Valter Pomar: 13 sugestões para quem deseja filiar novos militantes

No dia 8 de setembro de 2019, o Partido dos Trabalhadores elegerá as delegadas e os delegados que participarão de seu 7º Congresso Nacional, que vai reunir-se nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2019.

Quem vai poder votar no dia 8 de setembro? Todo mundo que já for filiado ao PT, ou que venha a se filiar até o dia 8 de junho de 2019.

Por conta disso, está em curso uma campanha de filiação ao Partido dos Trabalhadores.

Como o PT é um partido muito grande e com muita diversidade interna, nem todo mundo adota os mesmos critérios na hora de filiar.

Esse é um dos motivos que explica o fato de que tenham se filiado ao PT pessoas que deveriam estar em outros partidos, não no Partido dos Trabalhadores.

O próprio Diretório Nacional do PT está fazendo uma campanha publicitária onde se diz assim: se você concorda com esta ou aquela bandeira, então “você é um pouco PT”.

Se fosse uma campanha pedindo votos numa eleição, seria certo dizer apenas isso.

Se vivêssemos tempos tranquilos, seria aceitável dizer apenas isso.

Mas vivemos “tempos de guerra”.

Especialmente agora, não basta ser “um pouco PT”, para entrar no PT e decidir os rumos do Partido.

Pois se maioria dos nossos filiados for apenas “um pouco PT”, o resultado final será que o Partido como um todo será apenas “um pouco PT”.

Fica aqui a sugestão de que se proponha aos novos filiados e filiadas o debate de questões como as que seguem abaixo:

1. O Brasil é um dos países do mundo onde existe maior desigualdade social. Você concorda que o melhor caminho para superar esta desigualdade passa por derrotar o capital financeiro, os oligopólios, as transnacionais, o agronegócio, colocando a economia brasileira sob controle da classe que realmente produz as riquezas, a classe trabalhadora?

2. No Brasil, a classe dominante sempre controlou o poder de Estado, raramente tendo perdido o controle dos governos e parlamentos. Você concorda que o melhor caminho para mudar esta situação é lutando por um Estado de novo tipo, incluindo aí meios de comunicação e forças armadas que sejam controlados pela maioria da população brasileira?

3. Desde que os europeus chegaram ao litoral do que hoje chamamos de Brasil, nossa história vem sendo marcada pela subordinação, primeiro aos portugueses, depois aos ingleses, hoje aos Estados Unidos. Você concorda que o melhor caminho para superar esta dependência externa é enfrentar o imperialismo, afirmando nossa soberania nacional em todos os terrenos: econômico, político, militar e ideológico?

4. As elites brasileiras acreditam que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, não dando valor para nossos vizinhos, nem para os povos da África, do Oriente Médio e da Ásia. Você concorda que o melhor caminho para mudar esta situação é ter uma política externa que privilegie a integração regional latino-americana e caribenha, as relações com os países árabes, com o continente africano e asiático, com a Rússia e com a China?

5. Algumas pessoas dizem que a esquerda deveria abraçar apenas os temas que unificam a grande maioria da classe trabalhadora, não tomando posição ou deixando em segundo plano questões sobre as quais há divisões na classe trabalhadora. Você concorda que nosso Partido deve lutar com firmeza pelos direitos das mulheres, especialmente das mulheres trabalhadoras, que alias são maioria absoluta da população brasileira; pelos direitos dos negros e das negras, especialmente daqueles e daquelas que fazem parte da classe trabalhadora, lembrando que o Brasil é um dos países com maior número de afrodescendentes do mundo inteiro; pelos direitos das lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros, lembrando que o Brasil é um dos países onde mais crimes são cometidos contra esses setores da população; pelos direitos da juventude, num país em que grande parte da população tem menos de 30 anos, são filhos da classe trabalhadora, com dificuldade de estudar, trabalhar e viver com dignidade?

6. Algumas pessoas dizem que o socialismo é algo ultrapassado e acreditam que é possível combinar capitalismo, bem estar social, liberdades democráticas e soberania nacional. Você concorda que, especialmente neste momento em que o capitalismo está em crise no mundo inteiro, o PT deve afirmar em alto e bom som que somos um partido socialista e que o capitalismo precisa ser superado?

7. Algumas pessoas dizem que a revolução é algo fora de época, que o Estado é neutro e que devemos fazer transformações sociais exclusivamente pela via eleitoral. Você concorda que, especialmente num país em que a classe dominante tem um DNA golpista, a classe trabalhadora deve lutar pelo poder de Estado, não apenas pelo governo; e que esta luta pelo poder inclui várias formas de luta de massa, inclusive a eleitoral, mas que só será completa quando a maioria do povo brasileiro fizer uma grande revolução política e social?

8. A extrema direita ataca a esquerda, o comunismo, o socialismo e o marxismo. E alguns setores da esquerda ficam intimidados em assumir nosso parentesco com estas tradições políticas e ideológicas. Você concorda que a luta da classe trabalhadora brasileira tem muito que aprender com a teoria e com a prática de todos os que lutaram por uma sociedade sem exploradores nem explorados, sem opressão nem dominação, com destaque para aqueles que defenderam, nos séculos XIX e XX, a teoria criada por Marx e de Engels?

9. Há pessoas que estimulam o individualismo, desprezam a ação coletiva, criticam a luta de classes, acham que certas formas de luta e organização estariam superadas. Você concorda que o caminho para mudar o Brasil passa pela luta da classe trabalhadora contra a classe dos capitalistas, e que nessa luta a classe trabalhadora deve usar as mais variadas ferramentas, como os sindicatos, os movimentos sociais, as entidades estudantis, a UNE, o MST, a CUT, a Frente Brasil Popular, com destaque para o Partido dos Trabalhadores?

10. Há pessoas que tentam usar o Partido como legenda eleitoral e tratam os filiados como massa de manobra, convocada uma vez a cada 4 anos para eleger as direções e depois mandados para casa. Você concorda que um Partido capaz de dirigir a luta pelo socialismo precisa ser de massas, mas de massas militantes, que participam de organismos de base, que têm acesso a comunicação e a formação política, que contribuem financeiramente, que não apenas elegem mas também controlam os parlamentares, os dirigentes e as figuras públicas do Partido?

11. Você concorda que, apesar de tudo que fizemos de positivo desde 1980, em particular desde 2003, também cometemos muitos erros, o principal dos quais foi a conciliação de classe, ou seja, acreditar que a classe dominante brasileira teria deixado de ser golpista e seria capaz de conviver mais ou menos pacificamente com um governo comprometido em melhorar a vida do povo, em ampliar as liberdades democráticas, em afirmar a soberania nacional e construir a integração regional?

12. Há pessoas que defendem a liberdade de Lula, mas não percebem a centralidade desta luta nos tempos de hoje, nem percebem quão importante é, para a coalizão golpista, manter Lula preso. Você concorda que a luta pela libertação de Lula, assim como pela anulação de sua pena, é inseparável das demais lutas do povo brasileiro, como a defesa da previdência, das liberdades democráticas e dos direitos sociais, da soberania nacional, da paz e da Venezuela; e que a luta por Lula livre só terá êxito através da mobilização de massa, não havendo motivo algum para acreditar em conchavos com a direita, nem tampouco em decisões judiciais favoráveis?

13. A coalizão responsável pelo golpe de 2016, pela prisão e interdição de Lula, e pela vitória de Bolsonaro, não quer apenas nos derrotar, quer destruir a esquerda, a começar pelo PT. Você concorda que tanto para resistir, quanto para derrotar a coalizão golpista, vamos precisar de uma nova estratégia, que nos permita reconquistar o apoio da maioria da classe trabalhadora, para assim trilhar um caminho que nos leve não apenas a uma vitória eleitoral, mas ao poder e ao socialismo?

As 13 questões acima são apenas sugestões. O que importa é que, hoje mais do que nunca, precisamos de novos militantes. Militantes. Não basta ter novos filiados e eleitores.

Valter Pomar é militante do PT Campinas

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores