XV Marcha da Consciência Negra exalta a resistência do povo afro-brasileiro
Realizada em São Paulo nesta terça-feira, a celebração reuniu centenas de pessoas e foi marcada por manifestações de resistência pela democracia
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“Não fomos nós negros que nos colocamos nessa situação em que estamos hoje, portanto para sairmos dela vamos precisar de todo mundo, todo mundo de mãos dadas, ninguém solta a mão de ninguém”, a afirmação é do Secretário de Combate ao Racismo do PT, Martvs Chagas, durante a XV Marcha da Consciência Negra em São Paulo.
Centenas de pessoas se reuniram no Vão Livre do Masp e saíram em caminhada pela Avenida Paulista, nesta terça-feira (20), para celebrar o dia da Consciência Negra e reforçar a resistência da população afro-brasileira.
Com gritos de “Mulheres negras não param de lutar” e “Pelo fim do genocídio negro” o povo enfervecido fez do ato avançar para além da luta contra o racismo, mas também de combate ao fascismo e o autoritarismo que o governo de Bolsonaro representa.
O secretário estadual de combate ao racismo do PT de São Paulo, Tiago Soares, participou do ato e falou sobre a importância do dia. “Essa marcha é o primeiro ato pós-eleição e isso é simbólico. Quando o Bolsonaro fala que um quilombola pesa mais de sete arrobas ele tá tentando nos comparar a um animal, para ele nós não temos alma, então é por isso que o povo negro está aqui para marcar nossa luta contra o racismo e denunciar o que está por vir com esse governo antipovo. Dia 20 de novembro é um dia de luta”.
A caminhada que contou com diversos representantes de religiões de matriz africana repudiou os recentes ataques a grupos religiosos. Combate ao genocídio da juventude negra, políticas de proteção às mulheres e defesa da democracia também foram pautas levantadas pelos negros e negras presentes no ato.
Entre flores distribuídas, rodas de capoeira, danças características, os manifestantes lembraram também das vítimas de agressões e morte durante o período eleitoral.
“Nós estamos aqui também para lembrar das vítimas dos apoiadores do Bolsonaro no segundo turno, vítimas essas que em sua maioria são negros e negras, LGBTs e mulheres”, afirmou Tiago.
Durante toda a marcha, reafirmou-se também a necessidade de se opor aos planos do presidente de tipificar os movimentos sociais como terroristas. “Essa marcha de hoje se reveste de uma importância maior que as marchas anteriores, o novo governo quer fazer com que os movimentos sociais sejam criminalizados e nós temos que estar nas ruas para dizer que é direito de todo o povo brasileiro poder se manifestar para construir um Brasil melhor”, declarou Martvs.
Martvs falou também sobre os retrocessos que já estão acontecendo com o governo Temer e podem piorar ainda mais. “O que nós conquistamos através de políticas promovidas pelos governos do PT agora está em risco, nós não podemos permitir que isso aconteça”.
A professora de Sociologia, Jacqueline Jaceguai, prestigiou a manifestação na companhia de seu filho. Segundo ela essa pode ser a última marcha pela resistência negra, e por isso o momento é tão importante para se estar nas ruas:
“Nós estamos aqui por um motivo muito nobre, o reconhecimento dos nossos direitos, a gente não se manifestar é aceitar as injustiças que estão acontecendo. Nós estamos aqui hoje sem saber se no próximo ano isso vai poder existir, então nós estamos aqui para resistir. Essa eleição foi um golpe duríssimo, mas ainda sim nós levantamos nosso punho, porque o povo preto resiste”.
Os manifestantes também fizeram da ocasião um momento de denúncia ao assassinato de Marielle Franco, que continua sem conclusão há mais de oito meses do ocorrido, e ao de Moa do Katendê, capoeirista morto à facadas em um bar de Salvador por motivos políticos.
Por Jéssica Rodrigues, para a Secretaria Nacional de Mulheres do PT