Trabalhador gasta mais da metade do Mínimo apenas para comer
Inflação é a maior para março em seis anos, e alta dos preços de produtos da cesta básica é cinco vezes mais acelerada. Para Dieese, salário mínimo deve ser de R$ 5.315,74
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A cada mês cresce a diferença entre o salário mínimo real e o ideal. A nota técnica mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgada nesta quinta (8), revela que, em março, ele deveria ser de R$ 5.315,74 para uma família média, composta por dois adultos e duas crianças, manter as necessidades básicas.
O valor é quase cinco vezes maior que o piso nacional estabelecido pelo desgoverno Bolsonaro (R$ 1.100). Este é insuficiente até para a compra de duas cestas básicas em Florianópolis, onde o preço chegou a R$ 632,75 no mês passado.
Entre fevereiro e março de 2021, o custo médio da cesta básica de alimentos diminuiu em 12 cidades e aumentou em outras cinco. Mas no período de 12 meses, o aumento ocorreu em todas as capitais pesquisadas, com as maiores taxas nas cidades da região Sul, com altas de até 25%, ou quase cinco vezes a variação da inflação oficial.
Segundo o Dieese, o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em média, 53,71% do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos. O percentual ficou próximo de fevereiro (54,23%).
“As altas se devem ao controle de parte da oferta pelos produtores, para que não houvesse queda nos preços. No entanto, a demanda seguiu baixa, em virtude da redução na renda das famílias. O feijão preto aumentou devido à valorização do dólar em relação ao real”, afirma o instituto na nota técnica.
Divulgado nesta sexta (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou variação de 2,05% no ano e de 6,10% nos últimos 12 meses. Em março, a inflação ficou em 0,93%, taxa mais alta para o mês desde 2015, quando alcançou 1,32%. Os principais impactos vêm dos aumentos nos preços de combustíveis (11,23%) e do gás de botijão (4,98%).
A inflação do grupo alimentação e bebidas (0,13%) continua subindo, mas menos a cada mês. As variações anteriores foram de 1,74% em dezembro, 1,02% em janeiro e 0,27% em fevereiro. “Os alimentos tiveram alta de 14,09% em 2020, mas, desde dezembro, apresentam uma tendência de desaceleração. Alguns fatores contribuem para isso, como uma maior estabilidade do câmbio e a redução na demanda por conta da suspensão do auxílio emergencial nos primeiros meses do ano”, informou o IBGE.
Ouvida pelo ‘Jornal Brasil Atual’, a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, diz que a queda nos preços dos alimentos traz um alerta preocupante. “Nesse momento a população está muito empobrecida, sem renda para comer. Então começa a haver redução da demanda. Essa redução acaba impactando no nível de preços”, explica.
Segundo Patrícia, as parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 pagas no ano passado foram fundamentais para a manutenção da renda das famílias. No entanto, os novos valores definidos para 2021, que variam de R$ 150 a R$ 375, não alcançam nem a metade de um valor da cesta básica.
“No ano passado não havia essa inflação de alimentos. Agora a gente tem aumento de 20% nos produtos da cesta básica, em quase todas as capitais. Em vez do valor do auxílio aumentar, diminuiu”, criticou. “Nesse momento a fome dos brasileiros vai ajudar a baixar a inflação. O que é um cenário extremamente perverso.”
Governo petistas valorizaram salário mínimo
Negligenciada pelo usurpador Michel Temer e abandonada por Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, a política de valorização do salário mínimo implementada pelos governos petistas havia reduzido a discrepância entre o valor do piso salarial e o seu poder de compra.
De 2004, quando o valor do salário mínimo era de R$ 260,00, a 2016, a política de valorização adotada por Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff promoveu aumento real de 74,33% nos rendimentos. Se nesse período tivesse sido promovido o massacre de Bolsonaro e Guedes, o piso nacional em janeiro de 2020 teria sido de R$ 599.
Leda Paulani, professora de economia da Universidade de São Paulo (USP), reforça que a redução da desigualdade de renda no país foi resultado da política de valorização do salário mínimo. Ela afirma que a medida influenciou diretamente a renda de 22 milhões de beneficiários da Previdência, incluindo aposentados, rurais e os que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
“Muito mais que o Bolsa Família, o que tirou milhões da miséria e, consequentemente, retirou o Brasil do Mapa da Fome, foi a valorização do salário mínimo”, ensina a professora, para quem a política “teve um impacto brutal, direta e indiretamente, na vida de pelo menos 70 milhões de pessoas, se incluirmos os membros de uma família que têm como seus provedores os aposentados e pensionistas do INSS”.
Da Redação