PT pressiona advogado suspeito e expõe teia bilionária de fraudes ligadas a Bolsonaro

Nesta quinta (18), CPMI recebeu Nelson Willians, investigado pela operação “Sem Desconto”. Depoente esquivou-se da maioria dos questionamentos, apesar de forte ligação com Camisotti, preso na semana passada

Alessandro Dantas

A PF também identificou transações financeiras suspeitas entre Camisotti e Nelson Willians (foto)

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS ouviu, nesta quinta-feira (18), o advogado Nelson Willians Fratoni Rodrigues, alvo da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF), em abril, para combater descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Convocado na condição de testemunha, o depoente repetiu, diversas vezes, não ter “nada a ver com o objeto da comissão”.

Sócio de um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil, Nelson Willians obteve um habeas corpus do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), para permanecer em silêncio perante os parlamentares. Na sessão desta quinta, o advogado se utilizou dessa prerrogativa, inclusive durante os questionamentos do relator, deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil).

Recentemente, Nelson Willians foi alvo de buscas e apreensão por parte da PF. Transações consideradas suspeitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram movimentações do escritório dele na ordem de R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2023.

À CPMI, o advogado afirmou ser amigo pessoal de Maurício Camisotti, empresário preso na última sexta (12). A PF também identificou transações financeiras suspeitas entre Camisotti e Nelson Willians.

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Apesar do silêncio garantido por Nunes Marques, a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) no Congresso não deixou de levantar as principais dúvidas sobre o envolvimento do depoente no assalto ao INSS, conforme desconfiam as autoridades policiais.

Lavagem de dinheiro

O deputado federal Rogério Correia (MG) relacionou a ascensão econômica de Camisotti ao governo Bolsonaro. O empresário é dono de uma das associações que fraudaram o INSS.

“A Ambec era do senhor Camisotti, que o senhor disse que é amigo dele, senhor Nelson Willians. E o seu amigo Camisotti, dono da Ambec, conseguiu um ACT [Acordo de Cooperação Técnica] em 2022, um contrato técnico, para que a Ambec, que tinha três filiados, pudesse fazer esse trabalho. E ela se encheu de filiados. Esses filiados eram aposentados que o ‘Careca’ [do INSS] levou para lá”, apontou o deputado do PT.

“E o Camisotti, que era o dono da Ambec, se encheu de dinheiro com isso, seu amigo. E esse amigo aí fez isso em 2022 […], com o Oliveira [Ahmed Mohamad], que já veio aqui e que, depois, virou ministro. E ele autorizou isso aí”, acrescentou.

Na sequência, Correia lembrou das suspeitas que pairam sobre o escritório de Nelson Willians. “Porque é tanto dinheiro que o Camisotti tinha, seu amigo, que ele foi para o seu escritório e a denúncia que se tem é que o senhor estava lá fazendo lavagem de dinheiro.”

Pimenta arde

O deputado federal Paulo Pimenta (RS) foi o segundo integrante da bancada do PT a falar na CPMI. Ante o silêncio do depoente, o parlamentar começou ironizando as oratórias bolsonaristas: “O senhor faz parte dos legendários? Ninguém perguntou ainda. O senhor já foi na caminhada promovida pelo Pablo Marçal?”.

“Porque, presidente, veja bem, doutor Nelson é advogado, advogado de boa parte dessas pessoas [os envolvidos na fraude do INSS]. Além disso, é acusado, chega aqui com um habeas corpus. Aí, perguntam para ele: ‘o seu patrimônio é fruto de ilícito?’ Os senhores queriam que ele respondesse o quê?”, prosseguiu Pimenta.

Depois de expor as suspeitas em relação à fundação da Ambec e seus partícipes, regressando às origens da associação fraudulenta e chegando ao enriquecimento ilícito auferido, o petista afirmou: “Há uma seguradora do senhor Nelson Willians, em um determinado momento, fez um pagamento de R$ 1 milhão para quem? Antônio Carlos Camilo Antunes. Quem é essa figura? ‘Careca do INSS'”.

“Então, não tenha dúvidas, senhor presidente, e a investigação é que vai dizer, o doutor Nelson Willians está dentro dessa coisa. Se é como advogado, se é como prestador de serviço, a investigação vai demonstrar. Agora, não há dúvida que existe uma relação de proximidade entre a Ambec, Geap [Saúde], doutor Nelson, Camisotti e o ‘Careca'”, concluiu o parlamentar.

Prevaricação bolsonarista

Por sua vez, o deputado federal Alencar Santana (SP) criticou o silêncio do depoente. Além disso, o parlamentar voltou a exibir a fatídica entrevista à CNN Brasil em que o senador Izalci Lucas (PL-DF) se gaba de ter denunciado a fraude no INSS ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Olha só: um senador eleito, à época no PSDB, hoje no PL, diz que recebeu e levou ao conhecimento do presidente. E diz que a única medida foi a edição da Medida Provisória 871, cuja comissão ele presidiu. E à época, o secretário da Previdência era o senador Rogério Marinho [do PL]. Ora, com esse conhecimento que o senador Izalci fez, a única medida foi a medida provisória?”, indagou Alencar.

“Ninguém comunicou à polícia? Ninguém comunicou o Judiciário? Ninguém comunicou o Ministério Público? Ninguém encerrou os descontos? Não, fizeram diferente.”

Depois, Alencar mostrou um vídeo do deputado federal Arthur Lira (Progressistas) citando Marinho, que construiu com o ex-presidente da Câmara, em diálogo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), o texto final da MP. A Contag é investigada pela PF por causa dos descontos indevidos.

“E aqui, o senador, em sua fala, tentou condenar essa entidade, que tem trabalho sindical e de representação efetivos, diferentemente das entidades ‘laranjas'”, censurou Alencar. “Olha a falsidade, a hipocrisia, que reina aqui, por parte de alguns”, rechaçou.

O deputado do PT encerrou a fala compartilhando uma galeria de fotos de Nelson Willians. Entre a imagens, o advogado aparece ao lado de figuras como o atual governador de São Paulo (SP), Tarcísio de Freitas (Republicanos), o senador Sergio Moro (União Brasil), ex-juiz da Operação Lava Jato, e João Dória, ex-governador de SP.

Da Redação

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