Policial militar é suspeito de ser o mandante de estupro coletivo no Piauí
Defensoria Pública do Piauí pede absolvição dos três adolescentes acusados de envolvimento no caso
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Uma reviravolta nas investigações sobre o estupro coletivo de quatro meninas em Castelo do Piauí (PI) pode absolver os adolescentes acusados pelo crime. De acordo com notícia divulgada na segunda-feira (10) pelo programa local “Bancada do Piauí”, da afiliada da Rede Record Antena 10, o policial militar Elias Júnior seria o mandante dos atos de violência.
Segundo reportagem da jornalista Maria Carolina Trevisan, publicada no site Jornalistas Livres, o policial teria pago R$ 2 mil para que G., um dos adolescentes acusados de envolvimento, cometesse o estupro. O jovem foi morto dentro do centro de internação para cumprimento de medidas socioeducativas.
“Ele queria que nós ‘fizesse’ um crime lá em Castelo que nunca foi feito. Todo crime lá em Castelo sempre é descoberto. Ele pensou assim, ele vai preso, vai pro CEM, morre lá e eu fico de boa com meu dinheiro”, revela G. em uma conversa gravada com um funcionário do centro de internação, divulgada pelo programa de TV.
De acordo com o jovem, o mandante do crime teria prometido ainda a contratação de um advogado para o adolescente.
Elias Junior foi afastado da corporação e se encontra à disposição da Corregedoria. A Defensoria Pública do Estado pediu a absolvição dos três adolescentes envolvidos no caso e do adulto, que até a denúncia era considerado o mandante do crime.
A tragédia aconteceu no fim de maio e causou comoção em todo o País. Quatro meninas foram estupradas, supostamente, por quatro adolescentes e um adulto. Uma das meninas faleceu depois da agressão.
“Nos primeiros dias após as agressões, os meios de comunicação nacionais silenciaram. Era como se o que acontece em um rincão do Piauí não tivesse suficiente interesse para seus leitores e espectadores. Mas a participação de adolescentes como agentes das agressões dias antes de a Câmara dos Deputados votar a redução da maioridade penal chamou a atenção da imprensa nacional”, denuncia Trevisan.
Para a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), o destaque da mídia para crimes cometidos por adolescentes é desproporcional. “Há sempre uma espetacularização quando há adolescentes envolvidos em atos que provocam comoção nacional”, explica.
O caso de Castelo do Piauí foi utilizado para fortalecer o sentimento de vingança que envolve o apoio à redução da maioridade penal.
A deputada defende o endurecimento da pena para quem alicia adolescentes. “Justamente porque não querermos que adolescentes sejam aliciados por adultos que somos contra a redução”, explica.
O envolvimento de um policial militar torna a denúncia ainda mais grave. “O caso é muito grave porque, ao que tudo indica, há a orquestração desse crime contra as meninas de uma pessoa que deveria proteger o conjunto da sociedade. A farda não pode ser salvaguarda para a violação de direitos”, afirma.
“Quando houve o recrudescimento penal para pessoas que provocaram lesão corporal ou crimes contra agentes públicos, não conseguirmos que agentes públicos também tivessem punição ampliada quando cometerem os mesmos atos contra qualquer pessoa. Essa era a proposta original”, explica.
De acordo com a parlamentar, a Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher havia marcado a realização de uma audiência pública em Castelo, para este sábado (15). “Vou solicitar que imediatamente possamos retomar a diligencia, para exigirmos da Secretaria de Segurança a investigação e a punição dos responsáveis”, informou.
Mídia tendenciosa – Para a jornalista e integrante do Coletivo Intervozes, Bia Barbosa, o silêncio da chamada grande imprensa sobre o possível envolvimento de um PM é reflexo da concentração dos meios de comunicação.
“O fato de não termos uma diversidade de veículos e vozes faz com que questões estratégicas que mudam a abordagem de um fato e poderiam mudar a opinião pública brasileira para uma determinada questão deixe de ser notícia”, analisa.