PT 34 anos: Discurso do presidente Rui Falcão no ato comemorativo em São Paulo
“Nascemos e crescemos ajudando a fazer democracia no Brasil”
Publicado em
Leia a íntegra do pronunciamento do presidente nacional do PT, Rui Falcão, no ato comemorativo dos 34 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores, realizado na segunda-feira (10), em São Paulo: Companheiros e companheiras, No dia de hoje, em cada região do País, há uma estrela vermelha estampada na bandeira nacional. É o símbolo da contribuição do PT à democracia e ao desenvolvimento do nosso querido Brasil na data em que completamos 34 anos. Não foi fácil chegar até aqui. É bom que as novas gerações saibam: este fato histórico ficará gravado para sempre em nossa memória, com o sangue de muitos combatentes. Heróis que, antes e também durante a construção do PT, doaram suas vidas em prol de uma causa, de um sonho, de um ideal apaixonado: a causa da liberdade, da igualdade, da fraternidade – síntese, para nós, do projeto de uma sociedade socialista. Nascemos e crescemos ajudando a fazer democracia no Brasil. Desde as campanhas pela anistia, pelas eleições livres e diretas, pelo direito de greve, na criação da Central Única dos Trabalhadores, em defesa da reforma agrária – enfim, empunhando as bandeiras de luta dos movimentos sindical e popular, cuja autonomia e independência nunca deixamos de respeitar. Nosso compromisso radical com a democracia fez com que o PT inscrevesse, entre seus valores fundantes e no Estatuto, a garantia do direito de tendência, moldando uma organização que forja a unidade de ação no convívio com a diversidade. Aí onde nossos inimigos veem fraqueza é aí que reside a nossa força! Somos, como já disse uma vez o companheiro Luís Dulci, a síntese de múltiplas tradições libertárias. Instituímos entre nós as eleições diretas para a escolha das direções – um processo que carece de mudanças e aperfeiçoamento – e, desde o último PED, a paridade de gênero, a presença igualitária de homens e mulheres nos organismos dirigentes, virou realidade no PT! Da mesma forma, fixamos as quotas étnico-raciais e a porcentagem mínima de 20% de jovens em todas as instâncias, para estimular a participação da juventude e a necessária renovação de quadros no partido. Companheiros e companheiras Do ponto de vista do tempo histórico, o PT é um partido jovem. Sob a liderança inspirada do ex-presidente Lula, a semente do partido foi plantada nos estertores do golpe civil-militar de 1964, cujo cinquentenário será lembrado — e exorcizado — este ano para que esta afronta à democracia e ao povo brasileiro nunca mais se repita. Tem razão o presidente Lula quando afirma que o PT é um dos maiores partidos de esquerda do mundo. E, não só ele, mas cada um de nós, ao fitar a estrela vermelha –- nossa marca inconfundível – pode bradar, com orgulho: eu sou militante do PT! Ao fazer 34 anos, o PT comemora também os primeiros 11 anos à frente do governo do País, depois de haver vencido três eleições consecutivas. Na primeira, em 2002, quando o voto popular colocou, pela primeira vez na história, um operário na Presidência da República. Reeleito Lula, foi a vez de sucedê-lo uma mulher guerreira, de tradição revolucionária, a nossa companheira de lutas, a presidenta Dilma Rousseff. Companheiros e companheiras Hoje é um dia de lembranças e comemoração. Mas é, também, o início de uma grande jornada. Uma caminhada cheia de percalços e obstáculos a suplantar, e com um objetivo inarredável: reeleger a presidenta Dilma Rousseff, para consolidar e fazer avançar o projeto de transformações econômicas, sociais, políticas e culturais iniciado pelo presidente Lula em 2003. Pelo que tenho visto nas minhas viagens Brasil a fora — e pela animação da caravana Horizonte Paulista do Padilha sábado passado em Ribeirão Preto –, a disposição da militância é insuperável. O entusiasmo, a energia, a convicção, o compromisso manifestados por vocês, militantes, contribuem fortemente para criar condições, na sociedade, nos governos estaduais e nos parlamentos de modo a que a companheira Dilma possa vencer de novo. Ganhar no voto e realizar um segundo governo com novas e maiores conquistas para o povo brasileiro. Companheiros e companheiras Em meio a condições difíceis, o governo do presidente Lula realizou uma exitosa transição entre um Brasil paralisado e descrente de si mesmo, para um novo país com forte autoestima e admirado pelo mundo. O governo Dilma herdou este legado bendito e o fez prosperar. Deu continuidade, com avanços, à obra inaugurada pelo presidente Lula. Por isso, pelas suas qualidades, pelo seu trabalho, e com ampla aprovação popular, tem todas as credenciais para ser reconduzida. Sabemos que a população quer mudanças – e as jornadas de junho de 2013 mostraram isso. Mas quer mudanças com Dilma, pois não se deixa seduzir por aqueles que falam em mudar, mas nada acrescentam de verdadeiramente novo ou criativo. Muda o Brasil não é quem diz, mas é quem sabe fazer! E nossos governos fizeram, estão fazendo e vão fazer muito mais e melhor para a população. Porém, para vencer as eleições, é fundamental, agora e durante a campanha, estreitar os vínculos com os movimentos popular e sindical; ampliar e fortalecer as relações com os partidos da base de sustentação do governo; intensificar o diálogo com a juventude, bem como apresentar um programa capaz de corresponder às aspirações, reivindicações, sonhos e expectativas da sociedade. Companheiros e companheiras O cenário atual é de afirmação e perspectivas de crescimento para a presidenta Dilma, líder nas pesquisas e com índices de aprovação positivos. Entretanto, constitui grave equívoco imaginar que a eleição está resolvida. É preciso trabalhar para que a tendência se mantenha, sem soberba, sem arrogância e sem subestimar os adversários, numa batalha renhida, contra forças conservadoras e poderosas. Nossos oponentes desencadearam contra o governo e o PT uma campanha sórdida, amparada por uma certa mídia ligada estreitamente aos partidos da oposição. É uma campanha voltada para semear a insegurança, a incerteza, o pessimismo e até o medo entre o povo. Promovem verdadeiras ações de terrorismo psicológico, um enorme tsunami de boatos, esperando assim nos bater nas urnas. Porém, como de outras vezes, o eleitorado não vai se confundir, nem se deixar iludir. Companheiros e companheiras De um lado, temos o PT, o governo e uma presidenta que seguem sempre em frente, sempre à frente, com novas respostas para os problemas brasileiros. Do outro lado, temos dois grupos, que de tanto se enrolar em suas mesmices, parecem ser o que realmente são: partes de um mesmo corpo. Um corpo cujos pés não obedecem a cabeça e que o faz caminhar de forma errática, perdido em labirintos por ele mesmo criados. Um de seus braços eu chamo de “neopassadismo”. E o outro, é algo tão politicamente obtuso, que só um neologismo pode defini-lo. Passo a chamá-lo de “novovelhismo”. O neopassadismo e o novovelhismo parecem farinha do mesmo saco. Assemelham-se em quase tudo. Apresentam, como se fossem soluções profundas e inovadoras, remendos, mal colados, no que já está sendo feito. Cansam-nos com a repetição enfadonha de fórmulas vazias. O neopassadismo e o novovelhismo só se diferenciam na exibição de seus personagens e na algazarra de suas minúsculas plateias. Porque o conteúdo, e até muito da sua forma e de suas formulações, são idênticos. Como não tem quadros modernos, o neopassadismo quer trazer alguns dinossauros de volta. Aqueles mesmos dinossauros que o povo tem enxotado, seguidamente, pelo voto. A maioria destes dinossauros foi soterrada pela história. Mas o neopassadismo insiste no seu retorno. Não os identifico aqui, nem menciono seus nomes em respeito aos que nos ouvem. Já os novos-velhos, ou falsos novos, pensam que com discursos fáceis serão capazes de mudar o Brasil e de fascinar os brasileiros. Como já disse antes e repito agora, muda o Brasil não é quem diz, é quem sabe fazer! Muda o Brasil quem tem propostas e coragem para governar para todos! Muda o Brasil quem está tocando a maior obra transformadora da nossa história moderna! Muda o Brasil quem está, sempre esteve, e sempre estará do lado certo! Do lado do povo. Da boca deles, quando ouvimos que o novo, é o novo, apenas enxergamos a mais patética, dramática e caquética cena da velha política. O que chamam de “novo” é cobrir de paetês velhas oligarquias e falsas alegorias? O algo “novo” é ser um herdeiro que não ampliou a herança? O algo “novo” é ser caudatário… E se dizer nascente? Companheiros e companheiras, Pergunto ao Brasil e espero com paciência a resposta: o que de verdadeiramente original eles fizeram, durante décadas, em seus estados? O “algo novo” é, por acaso, o nepotismo? O algo “novo” é, por exemplo, passar a chamar de loteamento de cargos a experiência democrática do governo de coalizão – que eles mesmos praticaram e praticam com afinco, desenvoltura, e, eu diria, quase com despudor? O algo “novo é pedir redução de gastos, mesmo sabendo que isso significa diminuir os programas sociais, cortar profissionais de saúde, da educação e da segurança”? O algo “novo” é o esmagamento, soturno e sorrateiro, da imprensa livre em seus estados? O algo “novo” é o consórcio de empresas amigas loteando obras em seus territórios? O algo “novo é privatizar para se beneficiar”? O algo “novo” é fechar os olhos para o cartel dos metrôs, para a corrupção nos trens? O algo “novo” é fechar os olhos, e, quem sabe até, esquecer-se de tapar o nariz, para carregamentos exóticos em helicópteros? O algo “novo” é inventar um tal “choque de gestão”, que não trouxe eficiência, nem economias, ao estado? Companheiras e companheiros, O PT ganhou e consolidou seu projeto através de muita luta, mas também do entendimento e da negociação democrática. Trocamos a intransigência pela paciência madura. Vamos continuar governando com paz e equilíbrio. Vamos continuar fortalecendo as instituições e as regras da democracia, que pretendemos aprofundar com a reforma política e a regulação constitucional da mídia. Mas que ninguém se engane. Fica aqui o nosso alerta: o PT não nasceu para apanhar calado. Não vamos levar recado para casa nem virar o saco de pancadas da Nação! Sim, porque parece que bater no PT virou mania e obsessão em certos setores frustrados da sociedade. Não basta o coro histérico de determinada imprensa; ou a obsessão neurótica e injusta de certos setores empresariais. Somos obrigados, agora, a assistir ao absurdo de ver membros da mais alta corte do país que prejulgam insultando; suspeitam caluniando; e agridem, com uma gratuidade tão espantosa que parece estarmos vivendo em outro país. Uma corte não é um partido político, nem uma torcida organizada. Se ela começa a se transformar nisso, pode vir, até mesmo, a instaurar um novo tipo de terrorismo de estado. O membro de uma corte não pode ter atitudes extremadas, inconsequentes e exacerbadas, pois, por sua própria natureza, o Poder Judiciário deve ser o mais equilibrado e, muito especialmente, mais justo – como infelizmente não tem sido com nossos companheiros condenados no curso da Ação Penal 470. Companheiras e companheiros, Os neopassadistas e os novosvelhistas têm demonstrado, e proclamado, que são especialistas em mofo, pois gostam muito de usar esta palavra. Parecem doutores em bolor! Não me surpreende esta especialidade deles. Se eles gostam e se especializam em bolor, nós gostamos, e queremos gostar cada vez mais de fermento. O fermento que faz crescer o bolo enquanto o dividimos e para que se possa dividi-lo melhor. Gostamos do fermento das massas. Do fermento da fé. Do fermento da esperança. O fermento que descortina o futuro e nos faz cada vez mais Brasil. Sempre em frente, sempre à frente com Dilma, Lula e o Partido dos Trabalhadores. Viva a nossa militância. Viva Dilma. Viva o povo brasileiro! Rui Falcão, Presidente nacional do PT 10/02/2014