Raimundo Nonato: Construindo um PT de massas, de lutas e socialista
O PT deve fazer o exercício permanente de reflexão sobre nossa história e nossas práticas, sistematizando erros e acertos
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Nascemos da inspiração e da utopia, na resistência contra os ditames de governos autoritários e da opressão capitalista colonizadora e concentradora de riquezas. Somos uma síntese da reação dos oprimidos na luta democrática pela libertação, nascemos sob o sigma da justiça, da igualdade e na afirmação de uma utopia que afirmava que o PT iria sempre lutar por uma sociedade sem explorados e exploradores. Afirmamos em diversos momentos que somos um partido de lutas, de massas e socialista.
A partir do nosso quinto encontro nacional passamos a assumir publicamente que o PT fazia uma opção pela luta institucional, priorizando a eleição de parlamentares e conquistando espaços nos executivos municipal, estadual e nacional. Com muito debate interno entre as diversas correntes de pensamento, fomos superando com muito debate a concepção de que a luta pela construção do socialismo obrigatoriamente seria violenta, uma guerra revolucionaria de posições ou de movimentos, promovendo uma ruptura ideológica, onde os oprimidos iriam tomar de assalto o poder político da sociedade brasileira. Este processo pedagógico foi difícil no interior do partido, e ao longo de nossa história significaram a saída de centenas de filiados que se constituíram em outros partidos, muitas vezes sendo até adversários do PT.
O objetivo deste texto é reconhecer e avaliar positivamente muitos documentos que estão sendo escritos por militantes e intelectuais de todo o brasil e de todas as tendências internas do partido. As discussões que se iniciaram em preparação do próximo congresso nacional vão passar por um debate intenso em todas as instâncias partidárias, avaliando nossos erros ,os desvios éticos e morais, o empoderamento vicioso, de lideranças carreiristas e apropriação indevida de recursos frutos de doações as iniciativas privadas, mas que significaram um ciclo vicioso que enriqueceu algumas pessoas e desviou muitos militantes das tarefas apaixonadas de um revolucionário para se transformarem meramente em cabos eleitorais pagos e profissionalizados.
Este debate tão rico e doloroso esta desnudando uma face do PT oculta a nossos ideais libertários, a verdadeira realidade de um partido imobilizado por vícios clientelistas eleitoreiros e por práticas de líderes oligárquicos revelando o que dizia Paulo Freire “dentro de cada oprimido existe um opressor”, ou antropologicamente verificarmos que as consequências de 389 anos de dominação imperial colonialista, resultaram culturalmente na formação étnica do povo brasileiro dominados e remanescentes das velhas práticas de coronéis e oligarquias rurais e urbanas do brasil.
Para alterar esse quadro negativo de nossa tão bela história política não podemos esquecer de tantas vitórias e lutas conquistadas ao longo destes 33 anos. Com certeza o PT vai continuar sendo motivo de investigação e estudos de universidades de cientista e intelectuais que vão demarcar o processo de evolução política do Brasil como antes, durante e depois do PT. Exportamos políticas públicas e sociais para mais de 37 países, somos o maior partido de esquerda da américa latina e temos o maior líder político de esquerda do mundo, mas se quisermos continuar lutando em defesa da construção de um pais soberano, democrático e socialista temos que mudar radicalmente nossas práticas e os conceitos filosóficos organizacionais que nos orientaram até os dias atuais.
UMA NOVA CONCEPÇÃO DE PARTIDO
O PT deve fazer o exercício permanente de reflexão sobre nossa história e nossas práticas, sistematizando erros e acertos. Mas as estruturas partidárias atuais e os métodos de direção engessam o partido limitando as ações politicas a um vexame muitas vezes silencioso que ficou muito claro quando o partido não conseguiu avaliar as influencias com uma intervenção política mais precisa nas crises municipal e estadual se revelando como mais crítica a situação no segundo mandato da presidente Dilma.
Atravessamos a humilhação do impeachment sofremos uma derrota humilhante nas eleições municipais e estamos sem folego para resistir a aprovação da PEC 241/55, da reforma da previdência, da reforma trabalhista e das privatizações que estão a vista no atual governo golpista. A reação é muito tímida e é preciso ousar e mudar radicalmente a atual estrutura partidária, alterar mudanças em nosso estatuto, readequar nosso regimento, entornar as novas exigências partidárias e fazer cumprir o código de ética contra todas as lideranças que tenham por acaso cometido desvios comportamentais.
Para a sociedade acreditar novamente no PT é preciso fazer críticas e autocríticas, é preciso cortar na própria carne as benesses dessa estrutura política podre e excludente, é preciso construir um partido com estruturas militantes e com lideranças que sejam reconhecidas como referências de luta contra a opressão e contra as práticas dilapidadoras do câncer da corrupção. Devemos construir uma nova concepção de partido superando o autoritarismo das relações cúpula e base e o dogmatismo da eterna disputa entre partido de quadros e partido de massas. O novo PT precisa ter humildade revolucionaria paciência histórica e novas estruturas organizativas.
UMA NOVA ESTRUTURA PARTIDÁRIA
Foi muito importante durante vários anos um modelo de estrutura organizacional que tem as instâncias partidárias, as secretarias de movimentos sociais, as secretarias de relações institucionais, as reuniões dos diretórios, a realização dos encontros e os congressos, tudo isso burocraticamente organizado na legislação partidária nos estatutos do regimento interno e do código de ética. O exercício da democracia representativa no partido exercitou por vários anos as eleições diretas da direções através do PED.
Entretanto todas essas estruturas passaram a sofrer introduções diretas das práticas viciadas, ganhava o PED quem tinha mais dinheiro, elegia o presidente quem tinha mais estrutura e articulação interna as custas do pragmatismo, os detentores de mandatos parlamentares e executivos passaram a controlar as tendências internas do próprio funcionamento das estruturas partidárias. Não vai ser fácil alterar este quadro pois aqueles que tem poder terão dificuldades em aceitar críticas e avalições.
Mas é preciso reunir todas as lideranças e dirigentes que estão preocupados com o rumo do partido e a própria situação da esquerda e formular um conjunto de propostas, resultado das sínteses de avaliações e do ponto de equilíbrio entre as diversas correntes de opinião e construindo uma posição majoritária, fruto da unidade política programada. As transformações necessárias em minha avaliação só serão possíveis se forem formuladas com a unidade em que todas as tendências do interior do partido, alguns tem que perder para todos ganharem.
O PT tem que ter uma nova estrutura de um partido que dialoga permanentemente com sua base de filiados e com a sociedade civil. Temos de aprender a conviver com o novo marco de relacionamentos políticos que incluam filiados e não filiados. Nossas direções devem se constituir em um colegiado de dirigentes, representativos do próprio exercício e construção da unidade partidária, lideranças reconhecidas na sociedade e respeitadas pela base do partido.
Um partido de massas e lutas deve suprimir de seus quadros lideres autoritários e oligarcas, portanto todas as direções municipais, estaduais e nacional devem ser renovadas 100% e novas regras de convivência democrática devem ser reelaboradas, o PT não pode ficar a mercê dos interesses corporativos deste ou daquele grupo.
E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir.
Raimundo Nonato Guimarães, 57 anos, filiado no PT em Mãe do Rio Pará, foi presidente do PT e deputado Estadual nos anos 90. Atualmente é assessor da prefeita eleita, Katiane Cunha, de Ipixuna do Pará. E editor do blog Estratégia Solidária, para a Tribuna de Debates do IV Congresso. Saiba como participar.
ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores