Silvio Melgarejo: Sem mídia e sem partido, nenhuma estratégia de luta é viável

Organização e mobilização exigem disciplina. E disciplina nada mais é do que o compromisso e o hábito de cumprir deveres. Que os petistas não esqueçam disso no seu 6º Congresso

Tribuna de Debates do PT

Ação da Juventude pela democracia. Foto: Lula Marques/AGPT

Sem mídia e sem partido, o petismo tem se mostrado absolutamente impotente para reagir aos golpes que sofre na luta de classes. A força do ideal genuíno sucumbe de forma dramática à incapacidade flagrante de construir meios para lutar por sua conquista efetiva.

O petismo até hoje não entendeu que sem meios adequados para a luta, todo combate termina em derrota e que se na guerra o meio próprio para o combate chama-se exército, na política estes meios são o partido e as mídias que o partido cria ou adquire com recursos próprios,.

O petismo é uma nação de milhões que ainda não montou o seu exército, embora fale o tempo todo de luta. E retórica que não se materializa em ação de massas não basta para se conquistar e preservar democracia e direitos, muito menos para se fazer revolução socialista.

Sem mídia e sem partido, milhões de petistas dispersos, como átomos soltos no espaço, não conseguem formar um só corpo, mantém-se uns dos outros distantes, incomunicáveis, desorientados, impossibilitados de somar as energias que os mantém em permanente e solitária agitação para a realização de qualquer ação conjunta de impacto social e político equivalente à soma das forças de todos.

Há uma vaga consciência geral de que isto ocorre, mas também um forte conformismo e o conformismo é uma atitude essencialmente conservadora.

É preciso que se entenda de uma vez por todas que o partido está para a luta política, assim como o exército está para a guerra; que não se atinge o objetivo político sem um partido, como não se atinge o objetivo militar sem um exército; e que o partido é o instrumento principal da ação política daqueles que o constituem para realizar algum projeto.

É preciso que se entenda que, por isso mesmo, a construção do PT e a administração dos seus diretórios – que são suas unidades combatentes – devem ser as principais preocupações e as principais ocupações dos petistas e que descuidar destas tarefas é renunciar na prática a qualquer possibilidade de ver realizado o projeto petista de conquistar o poder político e construir no Brasil o socialismo democrático.

O PT, como organização, é uma ficção que só existe no seu estatuto e nas resoluções dos seus congressos e encontros nacionais.

Na vida real estes documentos são permanentemente ignorados e não se materializa a concepção de partido que eles contém.

As direções partidárias não sabem o que é “trabalho de base”, não sabem o que é “dever” e “disciplina”, permitem e permitem-se negligenciar impunemente o cumprimento das obrigações mais elementares, razão pela qual, da maioria das instâncias, pode-se dizer que são fantasmas.

O PT é uma organização e toda organização precisa cumprir 4 condições para alcançar seus objetivos.

A primeira é definir as ações que realizará para atingir estes objetivos e os recursos que usará na execução destas ações. Isto se chama planejamento.

A segunda é determinar o papel que cada membro do partido deve desempenhar nas ações planejadas e a forma como os meios necessários para a execução de suas tarefas serão distribuídos. Isto se chama organização.

A terceira é a orientação e motivação de cada membro do partido no momento da execução de cada ação planejada. Isto se chama liderança, direção ou comando.

E a quarta é a avaliação permanente da execução de cada ação, com a possibilidade de recomendações de ajustes ou mudanças. Isto se chama controle.

Tudo isso junto – planejamento, organização, comando e controle – chama-se administração.

E nada disso tem o PT, por isso o partido não funciona e não consegue nunca transformar a sua imensa quantidade de filiados e simpatizantes numa unidade coletiva ampla e rígida, capaz de intervir no processo político do país com vigor suficiente para influenciá-lo.

O PT, como organização, não vive, apenas vegeta. É um corpo fragilíssimo, cuja alma tem sido a burocracia indisciplinada e negligente que o governa.

O petismo, como doutrina, jaz, qual letra morta, no Estatuto e nas resoluções dos congressos e encontros.

E o petismo, como movimento social, que deveria ser a verdadeira alma do PT, não pode se-lo por estar fora do partido e do partido desvinculado, em razão da inatividade das instâncias em que poderia e deveria expressar-se e da surdez dos dirigentes, quando a eles se fala através de outros canais, como a internet.

Há um verdadeiro abismo entre PT e petismo, decorrente do péssimo funcionamento dos seus diretórios, que precisa ser superado para que o PT recupere sua vocação revolucionária original e o seu potencial como agente transformador da sociedade.

E a causa fundamental do mal funcionamento destas instâncias é claramente a indisciplina dos dirigentes do partido, desde a cúpula até o último elo da cadeia de comando, responsável pela organização e mobilização dos filiados de base.

Para conciliar com a burguesia, ninguém precisa de partido organizado e mobilizado. Mas para lutar contra a burguesia, sim.

Para construir e fazer funcionar um partido burocrático, governado por poucos de forma arbitrária, ninguém precisa se organizar e mobilizar. Mas para construir e fazer funcionar um partido democrático, governado por todos os seus membros de forma solidária, sim.

Organização e mobilização exigem disciplina. E disciplina nada mais é do que o compromisso e o hábito de cumprir deveres.

Que os petistas não esqueçam disso no seu 6º Congresso.

Ante o acirramento crescente da luta de classes, no entanto, não se pode mais esperar, é preciso exigir, desde já, que os dirigentes do PT cumpram os seus deveres e passem a garantir o funcionamento pleno e regular das instâncias partidárias, para que elas organizem e mobilizem, o quanto antes, a imensa reserva militante do partido, que permanece dispersa e ociosa por falta de comando.

Dirigentes disciplinados, é disso que o PT mais precisa hoje para realizar sua democracia interna em plenitude e para ser capaz de implementar uma estratégia de confronto com a burguesia, através da mobilização das massas.

Muda, PT.

Mas tem que ser já.

Senão a História nos atropela.

Por Silvio Melgarejo, professor de música, filiado de base do Rio de Janeiro/RJ, para a Tribuna de Debates do IV Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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