Mídia Barão de Itararé, no momento em que o Senado faz o julgamento da presidenta Dilma Rousseff. Para os três debatedores, é consenso que a há um golpe em curso, ameaçando direitos conquistados ao longo do processo de redemocratização do país.

Segundo Haddad, é equivocado o argumento de que, diante de uma recessão econômica, o caminho é fazer cortes orçamentários que comprometam investimento sociais em setores como saúde, educação e habitação.

Na avaliação do prefeito, a “PEC 241 é um assassinato de Constituição de 88”. Ele se referia à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, defendida pelo governo interno de Michel Temer, com objetivo de limitar gastos em saúde e educação por 20 anos. Este texto já foi apelidado de “PEC da desigualdade”.

Debate "A Cidade que você não vê na Mídia" no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (Foto Paulo PInto/AGPT)

Debate “A Cidade que você não vê na Mídia” no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (Foto Paulo PInto/AGPT)

“A retórica de sempre é de que a Constituição de 1988 não cabe no orçamento. Ora, depende do modelo de sociedade que se deseja (…) Mesmo em recessão econômica, o poder público pode, sim, priorizar demandas sociais”.

“Ninguém no andar de cima está disposto a bancar a dinâmica de inclusão iniciada em 2003”, disse. Por isso, o contexto político atual exige reflexão e engajamento. “Não sabemos o que ocorrerá entre 2016 e 2018, mas não podemos colocar a perder o que centenas de milhares de brasileiros lutaram para conquistar nos últimos anos”.

Haddad falou sobre o golpe contra a presidenta Dilma e reforçou a necessidade de discutir o que está em jogo. “ A mídia cumpre papel crucial”.

“Há uma longa história de golpes à democracia e à Constituição no Brasil e é preciso discutir essa nova forma de golpe em curso”, aponta. “Quando você fala palavras de ordem na periferia, nem sempre elas são entendidas. Mas o ‘Fora Temer’ todos entendem”

“O que ocorre no país pode minar iniciativas fundamentais para redescobrir o potencial das cidades em relação à transformação social”. Para ele, o poder público deve liderar o debate sobre saúde, a educação e cultura porque, com o golpe em curso no país, existe o risco de os interesses privados se apropriarem desta discussão.

Já Pochmann afirmou que este momento não é apenas da disputa eleitoral nos municípios, mas principalmente uma oportunidade para construir uma visão mais ampla das cidades. Para o candidato, acontece um esvaziamento do debate e em decadência do modo de pensar as políticas locais.

Foto: Paulo Pinto/AGPT

Foto: Paulo Pinto/AGPT

“Qual é o papel dos políticos nessas circunstâncias? Como criaremos mecanismos de participação e empoderamento?”, questionou. “Essa decadência, em minha opinião, deriva em grande parte do papel cumprido pela mídia hegemônica”.

Pochmann citou alguns fatores que devem ser considerados para pensar a organização dos trabalhadores e viabilizar um projeto revigorado para a esquerda brasileira como, por exemplo, transição demográfica, mudanças na estrutura familiar e emergência de uma classe trabalhadora ligada à área de serviços, bastante diferente do operariado tradicional.

Renato Rabelo argumentou que o golpe em curso no país tem como objetivo restaurar a velha ordem política. “É impressionante a velocidade em que se está conduzindo o desmonte do país. Rasgaram a Constituição em menos de 100 dias”.

Para ele, a esquerda precisa de unidade para repensar o seu projeto tendo em vista a experiência vivida nos últimos anos. “Que país queremos construir? Temos de ter isso claro”, disse. “Vitórias da esquerda nas eleições municipais é um caminho importante para resistir ao período que se avizinha”.

Por Daniella Cambaúva da Agência PT de Notícias

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