Val Carvalho: Lula presidente? Sim, mas da República!
O PT poderia usar melhor seu maior patrimônio político, e não envolvê-lo na disputa interna, quando é a dura disputa externa que deveria estar na ordem do dia do partido
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Qual petista não deseja ardentemente ter o seu PT de volta? Aquele PT que se realimentava da luta e se construía diariamente como referência política do movimento popular? Esse PT continua existindo, mas sob a forma da negação das políticas sociais feita pelo golpe. Aos poucos a base popular vai tomando consciência do abismo da falta de direitos que o golpe lhe impôs, sob o pretexto do combate à corrupção. Primeiro, vai sentindo, e depois percebendo que falta de direitos significa falta de PT no governo.
Mas da parte da militância a “falta de PT” é sentida de maneira mais profunda e imediata. É a dor de uma rejeição imerecida. A necessidade do oxigênio de uma autocrítica na prática para poder redimir o partido diante de um povo novamente enganado e espoliado. É a retomada de nosso histórico posto na luta do povo. Não se trata da volta às origens, pois não se volta ao passado; mas de resgatar os nossos valores socialistas e as nossas utopias fundadoras. Por isso que a divisão interna só será superada na medida em que o partido se renove participando ombro a ombro com as demais forças do movimento de massas contra o golpe e pela redemocratização do país.
O momento político exige que o PT renove urgentemente suas ideias, seus sonhos e principalmente sua prática para poder renascer como partido de luta no imaginário das juventudes e dos segmentos populares. Não é algo que se resolve simplesmente deslocando Lula da linha frente da luta contra o golpe para assumir a presidência interna de um partido dividido. Uma unidade formal não nos dará o PT de luta que o povo precisa.
Lula, líder operário, inspirou a formação de um PT plural, democrático, de massas e socialista. Lula, presidente, foi mais longe do que o partido no seio da base popular. Tornou-se estadista e respeitado líder mundial. Lula, na oposição, perseguido cruelmente pelos verdugos golpistas, retoma o seu posto de líder das massas populares. Lula é a expressão concentrada da força do povo. Esse é o seu simbolismo e esse é o papel que se espera dele. Por isso é tão temido pelos inimigos da democracia e da eleição direta.
Por tudo isso o PT poderia usar melhor seu maior patrimônio político, e não envolvê-lo na disputa interna, quando é a dura disputa externa que deveria estar na ordem do dia do partido. A grande missão do PT nesse momento é a de defender Lula contra a perseguição judicial mobilizando os movimentos sociais e ao mesmo tempo ajudando-o na articulação da Frente Ampla. É nessa condição suprapartidária que ele deve vir como o candidato da “volta por cima”, em 2018.
Se agirmos com inteligência, visando apenas o interesse do conjunto do partido, veremos que a movimentação de Lula como líder da oposição popular ajuda mais a levantar o PT do que ele como presidente do partido e administrando conflitos internos.
Val Carvalho, assessor parlamentar e militante do PT-RJ, para a Tribuna de Debates do VI Congresso. Saiba como participar.
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