40 anos de redemocratização: Ditadura, nunca mais!
Há quatro décadas, em 15 de março de 1985, José Sarney era empossado como presidente da República, encerrando 21 anos de um dos capítulos mais sombrios da história brasileira
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A luta pela redemocratização do Brasil, bandeira que repousa no cerne da criação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980, culminou, após a vibrante Campanha das Diretas que varreu o país em 1984, com a posse do primeiro civil na Presidência da República, no ano seguinte. Em 15 de março de 1985, José Sarney assumia o cargo, encerrando um ciclo de 21 anos de uma ditadura militar tenebrosa, que se valeu do terrorismo de Estado para amordaçar a liberdade e assassinar opositores.
Sarney assumiu em meio ao trauma nacional causado pela morte de Tancredo Neves, que havia derrotado, em 15 de janeiro, Paulo Maluf (PDS) no Colégio Eleitoral, em uma eleição indireta que parou o país. A vitória foi esmagadora: 480 votos contra 180. “Tenho a honra de dizer que o meu voto enterra a ditadura funesta que infelicitou a minha pátria”, afirmou, emocionado, o deputado João Cunha (PMDB-SP), cujo voto, de número 344, assegurou a o triunfo de Tancredo.
“Esta foi a última eleição indireta do país”, proclamou Tancredo, em seu discurso. “Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis ao bem-estar do povo”. Infelizmente, o destino não lhe deu tempo de realizar seu projeto de país. Ele foi internado na véspera da posse, no dia 14 de março, e morreria por complicações de uma diverticulite pouco mais de um mês depois, no dia 21 de abril.
O senador e presidente do PT Humberto Costa (PE) celebrou a data e reforçou a defesa da democracia e de instituições livres. “Essa foi uma conquista assegurada com muita luta e pela qual muitos brasileiros deram as suas vidas”, destacou o senador.
São 40 anos de democracia. Quatro décadas da garantia de voto e de voz do nosso povo. Essa foi uma conquista assegurada com muita luta e pela qual muitos brasileiros deram as suas vidas. Seguimos firmes na defesa dos nosso direitos. Sem anistia para quem ataca a democracia! pic.twitter.com/34LBWD4ixS
— Humberto Costa (@senadorhumberto) March 15, 2025
O papel de Sarney na transição democrática
José Sarney desempenhou um papel crucial na transição para a democracia. Sua Presidência inaugurou um canal permanente de diálogo com a sociedade civil e pavimentou o caminho para a promulgação da Constituição de 1988. Democrata convicto, o presidente Lula manifestou-se sobre a data e a importância da atuação de Sarney para o Brasil. “O presidente José Sarney governou sob a constante ameaça dos saudosos da ditadura, mas com extraordinária habilidade e compromisso político criou as condições para que escrevêssemos a Constituição Cidadã de 1988, e mudássemos a história do Brasil”, observou Lula, em postagem nas redes sociais.
Mais que a posse de um presidente da República, 15 de março de 1985 será lembrado como o dia em que o Brasil marcou o reencontro com a democracia.
O presidente José Sarney governou sob a constante ameaça dos saudosos da ditadura, mas com extraordinária habilidade e compromisso…
— Lula (@LulaOficial) March 15, 2025
“A luta pela redemocratização do país custou sacrifício e a vida de muitos que ousaram enfrentá-la”, recorda a ministra da Secretaria de Relações Institucionais e ex-presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. “O presidente Sarney cumpriu papel histórico naquele período de transição, em que foi votada a nova Constituição e realizada a primeira eleição direta para presidente depois da ditadura”, reconhece a ministra.
Há exatamente 40 anos José Sarney tomou posse como primeiro presidente civil após o golpe de 1964. A luta pela redemocratização do país custou sacrifício e a vida de muitos que ousaram enfrentá-la. O presidente Sarney cumpriu papel histórico naquele período de transição, em que…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) March 15, 2025
Gleisi aponta ainda que Sarney deve ser reverenciado, sobretudo no atual contexto de luta incessante pela democracia, recentemente ameaçada pelo golpismo de Bolsonaro e seus aliados. “É importante homenageá-lo nos tempos atuais, em que temos de defender a democracia novamente, frente aos que tramaram golpes contra a soberania popular em nosso país”.
Em entrevista à GloboNews, na quinta-feira (14), Sarney compartilhou suas impressões sobre a posse e seu papel na transição democrática. “Eu estava absolutamente perplexo e sabia exatamente o que era assumir a responsabilidade de governar um país tão grande e com problemas tão complexos como o Brasil”, confessou.
Ainda estamos aqui
O mês de março de 2025 também é um marco para a democracia brasileira, ao promover mais um encontro do país consigo mesmo: em 2 de março, o filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, foi laureado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, expondo ao mundo as entranhas da ditadura militar e seus horrores.
O filme, um sucesso de bilheteria tanto no Brasil quanto no exterior, lança luz sobre os crimes perpetrados pela ditadura, ao narrar a história da família de Rubens Paiva, um democrata que foi assassinado pelo Estado brasileiro nos porões do regime militar. A trajetória de sua esposa, Eunice Paiva, personifica a resiliência e a esperança em um mundo livre de opressões de qualquer natureza. Assim como o longa-metragem de Walter Salles, os 40 anos da redemocratização atestam que, apesar dos percalços, persistimos. Ainda estamos aqui, o povo brasileiro e sua indomável sede de liberdade.
Da Redação, com Agência Câmara de Notícias