Zé Dirceu faz chamado à luta em lançamento do ‘Memórias’ em São Paulo
Cercado de apoiadores, líder histórico falou sobre o papel do PT na resistência ao governo Bolsonaro e defendeu que a condenação de Lula seja anulada
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Mais de cinquenta anos desde a estreia no movimento estudantil, José Dirceu voltou à PUC de São Paulo para o lançamento do primeiro volume de seu ‘Memórias’, nesta segunda-feira (12). A noite de autógrafos lotou a arena do Tuca.
Muito aplaudido, ele se disse emocionado de voltar ao lugar onde brotou o movimento estudantil do qual surgiria a articulação popular e a luta revolucionária contra a ditadura.
Lideranças, militantes, fundadores, jornalistas e estudantes ouviam as atentos as análises históricas do ex-ministro e das semelhanças entre o atual momento do País e os movimentos que levaram ao golpe de 64. “É a generosidade da militância, dos partidos e do Brasil que nos recoloca no caminho”, disse. O ator Sergio Mamberti abriu o evento.
Em pouco mais de uma hora, o líder histórico do PT falou sobre democracia, economia, e qual será o papel do partido e da esquerda no enfrentamento desses anos sombrios que virão.
Confira os principais trechos:
Lula e o legado do PT
Se o caso do ex-presidente já era preocupação internacional, a nomeação de Sergio Moro e as falas recentes do General Villas Bôas não deixam dúvidas de que a prisão de Lula é política. Dirceu defende que a condenação seja anulada. “Esse tema tá liquidado”, diz. Ele alerta que, como Lula, outros pode ser interditados no governo Bolsonaro.
Dirceu elogiou o heroísmo campanha de Fernando Haddad, que multiplicou as intenções de voto em pouco mais de vinte dias. “Nosso projeto empoderou a classe trabalhadora, não só com renda, mas com poder político e cultural. Fizemos uma distribuição nunca vista na história desse país”
Para o futuro, defendeu que o partido dê com mais atenção ao contato com as bases de sua fundação. “O governo nos afastou na vida e do dia a dia do povo”, opina. Também rechaçou o abandono das políticas pró-mulheres, negros e LGBTs, outro legado dos governos petistas sob ataques à direita e à esquerda. “Nós não temos que abrir mão dessas causas, temos é que voltar ao povo.”
Resistência e oposição política
Dirceu lembra que o levante social contra as incoerências econômicas e o ataque à liberdade é que levaram ao endurecimento do regime. “Começou mesmo como golpe, mas só se transformou naquilo depois. Eles perderam uma eleição em 66 e foi dali em diante a ditadura extinguiu partidos, acabou com as eleições e iniciou a escalada que culminaria no AI-5”.
Embora alerte para os riscos, ele é otimista e considera a as manifestações do ‘#EleNão’ a grande força na luta contra o autoritarismo, também expressa nos 47 milhões de votos do PT no segundo turno. “Ao contrário de 64, o país hoje é outro. Não temos poder econômico, militar, institucional, mas temos poder social, cultural e democrático”, diz.
Não à toa, cultura e educação são os principais alvos da aliança de extrema-direita.
A ameaça Bolsonaro
O grande perigo do governo Bolsonaro é a agenda privatista e antinacional de Bolsonaro em relação às riquezas. Dirceu aponta que o que está em jogo não só mera exploração do pré-sal, mas sabotar qualquer projeto soberano de crescimento. “É dessa renda que eles querem se apropriar. Como as ditaduras teocráticas se apropriaram…”
Não será fácil enfrentar um governo que foi eleito sobre uma base social considerável tem bastante tempo pela frente e já mostra desde já que não aceita a oposição. “O caldo de cultura do Bolsonaro traz discurso da ordem, do crime e do fundamentalismo religioso. Isso é muito perigoso, só guerras étnicas são piores que as religiosas.”
Mas é possível, diz o ex-ministro, com sabedoria política e união dos partidos da esquerda em uma agenda mínima em comum. “Suponho que esse programa mínimo é oposição ao governo, defesa da democracia, da soberania nacional e de reformas políticas, estruturais, sociais e econômicas que levem à distribuição de renda, da riqueza.”
Por Thais Reis, da Agência PT de Notícias