Golpe será barrado com a força das ruas, diz Guilherme Boulos

Artistas, movimentos sociais e militantes independentes realizam ocupação cultural em São Paulo para lutar contra o golpe

O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, afirmou nesta quarta-feira (13) que o próximo desafio do povo brasileiro é impedir o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. A votação do pedido de impeachment de Dilma deve acontecer no próximo domingo (17), na Câmara dos Deputados.

“Temos o desafio de barrar este o golpe por todas as formas, por todos os meios. Nas praças, nas ruas, como já fizemos. E como faremos no dia 17, dia da votação”. Ele foi um dos debatedores que participou do Ocupe a Democracia, no Largo da Batata, em São Paulo. Pelo menos mil pessoas assistiram à discussão e participaram das intervenções artísticas. Além de Boulos, estavam presentes a cantora e compositora Anelis Assunção, o jornalista e comentarista esportivo Juca Kfouri, o jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto e a atriz Letícia Sabatella.

Ocupe a Democracia e Música pela Democracia continuam em São Paulo até dia 17 (Foto: Paulo Pinto/Agência PT)

Ocupe a Democracia e Música pela Democracia continuam em São Paulo até dia 17 (Foto: Paulo Pinto/Agência PT)

Boulos alertou que o golpe em curso não significa apenas a substituição do governo, mas também “porque é conduzido por um dos maiores bandidos da política brasileira”. “É golpe porque impeachment, apesar de previsto na Constituição brasileira, precisa de crime de responsabilidade. É o argumento jurídico”. Ele criticou o vice-presidente, Michel Temer, que “quer se tornar presidente de maneira rasteira”. “Seu o partido é o partido das ratazanas na política brasileira. Esta pessoa, seguramente, não teria condições de governar o Brasil”, afirmou.

Ele ainda convidou manifestantes a participar de mobilizações no dia 17 de abril e afirmou que o golpe vai ser barrado com a força popular: “A política transbordou dos gabinetes para as ruas”.

Boulos lamentou que esteja em curso uma tentativa de derrubar o governo que quer destruir conquistas sociais e impedir a continuidade de lutas por demandas como reforma agrária, reforma urbana, tributação de grandes fortunas e reforma tributária. “Somos contra o golpe pelo que vem junto. Pelo pacote do golpe. E o que vem junto é um atentado à nossa limitada e precária democracia (…) Golpistas querem fazer no país uma política no Brasil de terras arrasadas”.

Sakamoto foi o primeiro debatedor a falar. Ele ressaltou a importância da resistência ao golpe e afirmou que o impeachment é indefensável. “Vai provocar um esgarçamento nas instituições democráticas que levamos tantos anos para construir”.

O jornalista queixou-se sobre o clima de ódio existente no país, presente, algumas vezes, entre crianças e jovens que discriminam quem votou em uma ‘candidata errada’. “Tem algo errado neste país”, criticou.

Anelis Assunção reforçou a importância de os cidadãos não deixarem de se informar sobre acontecimentos políticos e os aspectos em disputa no país atualmente. “Hoje a gente é obrigado a saber quem é o Eduardo Cunha e o que ele representa”, disse a cantora. “Eu acredito que tudo isto hoje, todos estes dias desta semana, neste país inteiro, é muito importante. Tudo o que a gente tem agora – falo inclusive como mãe – penso diariamente no que falar para eles (filhos) sobre isto que está acontecendo, do que a gente não vê. Busco informações, não a verdade absoluta, não sei se ela existe”, completou.

“Sou uma cidadã, sou mulher, sou bege, porque meu pai é negro e minha mãe é branca, assim como a maioria da nossa população (…) Faço música de resistência. É poesia que eu tenho para oferecer”.

Juca Kfouri iniciou sua fala lembrando que esta é uma luta contra o golpe, que ultrapassa a defesa de qualquer governo. “Já que fui apresentado como jornalista corintiano, quero dizer que sou um jornalista corintiano democrata. Que não imaginava viver de novo o que estamos vivendo hoje. Não tenho dúvidas de que há um golpe em andamento”.

Ele criticou a indisposição do Parlamento com a presidenta desde o início do mandato e questionou a legitimidade de alguns membros do Congresso que apoiam o impeachment sem que haja crime de responsabilidade, e são acusados de corrupção. “É curioso, nós estamos em um processo de impeachment comandado por um cidadão que está em todas as listas de corrupção que se faça nesse país, está na Lava Jato, está no Panamá, está em tudo!”

“O nome de Dilma Rousseff não está em nenhuma lista“, disse o jornalista, enquanto a plateia respondia com gritos de ‘Fora Cunha‘.

Letícia Sabatella disse estar encantada com o clima das mobilizações e lamentou que existam tantas difamações e campanhas de ódio promovidas por alguns setores de oposição à Dilma. “Nada que tire o poder do cidadão pode ser legítimo. Nada que tire o que povo conquistou pode ser legítimo”, afirmou. “Não vai ter golpe!. Porque é um golpe: pode tirar o clamor, o fervor das manifestações”.

A atriz citou a importância de se discutir uma agenda de desenvolvimento sustentável que esteja em sintonia com as metas das Nações Unidas, em um debate que deve ter ampla participação popular – possível somente com a democracia.

Este debate fez parte da programação do Ocupe a Democracia que, desde o último domingo (10) até dia 17, realizará intervenções artísticas no Largo da Batata como forma de manifestação contra o golpe. Em seguida, continuaram as apresentações musicais na praça.

Foto: Paulo Pinto/Agência PT)

(Foto: Paulo Pinto/Agência PT)

“O #OcupeaDemocracia contém uma programação com múltiplas linguagens e diversos atores sociais, com uma agenda que envolve debates, mesas, picnics, oficinas e espetáculos de rua e shows. Faremos um grande acampamento permanente na praça. Traga sua barraca, sua arte, seus sonhos para partilhar com a gente!

O ódio, a intolerância, o preconceito e o golpismo não nos representam. Queremos uma democracia com mais amor e pluralidade”, declaram os organizadores da ocupação.

No final, foi divulgado um vídeo da campanha #MúsicaPelaDemocracia. Assista:

Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias

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