Silvio Melgarejo: Objetivos do PT exigem que ele funcione como uma máquina de mobilizar multidões

Um partido apenas eleitoral, parlamentar e de governo, como o PT tem sido, é uma ferramenta de luta política inútil, que tende a se vergar ou se quebrar facilmente

FPA
Tribuna de Debates do PT

Comício de Lula na praça Charles Miller, em São Paulo, em 1989, na campanha de Lula à Presidência da República

Qualquer trabalhador sabe que a correta realização do seu trabalho começa pela escolha da ferramenta, aparelho ou máquina mais adequados para a execução de cada tarefa. É a tarefa que indica o tipo de equipamento que o trabalhador precisa usar. Toda ferramenta, todo aparelho e toda máquina são criados para permitir ou facilitar a realização de alguma tarefa ou conjunto de tarefas. Portanto, o conhecimento da tarefa é que cria a necessidade de um equipamento que permita ou facilite a sua realização e é a necessidade de ter este equipamento que impõe a sua busca ou construção, a partir de um projeto que corresponda à utilidade que ele deve ter.

O ser humano aprendeu com a experiência que a realização de qualquer objetivo depende da escolha dos meios mais eficazes e que, se há objetivos que podem ser alcançados por um único homem, há objetivos que só o serão pela soma dos esforços de muitos. Foi a partir deste entendimento que nasceram as organizações na antiguidade.

Uma organização é um conjunto de indivíduos que se associam para o uso dos seus recursos na implementação de ações destinadas à realização de determinados fins. As organizações são meios concebidos para atingir objetivos que uma só pessoa não pode alcançar. São como máquinas feitas de gente – suas peças são pessoas –, projetadas e construídas para servirem à realização de tarefas que só o trabalho coletivo permite que sejam realizadas. E é tipo de tarefa que uma organização decide realizar que indica como esta organização deve ser e funcionar. O Estado é uma organização, assim como o Exército, a igreja, o hospital, a escola, o sindicato e também o partido político. O PT é uma organização.

Mas a palavra organização tem também um outro sentido além deste, de unidade social formada para atingir determinados fins. Organização é também a importantíssima função administrativa de definir quem faz o que, onde, quando, como e com que meios durante a realização de uma ação coletiva. Sem uma correta distribuição dos seus recursos, as organizações tendem fortemente ao fracasso, à falência e à derrota.

O PT foi criado para ser uma máquina de organização e mobilização social por um conjunto de trabalhadores que se convenceram da completa impossibilidade de o capitalismo garantir uma vida digna para o povo, de que só o socialismo poderia resolver a maior parte dos problemas da classe trabalhadora e de que a transformação da sociedade capitalista numa sociedade socialista e democrática só poderia ser conquistada, com muita luta, derrotando-se politicamente a burguesia através da mobilização social permanente e em grande escala.

Se os petistas da atualidade mantêm estas mesmas convicções que inspiraram os fundadores do PT, então devem manter aquele mesmo propósito que eles tinham de construir o PT como uma poderosa máquina de organização e mobilização social, ou seja, como uma organização capaz de organizar e mobilizar milhões de trabalhadores para a luta em defesa dos seus direitos e contra as injustiças e opressões do capitalismo.

O PT nasceu querendo ser um partido de organização e mobilização de massas, capaz de promover grandes manifestações de rua e até mesmo uma greve geral no país. Mas até hoje o PT só conseguiu se constituir mesmo como um partido de massas eleitoral, o que não basta para vencer a resistência da burguesia à perda dos privilégios que o capitalismo lhe garante. O golpe de 2016 é a demonstração mais recente do completo desprezo que a burguesia tem pela democracia, pelas eleições, leis, Constituição e por qualquer acordo político.

A burguesia é uma classe de embusteiros vis, egoístas e gananciosos que não tem compromisso nenhum senão com a acumulação de riqueza por meio da exploração do suor dos trabalhadores e dos recursos naturais do país. É uma classe de bandidos impiedosos e inescrupulosos que não hesitam em trapacear ou usar a violência para alcançarem seus objetivos escusos. Por isso é um erro confiar na burguesia e por isso é um erro confiar nas instituições do Estado que a burguesia controla.

Porque não há a menor possibilidade de se conquistar uma verdadeira democracia, destruir o capitalismo e construir o socialismo por meio apenas de eleições e disputas parlamentares, que se dão sob a égide de um Estado inteiramente controlado pela burguesia mediante coação, cooptação ideológica ou corrupção dos agentes públicos. Porque o Estado, controlado pela burguesia, não serve a todos os cidadãos de maneira indistinta, serve apenas à própria burguesia como meio de opressão e desmobilização da classe trabalhadora, para a preservação da ordem capitalista contra qualquer ameaça à sua integridade e aos seus desígnios.

Por isso, um partido feito só de eleitores, cabos eleitorais, candidatos, parlamentares e governantes está muito longe de ser uma ferramenta adequada para a realização das tarefas relacionadas à luta pelo socialismo e pela democracia. Um partido apenas eleitoral, parlamentar e de governo, como o PT tem sido, é uma ferramenta de luta política inútil, que tende a se vergar ou se quebrar facilmente, porque não tem rigidez suficiente para resistir a um golpe de Estado, como tivemos oportunidade de experimentar em 2016.

Para ser uma ferramenta eficaz da luta dos trabalhadores pela democracia e pelo socialismo o PT precisa se construir como um partido de militantes disciplinados e dedicados à organização e mobilização das massas, precisa se construir como uma poderosa organização de combate político, que seja capaz de envolver e dirigir milhões de trabalhadores na realização de grandes manifestações de rua e até mesmo de uma greve geral. Porque só mobilizações assim, de grande magnitude, amplitude e intensidade, podem produzir força política suficiente para vencer o poder econômico da burguesia, quebrar sua resistência às mudanças e transformar a sociedade, para estabelecer uma nova ordem política, econômica e social, mais justa e mais humana, que garanta o sustento, a dignidade e a liberdade de todos os trabalhadores brasileiros.

Os objetivos do PT exigem que ele se organize e funcione como uma verdadeira máquina de organizar e mobilizar multidões. O Manifesto de 1980 e as resoluções dos seus primeiros encontros nacionais são provas de que os fundadores do partido tinham perfeita consciência disso. Entender as razões que impediram o PT de realizar na prática a concepção de partido descrita nestes documentos é o grande desafio do 6º Congresso. Porque só identificando estas razões é que vamos poder fazer as correções necessárias para transformar o PT numa ferramenta realmente eficaz de realização das tarefas relacionadas à luta pela conquista dos objetivos que justificaram a sua fundação e que até hoje justificam a sua existência.

Por Silvio Melgarejo, professor de música, filiado de base do Rio de Janeiro, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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