Povos indígenas são peça fundamental na proteção da Amazônia, por Anne Moura
“Preservar a nossa vida, nossa memória e nossas ideias é trabalhar pela floresta em pé e garantir que o planeta seja salvo”, defende Anne Moura
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A proteção da Amazônia começa por quem nela habita. É preciso entender o valor e a importância dos povos da floresta na construção de diálogos que constroem novos rumos para o enfrentamento das mudanças climáticas e na manutenção da floresta. O caminho para que não se atinja o ponto de não retorno da floresta Amazônica, que poderá acontecer tão breve já em 2029, como afirma estudo divulgado por cientistas e líderes indígenas, é, sem a menor dúvida, abrir espaços para que estas lideranças tenham voz nas discussões ambientais.
Acabo de voltar do Diálogos Amazônicos, encontro que antecedeu a Cúpula da Amazônia, que acontece hoje (9), em Belém. Lá, pude ver, ouvir e partilhar ideias fundamentais para a proteção do nosso meio ambiente, junto a parentes e demais lideranças amazônicas, que impactam a sociedade e que também são impactadas por eventos climáticos. Foram mais de 800 lideranças indígenas participando nos Diálogos Amazônicos e uma grande expressividade nos movimentos tão bem articulados e organizados.
Participei do Fórum de Seres e Saberes Amazônicos, onde tive a oportunidade de mediar e ouvir atentamente a tantas vozes empenhadas em buscar soluções para a manutenção do planeta. Tive a oportunidade de entender de forma clara, que os povos da floresta e, em especial, os povos originários, são peça fundamental nesse processo.
Hoje, 9 de agosto, comemoramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A data instituída pela ONU, visa homenagear e reconhecer as tradições dessas populações, a fim de promover a inclusão e estimular políticas públicas adequadas a esses povos originários. Segundo dados do IBGE, o Brasil possui uma população de 1,69 milhão de indígenas.
O Amazonas, por conseguinte, é o estado com a maior concentração de pessoas indígenas. Ao todo, são 305 etnias e 274 línguas diversas espalhadas pelo Brasil. Isso sem contar os indígenas não aldeados, como eu, que há muito buscam pelo reconhecimento de sua ancestralidade.
Depois de anos de retrocesso, já alcançamos diversas vitórias. Uma delas, com certeza, é a criação do Ministério dos Povos Indígenas, mas podemos enumerar muitas outras, como a reestruturação da Funai e a ocupação de indígenas em cargos de tomada de decisão no Governo Federal.
Mas esse povo, o nosso povo, merece mais. Merece reconhecimento em forma de ocupação dos poderes e dos espaços de diálogo e tomada de decisão. Junto de nossos tão valiosos saberes ancestrais, temos muito a contribuir na construção de um planeta onde se é possível pensar no amanhã. Pois sabemos, com verdade, que preservar a nossa vida, nossa memória e nossas ideias é trabalhar pela floresta em pé e garantir que o planeta seja salvo.