Temer passa vergonha na Noruega, que corta verba para Amazônia
Temer comete gafes, leva “puxão de orelha” de autoridades norueguesas por aumento do desmatamento e é ignorado pela imprensa
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A viagem do usurpador Michel Temer à Noruega tem se mostrado mais difícil do que o esperado por ele, e qualquer esperança que a base golpista tivesse de um retorno com pautas positivas diminui dia a dia. Nas palavras da própria primeira-ministra do país, Erna Solberg, referindo-se às denúncias de corrupção que o envolvem, “o Brasil precisa de uma limpeza”.
O episódio mais recente envolve o anúncio feito diretamente pela primeira-ministra, em reunião com Temer nesta sexta (23) em Oslo, de que a Noruega cortará metade dos valores repassados para o Fundo da Amazônia, reduzindo o aporte em R$ 197 milhões.
O motivo é o aumento do desmatamento da Amazônia – 47% apenas em 2016 –, dando fim a um ciclo de queda nos anos anteriores. É o maior aumento desde 2008 segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O anúncio do governo norueguês mostra como o atual governo brasileiro é descreditado no exterior. E como sua falta de legitimidade prejudica o país também porque tem piorando indicadores e metas de pautas importantes no cenário internacional.
Temos visto que o desmatamento que antes estava reduzido nos governos Lula e Dilma agora aumentou muito. É triste num pais como esse ainda dependermos de um fundo de ajuda internacional para cuidar do meio-ambiente
(Zé Geraldo)
Senador titular da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Jorge Viana (PT-AC) classificou como “gravíssima” a decisão da Noruega.
“Isso mostra o quanto o governo Temer está saindo caro para o país. Tivemos um recuo de 80% no desmatamento nos últimos dez anos, e agora aumentou 47%. Demorou muito tempo para o Brasil ganhar respeito internacional nessa área e agora ele faz isso”, lamentou.
O deputado federal Zé Geraldo (PT-PA), membro da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia na Câmara dos Deputados, também criticou a política ambiental do governo golpista.
“O corte é muito prejudicial para o nosso pais. Mas, desde que assumiu, o atual governo não tem aplicado o dinheiro nos investimentos que deveria. Ou seja, há um desvio das verbas do fundo para outras ações, e tenho certeza de que o governo da Noruega e os outros investidores perceberam isso.”
Segundo o parlamentar, o governo federal não possui nenhum programa de reflorestamento ou investimentos para que os pequenos proprietários rurais possam ter acesso a tecnologias e mudar a cultura de queimadas, por exemplo.
“Também temos visto que o desmatamento que antes estava reduzido nos governos Lula e Dilma agora aumentou muito. É triste num pais como esse ainda dependermos de um fundo de ajuda internacional para cuidar do meio-ambiente.”
Bancada ruralista
Além do aumento do desmatamento, Temer e sua base no Congresso – com destaque para a bancada ruralista – têm tomado medidas para flexibilizar áreas de conservação ambiental e prejudicado as reservas indígenas. Existem ao menos 20 medidas no Congresso para flexibilizar leis de proteção. O governo cortou, ainda, 43% das verbas discricionárias do Ministério do Meio Ambiente.
E é justamente nesses pontos que o Fundo da Amazônia atua, somando 89 ações de combate ao desmatamento, regularização fundiária e proteção a direitos e territórios indígenas.
“As ações da base do governo de Temer têm gerado repercussão mundial. O tratamento que ele está dando à Funai, por exemplo, cortando verbas. A estrutura fundiária do Brasil que gera um risco de reconcentração de terras no país e a ideia de venda de terras para estrangeiros mostra como é perigoso essa política do governo”, afirmou o senador Jorge Viana.
A Noruega é o principal financiador do fundo. Desde que ele foi criado, em 2009, até meados do ano passado o país escandinavo repassou R$ 2,8 bilhões ao Fundo da Amazônia.
Desde que o governo golpista assumiu, esta é a segunda redução nos repasses pelo país. Em dezembro de 2016, as verbas passaram de R$ 400 milhões para R$ 330 milhões pelo mesmo motivo.
Ilegítimo e sem credibilidade
Quando o ex-presidente Lula viajou a Oslo há exatamente dez anos, foi recebido com festa pela família real e pelo então primeiro-ministro, além de um grupo de pessoas que foi à porta do palácio real para tirar fotos.
Uma década e um golpe depois, Temer desembarcou na Noruega e foi recebido por um embaixador. Não só: na manhã desta sexta (23), o usurpador teve de enfrentar um protesto de lideranças indígenas e ambientalistas europeias.
Há quase dez anos, em setembro de 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido na cidade de Oslo,…
Publicado por Lula em Quinta, 22 de junho de 2017
Temer chega para encontro com primeira ministra da Noruega, Erna Solberg, em Oslo, sob protesto de brasileiros e ambientalistas noruegueses pic.twitter.com/4QRVzNQfki
— BBC Brasil (@bbcbrasil) June 23, 2017
O clima é semelhante na imprensa internacional. Na quinta-feira (23), durante sua única agenda em Oslo com empresários da área ambiental, os jornalistas solenemente ignoraram a pauta do presidente golpista. Apenas um jornalista do diário econômico Norwegian Financial Daily acompanhou o encontro. E isso porque, segundo ele teria dito, estava fazendo uma matéria não sobre a reunião, os escândalos de corrupção envolvendo o governo golpista.
Por Ana Flávia Gussen da Agência PT de Notícias