80% dos mortos na troca de tiros entre polícia e tráfico são negros
Além de Kathlen Romeu, morta no Rio em 8 de junho, outras mulheres grávidas também perderam a vida da mesma maneira. Homicídios de pessoas negras cresceram 11,5% entre 2008 e 2018
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Análises de boletins de ocorrência de todo o país, realizadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam que pessoas negras são as maiores vítimas da troca de tiros entre as polícias e o tráfico no Brasil. A mais recente vítima, Kathlen Romeu, foi morta nesta terça-feira, 8, em um fogo cruzado no Rio de Janeiro.
A jovem de 24 anos estava grávida de 14 semanas quando foi atingida por um tiro de fúzil no tórax, durante uma operação policial na comunidade do Lins de Vasconcelos, no Rio de Janeiro. A família acusa a Política Militar de ter feito o disparo, mas a corporação nega. Quase 80% das mortes resultantes dessas operações são de negros, segundo os dados obtidos pelo FBSP.
Conforme dados do Atlas da Violência 2020, os homicídios de pessoas negras cresceram 11,5% na década entre 2008 e 2018, no caminho inverso dos homicídios de brancos, amarelos e indígenas, que caíram 12,9%.
O secretário Nacional de Combate ao Racismo do PT, Martvs Chagas, lamenta “o gigantesco iceberg da morte e da violência contra a população negra no Brasil”. Ouça abaixo:
Outra informação do Atlas é que a disparidade racial foi evidenciada pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, também do FBSP, 74,4% das vítimas de homicídio em 2019 eram negros. Segundo o estudo, a taxa de mortalidade de negros e negras brasileiros é quase três vezes maior que a do restante da população, em proporção ao seu tamanho: enquanto morrem 1,5 não negros a cada 100 mil habitantes, morrem 4,2 negros a cada 100 mil habitantes.
Desigualdade racial
As mulheres representam a maior parcela em relação a mortes violentas. Em operações policiais, por exemplo, elas são 0,8% do total de vítimas fatais. As diferenças raciais também se repetem, segundo o Anuário de Segurança Pública. Entre 2008 e 2018, enquanto o número de mulheres não negras assassinadas no país caiu quase 12%, o de mulheres negras subiu pouco mais de 12%.
Para a deputada federal, Benedita da Silva (PT/RJ), as balas não são perdidas quando sempre encontram os corpos negros. “A morte da jovem Kathlen me dói e eu já não aguento mais chorar por esses motivos. O que acontece nas favelas do Rio é genocídio! Até quando será assim?”
Da Redação, com informações da BBC Brasil