Renato Simões: A onda golpista se agiganta contra o povo

“2019 nos espera e sua agenda começa já em 2018, nesse Congresso anti-popular em que muitas das medidas de BolsoTemer podem ainda ser votadas”

Joka Madruga
Tribuna de Debates do PT

Renato Simões no Debate sobre o Plano Lula de governo na Vigília Lula Livre em Curitiba

A vitória do messias Jair Bolsonaro nas eleições de outubro abre uma nova e dramática fase do Golpe de 2016, aberto com o impeachment fraudulento da Presidenta Dilma e confirmado nas urnas com a interdição da candidatura do Presidente Lula pelas mesmas forças que se uniram no condomínio golpista que administra o país. O Poder Executivo e a maioria dos Poderes Legislativo e Judiciário, com apoio unânime do grande capital e da mídia brasileira, produziram a vitória de Bolsonaro, o candidato que se mostrou no processo eleitoral funcional aos seus objetivos estratégicos de derrotar a esquerda e impedi-la de voltar a governar o Brasil.

Se Bolsonaro talvez não fosse o plano A da aliança golpista que dirige o país desde 2016, o fato é que sua agenda ultraliberal seduziu o capital financeiro e alinhou, a partir de setembro, todos os esforços anti-PT na busca de vitória já no primeiro turno. O esvaziamento das candidaturas de Alckmin, Amoedo, Álvaro Dias, Marina Silva, ao longo dos meses de pré-campanha, e a interdição do candidato mais potente da esquerda, Lula, fez de Bolsonaro o candidato possível para governar o Brasil pós-golpe no interesse das elites nacionais e internacionais.

A bordo de uma fraude bancada pelo dinheiro sujo do capital no final do primeiro turno, que financiou largamente a avalanche de mensagens de fake news anti-PT e anti-Haddad e a boca de urna eletrônica que alterou drasticamente o mapa político das eleições para os governos estaduais e o Parlamento, Bolsonaro foi ao segundo turno com uma folgada margem de votos a administrar e o controle da pauta política da campanha.

Negando-se ao debate, administrando à distância o apoio empresarial, midiático e religioso que angariou no primeiro turno, Bolsonaro contou com a conivência do Judiciário, tutelado até explicitamente pelas pressões das Forças Armadas contra Lula, para derrotar Haddad e as forças democráticas e populares que se alinharam com ele no segundo turno – com as vergonhosas omissões de Ciro Gomes, Marina Silva e do centro político do sistema tradicional de partidos, como o PSDB de FHC e Alckmin (o de Dória e cia. já estava alinhado com Bolsonaro desde o primeiro turno).

O governo que nasce das urnas é uma incógnita para a grande maioria de seus eleitores. A forte carga ideológica reacionária e fundamentalista escondeu a apresentação das poucas ideias econômicas do candidato Bolsonaro e de seu posto Ipiranga, Paulo Guedes. O anúncio das primeiras medidas de Bolsonaro e de seu Ministério ainda não permite visualizar toda o conteúdo dos ataques à soberania nacional e aos direitos do povo, mas é mais que suficiente para entender a sua intensidade.

Como continuidade e aprofundamento da agenda golpista e do governo Temer, forma-se em torno de Paulo Guedes uma equipe ultraliberal com o mantra das três pilastras desse modelo: privatizações predatórias, ajuste fiscal radical e diminuição do papel do Estado na prestação de serviços públicos e indução econômica.

Para garantir a voracidade desse modelo, um segundo núcleo se forma para a repressão política e a perseguição à oposição e aos movimentos sociais, com Moro no Ministério da Justiça e o General Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional. Na área social, um terceiro núcleo de inexpressivos gestores do caos social que se atingirá sobre o Brasil – à altura da falta de prioridade social desse governo dos mercados financeiros e interesses transnacionais.

Terá Bolsonaro sucesso? Irá enfrentar a resistência de uma esquerda que, ainda que dividida por projetos partidários e pessoais próprios, mostrou força com 31 milhões de votos no primeiro turno e 47 milhões de votos no segundo turno, fortes bancadas no Congresso e governos estaduais com iniciativa política. Irá enfrentar a resistência dos movimentos sociais que sabem ser a bola da vez na repressão desse Estado de Exceção, alçados à condição de terroristas e ameaçados de caçadas judiciais e extra-judiciais. E vai enfrentar também a inconsistência de sua ridícula base parlamentar, pela fragilidade de seus governadores eleitos, pela fragmentação do Congresso e pela inicial crise dos partidos golpistas derrotados nas urnas – PSDB, MDB, Centrão e outros menos cotados.

O fato é que 2019 nos espera e sua agenda começa já em 2018, nesse Congresso anti-popular em que muitas das medidas de BolsoTemer podem ainda ser votadas neste ano. Muita resistência, coragem e desprendimento serão necessárias. #tamojunto, e de mãos dadas, para enfrentar o período duro que virá. Mas com a esperança de que o povo brasileiro é melhor que suas elites e saberá, no momento que conseguirmos criar, dar a resposta a essa onda golpista que hoje parece invencível. Outras vieram, e também passarão, com essa passará.

Renato Simões é membro da Executiva Nacional do PT

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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