Pedro Henrichs: Carta da Aliança pela Vitória
Companheiros/as, O PT é um partido relativamente jovem, que surgiu da união de trabalhadores/as, sindicalistas, estudantes, intelectuais, artistas, pessoas ligadas às igrejas e pastorais, aos movimentos sociais e aos movimentos…
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Companheiros/as,
O PT é um partido relativamente jovem, que surgiu da união de trabalhadores/as, sindicalistas, estudantes, intelectuais, artistas, pessoas ligadas às igrejas e pastorais, aos movimentos sociais e aos movimentos de bairros, que viram na criação de um partido identificado com a classe trabalhadora a esperança de um novo modelo de país, mais justo, mais democrático, mais igualitário. Ao longo dos seus 35 anos de existência o Partido dos Trabalhadores experimentou uma Ditadura, a volta da Democracia e está a 13 anos governando o país. Passamos por uma crise em 2005, com a farsa do julgamento da AP 470, que não foi devidamente resolvida internamente e junto à população e vem desde então ganhando massa e voz nos grandes meios de comunicação.
Mas apesar de ser um partido considerado jovem, com apelo popular e grandes realizações para o país, o PT não conseguiu fazer sua transição geracional nem garantir este importante debate para dentro do partido. Apesar de ter aprovado que um percentual de jovens tenha participação nas direções partidárias em todos os níveis, além da candidatura às Câmaras, o PT não internalizou de fato o debate sobre a juventude. Talvez por conta de não ter tornado intrínseco este debate, não tenha acompanhado os debates da juventude nas ruas, principalmente as realizadas nas Jornadas de Lutas e nas Jornadas de Junho, em 2013; dos rolezinhos, em 2014. Apesar de ter conseguido conquistar uma gama de jovens durante o período eleitoral de 2014, o PT hoje, por suas posturas e decisões políticas no âmbito do Governo Federal, não detém mais a simpatia dessa população, que vem se simpatizando com partidos como PSDB e PSOL, como apontam pesquisas recentes.
Claro que os/as militantes do partido reconhecem que as grandes mudanças ocorridas no país nos últimos anos são fruto do trabalho exaustivo que o PT vem fazendo ao longo de mais de uma década no poder, do número de concessões que foram feitas para que o projeto democrático-popular fosse vitorioso e assim ganhássemos as eleições por quatro mandatos consecutivos. Mas questionam que durante este tempo não foi possível ao PT, por falta de iniciativa ou pelas alianças que teve que criar, fazer as mudanças estruturantes preconizadas em desde sua fundação, o socialismos petista, como as grandes reformas (política, agrária, meios de comunicação, tributária, etc), e que a falta de ousadia em se construir um debate de classes junto à sociedade sobre os grandes temas do Brasil, colocando em risco todas as conquistas realizadas nos últimos anos.
Não conseguimos construir um diálogo que gerasse a mudança de valores e de cultura com as novas gerações e classes sociais. A nossa sociedade não associam a sua melhoria de vida ou acesso a bens e serviços como um plano de governo, fruto de um programa de esquerda e sim que toda a melhoria é fruto do seu esforço pessoal. Nossos jovens de hoje não sabem o que foi o governo FHC e não entendem este tipo de comparação.
Acreditamos que os jovens são elementos centrais para o desenvolvimento do país e que devemos pensar em soluções e respostas para este grande contingente populacional, como o direito à cidade e tudo que este conceito agrega, como educação, moradia, mobilidade, emprego, sustentabilidade, segurança, justiça ambiental e direito à cultura, celebração, descanso e espaços públicos. Esta é a agenda que compete aos jovens brasileiros e a juventude do PT, que deve dar resposta a estes anseios e ajudar a construir um movimento de pertencimento à cidade.
Para tanto, precisamos recompor o campo democrático e popular. Precisamos dar continuidade à aproximação que tivemos durante a campanha de 2014, quando tivemos uma guinada à esquerda e trouxemos muitos jovens para perto. Precisamos fazer um chamamento responsável para uma defesa da esquerda ante aos ataques golpistas da Direita e dos grandes meios de comunicação. Precisamos construir um debate que unifique, não que divida o país. O único modo de se construir unidade é por meio da classe trabalhadora.
Devemos ainda construir um debate de esquerda com os países irmãos sul-americanos, que vem sofrendo os mesmos ataques que o nosso; e os parceiros dos BRICS, aonde juntos protagonizamos uma nova ordem econômica. O PT precisa mudar suas diretrizes internas e ampliar o diálogo com a juventude, seja ela partidária ou não. O PT precisa congregar as tarefas políticas, eleitorais, organizativas e programáticas para sobreviver aos ataques que vem sofrendo e que vão se intensificar. Precisa entender e desenvolver seu papel enquanto Partido, enquanto Movimento Social e enquanto Governo, sem uma anular ou sobrepujar a outra.
O PT precisa ouvir sua juventude e investir em comunicação, rápida, de massas, de rede. O PT precisa ter um diálogo mais aproximado com suas bases e respostas mais rápidas para as mentiras da Direita. Precisa de uma formação que atraia os jovens, que fale sua língua, que tenha história do país e da esquerda, mas que tenha também internet, cultura, arte, grafite, debates, cineclubes e oficinas. Precisa criar espaços em todos os estados que abrigue jovens de outros estados e países para um intercâmbio cultural, político e de esquerda. Precisa se reorganizar internamente para atrair essa nova juventude e dar conta dessa agenda estratégica colocada em âmbito nacional e internacional. Precisa fazer a transição geracional e preparar seus quadros jovens para assumirem o Partido e o comando das cidades, estados e do país. Precisa auxiliar seus quadros jovens a dialogarem com esses jovens e trazê-los para junto do projeto. Precisa empoderar seus jovens e dar tarefas transformadoras no âmbito do partido e do Governo.
Muitos/as militantes esperavam que o 5º Congresso dessem respostas efetivas para os ataques que estamos sofrendo. Que o Partido rediscutisse sua organização interna, sua política de alianças e o financiamento de campanhas, que é a marca mais brutal de capitalismo, que alija os menos favorecidos do processo de representação do povo brasileiro, principalmente os jovens de periferia. Esperava-se que fossem criticadas as medidas adotadas pelo Governo Federal, do PT, para controlar a economia, mexendo nos direitos dos/as trabalhadores/as, sendo que os mais afetados serão os jovens. A militância pediu o contraponto, a taxação das grandes fortunas, das grandes heranças, o imposto sobre os dividendos, entre outras estratégias que visam proteger a classe trabalhadora, aprofundar o equilíbrio social no país e assim continuar com o crescimento do Brasil, a quinta maior economia do mundo.
Em relação aos jovens, a única coisa ventilada no 5º Congresso que dizia respeito à juventude era se deveriam acabar com as cotas, já que na visão de alguns, abrir espaço para jovens, mulheres e negros/as foi o que levou o Partido para a situação atual. Não foram discutidas as cotas, assim como não foram discutidos os temas que o Partido deve ter como prioridade com a juventude, como o preconceito geracional, de gênero e raça, não se discutiu a criminalização da homofobia, a legalização da maconha, o aborto (ou estatuto do nascituro), a reforma política constituinte, a desmilitarização da polícia, o fim do extermínio da juventude negra (fim dos autos de resistência).
Claro que temos responsabilidade com o que já foi feito até agora em relação às políticas públicas de juventude, que se iniciaram no Governo Lula em 2003, como a criação da Secretaria Nacional de Juventude, o Conselho Nacional de Juventude, a aprovação do Estatuto da Juventude, as Conferências Nacionais de Juventude, os programas ProJovem (Adolescente, Urbano, Trabalhador e do Campo) e Juventude Viva. Outros Programas que não foram direcionados para a Juventude, mas também ajudaram foram o Bolsa-família também auxiliou a juventude, à medida que ampliou o direito para famílias com jovens em idade escolar, auxiliando na briga pela diminuição da evasão escolar; o PRONATEC, que auxiliou na formação profissional de milhares de jovens; o ProUni, Fies e o Ciência Sem Fronteiras, que impulsionou o ingresso de jovens no ensino superior .
Porém, mesmo com essas iniciativas, com a falta do entendimento da importância do tema para a transição geracional do país e com a falta de recursos, ficou deficitária a criação de espaços (Núcleos, Departamentos, Secretarias), a articulação e implementação de políticas públicas de juventude no âmbito municipal, estadual e nacional, de modo que a maioria da população jovem do país não sabe da existência da SNJ e tampouco sentiria alguma mudança em sua vida se ela deixasse de existir e as políticas do município ou do estado deixassem de ser interligadas. Mas o que se pergunta aos gestores de PPJ e ao PT é qual caminho seguir a partir desse conjunto de direitos que a juventude precisa ter e como responder às demandas, as manifestações? Como gerar oportunidades para os/as jovens do campo e da cidade, combater a violência contra mulheres, contra jovens LGBTs e contra jovens negros/as? Como garantir mais direitos e oportunidades, mais educação, mais trabalho decente, mais tempo de lazer?
O primeiro entendimento que temos é que cabe à juventude do maior partido de esquerda da América Latina se organizar melhor internamente, com autonomia dos mais velhos, para pensar e colocar em prática soluções para todas as questões que estão colocadas. Cabe à juventude do PT se organizar com as juventudes progressistas e dar respostas aos jovens brasileiros/as. Cabe à Juventude do PT ampliar o debate com as juventudes dos outros países e pensar em uma integração de fato, em uma agenda permanente, em um legado.
Principalmente no âmbito internacional, avaliamos que todos os avanços tidos, todas as relações construídas no período foram mais diplomáticas do que práticas. Para o próximo período devemos fortalecer e ser protagonistas no Fórum de Juventude dos BRICs e construir um Fórum de Articulação da Juventude da Unasul, com espaço virtual para troca de informação, formação e publicações, e um Festival da Juventude da Unasul, a cada dois anos, para troca de experiências políticas, culturais, gastronômicas, entre outros. Dentro desta perspectiva, é fundamental o intercâmbio militante entre a JPT, o La Campora, o Geração Evo, o JPSUV, o JFrente Amplio e a JAliança País. Assim como a construção de jornadas solidárias, para que possamos colocar em prática o discurso da integração.
A juventude passa muito rápido e as mudanças na concepção dos jovens é muita rápida também. Desse modo, a gestão deve ter um tempo limite, para oxigenar e otimizar o diálogo com a base. Não podemos replicar internamente as práticas que criticamos nas direções, aonde a mesma figura se perpetua no espaço de poder, não abrindo espaço para novos militantes também darem sua contribuição na construção deste partido. Desse modo, entendemos que a gestão da direção da juventude do PT tem que ser de no máximo dois anos, contemplando a paridade, a diversidade étnico-racial e a regionalidade. A nova gestão deve encarar o desafio de ser protagonista da sua própria história, principalmente em um momento tão delicado para o partido, para a democracia e para o país. Deve ter uma comunicação rápida, dando especial atenção às redes sociais. Deve ser dinâmica, descentralizada e organizada em todos os locais aonde tiver um diretório. Deve ter interação, diálogo e articulação política, principalmente com os movimentos sociais de juventude e movimentos juvenis.
A Juventude do PT existe não apenas para abrigar jovens petistas, mas para preparar as futuras lideranças para assumir este Partido e as tarefas inerentes a essa responsabilidade, dando continuidade ao PT e ao projeto de país idealizado em sua criação. O PT precisa entender que a juventude que se coloca não se dispõe a ocupar um espaço apenas para cumprir cota ou perpetuar algum líder, mas sim para ser protagonista das mudanças que o Partido precisa. A JPT existe para dar aos jovens brasileiros um programa voltado para eles, que responda seus anseios e sonhos. O PT precisa compreender que existe uma parcela da população no nosso país e na América Latina que precisa de um debate específico, reconhecendo sua condição juvenil e dando vazão às suas demandas.
Precisamos reconhecer que as gestões da JPT não tem um funcionamento regular capaz de dar respostas às grandes demandas da juventude, às manifestações ou a massacres sofridos pelos/as jovens, muitas vezes pela polícia em Estados que o PT governa, em nenhum nível. Precisamos reconhecer que muitos/as Secretários eleitos/as no último mandato são Secretários/as proforma, burocráticos, embaixadores. Precisamos reconhecer que faltou nas últimas gestões formações específicas, maior aproximação da Direção Nacional com os Estados e uma comunicação mais eficaz, um site em que os/as jovens pudessem buscar informações e não fosse apenas a opinião do/a Secretário/a, sem um debate com o conjunto da militância.
Reconhecemos, claro, dos esforços das últimas gestões com a organização dos I e II Congressos da JPT; das campanhas de juventude nacionais em 2006, 2010 e 2014; da participação em debates e Fóruns Internacionais; da organização e participação nos Congressos da UBES e da UNE; e da gestão da Secretaria Nacional de Juventude. Mas entendemos que falta recurso para ações mais concretas, falta uma organização mais dinâmica e menos centralizada na figura do/a Secretário/a, que representa o PT para dentro e para fora, rodando os Estados e dialogando com o Governo e os movimentos sociais. Falta liberação dos/as nossos/as jovens que disponibilizam o nome para ser Secretários/as. Falta reconhecimento por parte da Direção Nacional da importância desse debate.
No âmbito da comunicação, faltou informações sobre as agendas realizadas pelo/a Secretário/a em nome da JPT, tanto nacional, quanto estadual e municipal. Faltou um site integrado, com matérias pertinentes, artigos e informação dos Estados, dentro do Estado a informação dos municípios. As caravanas quando realizadas foram insuficientes. A JPT entrou na lógica do PT e prioriza o debate somente em momento eleitoral, não tendo feito uma discussão qualificada das Jornadas de Junho ou dos Rolezinhos. Desse modo, a JPT aparece e se organiza para a construção dos programas de governo e nos encontros que antecedem os Congressos da JPT ou da UBES e UNE. Mesmo assim, de maneira setorizada, aonde cada corrente tenta garantir o seu quinhão e não há o pensamento coletivo no conjunto da Juventude do PT. Não há um debate constante com os movimentos sociais e se ele acontece, não é publicizado.
Precisamos repensar essa lógica de fazer política e continuar nos organizando todos os dias, em todos os espaços que estamos inseridos e não apenas nos espaços juvenis. “O PT é mais que um partido, é consequência do sonho da classe trabalhadora brasileira”, afirmou Lula na abertura do 5º Congresso. Nos atrevemos a dizer que o PT e a Juventude do PT são mais do que isso, são a construção diária de um projeto de nação, um projeto socialista de nação. Para tanto, precisamos dar a devida atenção às nossas relações com a juventude brasileira, com as juventudes organizadas, com nossas relações internacionais, com os movimentos sociais e, principalmente, com todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, principalmente os/as jovens. Precisamos retomar nossa capacidade de fazer política cotidiana, nossa independência frente ao Governo e ser muito mais proativo no enfrentamento das acusações de corrupção, indo para cima e conquistando com ideias, postura e trabalho cada vez mais simpatizantes.
Viva ao Partido dos Trabalhadores! Viva a Juventude do Partido dos Trabalhadores! Viva a Pátria Grande!
Pedro Henrichs é presidente do Fórum da Juventude dos BRICS, secretário-adjunto JPT DF, CNB e pré-candidato à Secretaria Nacional da Juventude do PT