Votação do impeachment de Dilma vira piada no exterior

The Economist publicou as “razões” apresentadas pelos deputados para votaram pelo golpe; Para imprensa internacional, saída de Dilma pode significar mais corrupção

A votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados virou motivo de chacota na imprensa internacional. O jornal norte-americano The Economist publicou, nesta segunda-feira (18), que quase nenhum dos deputados federais em favor do impeachment usou o suposto crime de responsabilidade como razão para o voto.

“Ao invés disso, eles citaram um monte de motivos mais ecléticos para os votos”, afirmou o jornal, enumerando as principais razões ditas pelos parlamentares na hora da votação.

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Na lista publicada pelo jornal constam como justificativas para o voto a favor do impeachment o nascimento da filha ou da neta, ou o aniversário de 93 anos da mãe, e até a renovação carismática, a fundação do cristianismo ou a congregação da igreja Quadrangular.

Para o jornal espanhol El País, a imensa maioria dos deputados que votaram neste domingo a favor do impeachment da presidenta Dilma “pareceu esquecer os verdadeiros motivos que estavam em discussão”, e que cerca de 60% dos presentes, incluindo o presidente Eduardo Cunha, têm casos pendentes de corrupção nos tribunais.

“Os deputados defenderam a destituição de Rousseff pelas razões mais diversas: ‘por minha esposa Paula’, ‘por minha filha que vai nascer e minha sobrinha Helena’, por meu neto Gabriel’, ‘por minha tia que cuidou de mim quando pequeno’, ‘por minha família e meu estado’, ‘por Deus’, ‘pelos militares de 64’, ‘pelos evangélicos’, ‘pelo aniversário da minha cidade’, ‘pela defesa do petróleo’, ‘pelos agricultores’, ‘pelo café’ e inclusive ‘pelos vendedores de seguros do Brasil’ ”, destacou.

Também em tom de chacota, o El País fez um paralelo entre os parlamentares e os telespectadores de Xuxa, “que aproveitavam sua participação no programa para saudar sua mãe, seu marido, sua amante, seu primo, seu neto, seu vizinho, seu amigo, seu porteiro”.

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“A defesa da família, da propriedade, de Deus e da ordem nas mãos dos militares mostram a verdadeira foto do Congresso mais conservador desde 1985 e sugerem, ainda, que ninguém leu o relatório com os fundamentos jurídicos que justificariam o crime de responsabilidade, necessário para a saída de Rousseff – ou, ao menos, ninguém se esforçou em demonstrar”, completou.

O The Economist, também, o motivo dado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que citou o torturador da ditadura militar, Carlos Alberto Brilhante Ustra.

O voto de Bolsonaro também foi registrado pelo jornal The Guardian, que classificou como o “ponto mais baixo” da sessão.

“Em uma noite escura, sem dúvida o ponto mais baixo foi quando Jair Bolsonaro, o deputado de extrema-direita pelo Rio de Janeiro, dedicou seu voto ‘sim’ a Carlos Brilhante Ustra, um coronel que liderou a unidade de tortura no Doi-Codi durante o período da ditadura. Rousseff, uma ex-guerrilheira, foi uma das torturadas”, escreveu.

“O ex-militar Jair Bolsonaro, sempre passando dos limites, dedicou seu voto a favor do Coronel Ustra, reconhecido pela Justiça como um torturador durante a ditadura brasileira”, afirmou o El País.

O jornal britânico The Guardian elencou outros votos “em nome de Deus” e feitos por deputados com denúncias de corrupção, com pó próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Paulo Maluf (PP-SP), Nilton Capixiba (PTB-RO) e Silas Câmara (PRB-AM).

Já outro jornal estrangeiro, o Fortune, disse que o impeachment de Dilma pode significar mais corrupção no Brasil.

E destaca que a presidenta Dilma não está sendo diretamente implicada em denúncias de corrupção. “Em contrate, os principais nomes do PMDB estão sob investigação, assim como políticos da maioria dos partidos do Brasil. Colocar o PMDB ao poder para limpar a política brasileira é semelhante a limpar o chão com um pano sujo”, afirmou.

Outro jornal de língua espanhola, o Página 12, disse que a votação do processo de impeachment foi “um golpe que se viu ao vivo”.

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“Ontem, a Câmara dos Deputados, presidida por Eduardo Cunha, que é réu no Supremo Tribunal Federal por vários crimes, que vão desde a corrupção pura e simples a manter contas ocultas na Suíça, decidiu por fim a um governo de quem nem sequer é investigada”, ressaltou.

Em Portugal,  cientista político Miguel Sousa Tavares, disse que nunca viu o “Brasil ser tão baixo“. 

“O que se passou no Congresso brasileiro ultrapassa tudo que é discutível. Foi uma assembleia geral de bandidos, comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.

Glenn Greenwald, jornalista premiado conhecido pelo caso Edward Snowden, também condenou a votação do impeachment. Para ele, “foi uma votação muito polarizada e muito feia” por causa de atitudes como a do deputado Jair Bolsonaro. Na avaliação do jornalista, a votação reflete esse sentimento crescente no Brasil que o país esteja dividido de uma maneira muito perigosa e instável.

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

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