Vacinação contra a Covid-19 na Rússia começará pelos médicos

Daqui a duas semanas os kits serão distribuídos para dois mil voluntários. Entre eles, os profissionais da área de saúdes. Emirados Árabes, Arábia Saudita e México também participarão dos estudos, que incluem o estado do Paraná. Alexandre Padilha rejeita hipótese de “guerra” pela primazia do medicamento e alerta que ele deve ser para todos

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Russia anuncia produção da primeira vacina contra a Covid-19

A Rússia anunciou na quarta-feira (12) que a aplicação da vacina contra Covid-19 desenvolvida no país será iniciada em duas semanas, e os médicos russos serão os primeiros a receber a imunização. O presidente Vladimir Putin disse na terça-feira (11) que a Rússia havia se tornado o primeiro país a dar aprovação regulatória para uma vacina contra a doença, depois de menos de dois meses de testes em humanos.

O país também rejeitou as preocupações “sem fundamento” em relação à segurança do imunizante levantadas por alguns especialistas, devido ao rápido desenvolvimento da vacina pelo Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia (e fabricada pela Binnopharm). “Parece que nossos colegas estrangeiros estão vendo as vantagens competitivas específicas do medicamento russo e estão tentando expressar opiniões que, em nossa visão, são completamente sem fundamento”, disse o ministro da Saúde, Mikhail Murashko, nesta quarta.

Alexander Ginsburg, diretor do Instituto Gamaleya, adiantou que os ensaios clínicos sobre a vacina serão publicados assim que forem analisados por especialistas do país. De acordo com ele, a Rússia planeja produzir cinco milhões de doses por mês entre dezembro e janeiro de 2021.

Em comunicado na terça, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que está em contato com cientistas e autoridades russas e espera analisar os detalhes dos testes para referendar a vacina. A agência ressalvou que um país pode fazer o registro de um medicamento sem o aval internacional. Segundo a OMS, existem 28 vacinas em testes em humanos pelo mundo.

O Brasil está entre os países que devem participar da fase 3 dos estudos clínicos, previstos para começar nesta quarta. Serão dois mil participantes, incluindo voluntários da própria Rússia, dos Emirados Árabes, da Arábia Saudita e do México.

Em 30 de julho, o governador da Bahia, Rui Costa, e o secretário de Saúde, Fábio Vilas-Boas, tiveram reunião virtual com o embaixador da Rússia, Serguey Akopov, para conversar sobre uma possível parceria para testes e produção do imunizante que poderia envolver outros estados nordestinos.

O Paraná e a Rússia assinaram um documento para o desenvolvimento da vacina na tarde desta quarta. Segundo a assessoria do Governo do Paraná, no futuro os dois governos poderão trabalhar juntos no desenvolvimento dos testes e na produção da vacina.

Os termos gerais do acordo foram firmados durante uma reunião por videoconferência com o governador Ratinho Júnior (PSD), representantes da embaixada da Rússia, do governo do Paraná, do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os testes são autorizados pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) e pela Anvisa, que é responsável ainda por registrar o produto. As solicitações de estudos clínicos para outras candidatas a vacina e medicamentos foram avaliadas em 72 horas, segundo a agência, graças a novas regras aprovadas durante a pandemia.

A pesquisa e demais etapas no Paraná serão de responsabilidade do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). O presidente do instituto, Jorge Callado, ressaltou que a pesquisa vai avançar conforme o compartilhamento as informações. A previsão, no entanto, é de que a vacina seja distribuída no Brasil no segundo semestre de 2021. “Antes da liberação, não há possibilidade de colocar nada em prática. Reitero que a prudência e a segurança são palavras-chave nesse processo”, declarou.

Desenvolvimento rápido

Os testes clínicos com a vacina russa começaram em junho. A pesquisa foi realizada pela universidade Sechenov e contou com 38 voluntários que foram remunerados para a análise. Os voluntários têm faixa etária entre 18 e 65 anos, e mesmo após a divulgação da eficácia do antígeno, serão monitorados por mais seis meses. Também em junho, o exército russo iniciou outra iniciativa de testes clínicos. A pesquisa deverá durar sessenta dias e segue em análise.

Em 13 de julho, a Rússia concluiu parte dos testes clínicos necessários para comprovação de uma vacina eficaz. “A pesquisa foi concluída e provou que a vacina é segura”, declarou na ocasião a chefe do centro de pesquisas clínicas da Universidade Sechenov, Yelena Smolyarchuk, em entrevista à agência de notícias estatal TASS.

Em entrevista à CNN americana nesta quarta, Kirill Dmietriev, diretor do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), afirmou que espera que a substância seja produzida no Brasil: “A produção na América Latina vai começar em novembro, sujeita à aprovação regulatória”.

Dmitriev ressaltou que a empresa já fechou acordos internacionais para produzir 500 milhões de doses anualmente, e recebeu pedidos de mais de 20 países por 1 bilhão de doses da vacina. “Junto aos nossos parceiros estrangeiros, estamos prontos para fabricar mais de 500 milhões de doses da vacina por ano em cinco países, e o plano é aumentar ainda mais a capacidade de produção.”

O chefe do grupo que financia a pesquisa disse que “a segurança está no cerne da vacina.” “Sabemos que a vacina funciona e publicaremos os dados em agosto e setembro para demonstrar isso”, disse Dmietriev.

A Rússia promulgou uma lei em abril que eliminou a exigência de que os testes de fase 3 fossem realizados antes da aprovação. Dmietriev disse que durante uma pandemia, a lei permitiu que eles realizassem testes de fase 3 simultaneamente “com o lançamento da vacina para grupos de alto risco, o que estamos fazendo”, acrescentando: “Acreditamos que é exatamente a abordagem certa”.

A vacina russa tem uma tecnologia semelhante à produzida pela Universidade de Oxford, que está em testes no Brasil, Reino Unido e África do Sul. Ela usa dois tipos de adenovírus causadores de resfriados leves, que são geneticamente modificados com RNA do novo coronavírus para fazer com que o corpo crie uma resposta imune.

A imunização russa se chamará Sputnik V, em alusão à corrida espacial da Guerra Fria entre União Soviética e Estados Unidos. Lançado pelos soviéticos em 1957, o Sputnik I foi um dos grandes feitos científicos da história. Após esse primeiro satélite artificial colocado em órbita da terra, a URSS lançou mais quatro versões da astronave, um deles levando pela primeira vez um ser humano ao espaço: Alexeievitch Gagarin.

O projeto espacial soviético permitiu que fossem extraídas novas e importantes informações sobre a ionosfera, camada da atmosfera, e impulsionou o presidente dos Estados Unidos à época, John Kennedy, a acelerar o passo da Nasa para colocar o primeiro astronauta na lua.

Agora, a divulgação do imunizante fez a Rússia avançar na corrida pela vacina do novo coronavírus, ultrapassando concorrentes que já estão na última fase de experimento do processo, sendo elas três vacinas ocidentais e duas chinesas.

Entre esses imunizantes está o produzido por Oxford, associada ao grupo farmacêutico sueco-britânico AstraZeneca, e o desenvolvido pela empresa norte-americana Moderna. O governo dos Estados Unidos já subsidiou sete desenvolvedores de vacinas, investindo pelo menos US$ 9,4 bilhões (R$ 47 bilhões).

A Rússia nega que faça parte de uma “corrida armamentista” para desenvolver uma vacina, dizendo que deseja cooperar com outras nações. Em tom competitivo, as acusações de Reino Unido, Canadá e Estados Unidos são de que a Rússia tentou utilizar hackers para roubar informações sobre as vacinas produzidas em outros países.

As autoridades russas afirmam que a vacina é baseada em um projeto antigo, desenvolvido por pesquisadores anos atrás, quando buscavam uma solução para o ebola. Para Dmitriev, as críticas ocidentais são tendenciosas: “Isso (o anúncio) realmente dividiu o mundo entre aqueles países que acham que é uma ótima notícia … e alguns da mídia dos Estados Unidos e alguns americanos que se envolvem em uma grande guerra de informações sobre a vacina russa”.

“Não esperávamos mais nada, não estamos tentando convencer os Estados Unidos”, acrescentou o executivo russo. “Nosso ponto para o mundo é que temos essa tecnologia, ela pode estar disponível no seu país em novembro / dezembro se funcionar com o seu regulador … (enquanto) as pessoas que são muito céticas não terão essa vacina e nós desejamos a elas boa sorte em desenvolver o deles .”

Padilha: “Guerra é contra a Covid-19″

Para o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), “não importa” se a vacina é russa, chinesa, britânica, estadunidense ou alemã: “O que deve importar ao povo brasileiro é termos acesso à essa vacina. Para isso, ela não pode ser monopólio da empresa que vai produzi-la”, declarou à ‘Rede Brasil Atual’.

Como forma de garantir o direito, o parlamentar defende a quebra do monopólio da patente de vacinas no país, que tramita na Câmara dos Deputados, a partir de projeto de lei assinado por diferentes políticos.
Segundo Padilha, a vacina não pode ser alvo de guerra ideológica ou comercial. “É preciso aprovar a lei que assegura o acesso a todos”, ressaltou.

Para o ex-ministro da saúde, que é médico infectologista, “deter uma vacina, além de salvar vidas, significará soberania para a recuperação econômica nesta pandemia”. No Brasil, avalia o deputado, o cenário fica mais nebuloso em razão do descaso do governo federal em lidar com a pandemia.

“Pode haver uma guerra da vacina no Brasil por falta de coordenação do Ministério da Saúde. Incapaz de coordenar esse processo, a ocupação militar no ministério está perdida neste assunto”, disse Padilha, lembrando que o ministério é controlado interinamente desde 15 de maio por um militar, Eduardo Pazuello, que não possui experiência médica. “Cada estado, cada instituição pública, tem de correr por si só para tentar trazer essas inovações”, completa.

Por enquanto, outras seis vacinas candidatas ao combate da Covid-19 já estão no último estágio de ensaios clínicos, e três delas estão sendo testadas no Brasil: a CoronaVac, da China, a vacina de Oxford e um imunizante fruto de uma parceria entre a BioNTech, da Alemanha, e a Pfizer, dos Estados Unidos. Além dessas, há a vacina da farmacêutica americana Moderna e outras duas sendo produzidas pela farmacêutica chinesa Sinopharm.

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