Por que as pessoas acreditam em fake news?
Quando alguém recebe uma mensagem que gostaria que fosse verdade, espalha a desinformação, mesmo sem saber que é mentira – ou mesmo sem questionar. Mas não se esqueça: quase sempre, quem criou essa mensagem sabia de sua falsidade.
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Uma mentira chega seis vezes mais rápido a 1500 usuários do que uma notícia verdadeira. A conclusão do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) indica o estrago que a desinformação pode causar. Mas também levanta outro questionamento: por que o que é falso se espalha mais que a verdade? A resposta passa não só por robôs, mas sim por algo bem humano: as emoções e crenças despertadas. Por isso, é sempre bom prestar atenção às reações que a notícia lhe causa antes de checá-la e espalhá-la.
Aquilo que é aparentemente novo, inusitado, divulgado como uma bomba, que “a imprensa quer esconder”, que os acusados querem tirar do ar, tem grande chance de ser compartilhado. O mesmo estudo do MIT, realizado em 2018, verificou que as fake news geram surpresa e indignação. São dois sentimentos que movem as pessoas a, no impulso, divulgar a informação e a compartilhar o sentimento de revolta, mobilizando.
Há ainda um outro fator importante: a tendência que o ser humano tem em buscar e dar mais ouvidos a informações que estejam de acordo com aquilo que ele ou ela já acredita. E não importa se é verdade ou não. A psicologia estuda isso desde os anos 1970 e concluiu que visões opostas podem encontrar formas de basear suas crenças a partir de um mesmo conjunto de evidências. Romper com aquilo que já conhecemos nos tira da zona de conforto e muitos optam por aceitar o que é falso para não chocar-se com suas próprias crenças.
Quando alguém recebe uma mensagem que gostaria que fosse verdade, espalha a desinformação, mesmo sem saber que é mentira – ou mesmo sem questionar. Mas não se esqueça: quase sempre, quem criou essa mensagem sabia de sua falsidade.
Entra aí uma característica identificada em diversas desinformações contra o PT. Há muito tempo, quando o PT sequer existia, vem se construindo crenças que atacam, sem qualquer base na realidade, a esquerda. Não há nada que possa associar, por exemplo o PT à pedofilia, ao narcotráfico, ao incesto, a uma (inventada) “ditadura gay” ou à perseguição religiosa. Tratam-se de crenças, sem qualquer ligação com a realidade, que se formaram ao longo de décadas de desinformação, e que surgem como o gatilho que faz com que as pessoas acreditem em muitas das fake news.
Vimos claramente isso em 2018, com a vinculação de Haddad à pedofilia, ao incesto, ao “kit gay” e à “mamadeira de piroca”. Dilma, da mesma forma, fora falsamente classificada como abortista ou homossexual, com o objetivo de desmoralizá-la com base em ideias preconceituosas. Já Lula, em 1989, foi chamado pela ex-namorada, patrocinada por Collor, de racista e abortista. Além disso, foi acusado de perseguir igrejas e de adultério.