Juros do BC de Bolsonaro continuam emperrando crescimento econômico

Medidas de Lula aquecem atividade e varejo surpreende com alta de 3,2% em março, em comparação a 2022. Mas Selic de 13,75% dificulta crédito. “Os juros comprometem a estabilidade econômica”, critica José Guimarães

Agência Brasil

O setor do varejo avança, apesar do juros escorchantes de Campos Neto

Como previu o presidente Lula, a economia brasileira já apresenta resultados positivos neste primeiro trimestre, graças às medidas de aquecimento do setor produtivo adotadas pelo governo desde janeiro. O setor do varejo, por exemplo, surpreendeu e apresentou uma alta de 3,2% em março, quando se compara ao mesmo mês de 2022, conforme divulgou o IBGE na quarta-feira (17). As projeções apontavam retração de 0,10%. Em relação a fevereiro, a alta foi de 0,8%, a primeira desde março de 2018. A expectativa era de uma queda de 0,8%. Analistas avaliam, no entanto, que os indicadores poderiam ser melhores não fosse pela taxa de juros do Banco Central (BC), hoje em 13,75%.

Instrumento que deveria servir para o controle da inflação, a Selic tem sido usada para emperrar o acesso ao crédito a empresas e famílias e impedir investimentos no país. Na direção contrária ao remédio amargo aplicado pelo BC do bolsonarista Roberto Campos Neto para uma inflação em queda (4,18%) estão o pagamento do novo Bolsa Família, o aumento do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda, além de linhas de crédito para micro e pequenas empresas.

Com isso, o setor do varejo já se encontra 4,3% acima do patamar de antes da pandemia, em fevereiro de 2020. “O mercado de trabalho mais forte do que o esperado e o estímulo fiscal apoiaram os gastos das famílias”, aponta uma análise assinada pelos economistas Natalia Cotarelli e Matheus Fuck para o Itaú Unibanco. A trajetória positiva, contudo, pode não se sustentar, caso a taxa de juros permaneça na estratosfera.

“Apesar disso, esperamos alguma desaceleração nas vendas no varejo nos próximos meses em meio aos efeitos defasados da política monetária”, destaca o documento, em referência ao arrocho monetário do Banco Central. Mesmo com o alerta de perda de fôlego do setor, o banco confirmou um crescimento do PIB de 1,3% para 1,4 no trimestre.

Assista a série “Banco Central de Bolsonaro: sabotador da economia brasileira”

Setor de serviços também avança

Na terça-feira, o IBGE também apresentou dados positivos no setor de serviços. Em março, o volume de serviços subiu 0,9% em relação a fevereiro. Segundo a agência Reuters, a expectativa de analistas era de um crescimento menor, de 0,5%.

“O setor de serviços tem sido o grande protagonista, fez a gente rever o PIB para cima”, reconheceu à Folha de S. Paulo o economista Igor Cadilhac, do banco Original, ao apontar os avanços do setor depois de uma queda em janeiro. O banco reajustou as projeções de crescimento do PIB no trimestre para 1,1% e 0,8% no acumulado do ano, ante os 0,5% e 0,7% anteriores.

O que falta para o BC baixar os juros?

Para tornar o ambiente macroecônomico do país mais seguro e fomentar a atividade produtiva, o governo entregou, sem demora, em abril, a proposta de um novo regime fiscal, que irá substituir o teto de gastos. As novas regras, cuja urgência de votação do projeto de lei complementar foi aprovada na quarta, na Câmara dos Deputados, asseguram  o compromisso fiscal do governo com as contas públicas, sem deixar de lado a responsabilidade social.

Com previsão de votação na próxima semana, as regras precedem uma necessária reforma tributária, cuja proposta o governo pretende ver aprovada no Congresso antes do fim do ano.

Em um cenário de inflação em constante desaceleração, o que falta então para o imodesto Campos Neto parar de atrapalhar um governo eleito pelo voto popular e que tem uma agenda de reconstrução do país?  A única agenda de Neto tem sido permitir que recursos que poderiam ser investidos em políticas públicas em benefício do povo brasileiro, como a construção de escolas e rodovias, sejam drenados para o rentismo.

Gasto tributário e juros

“Vencida a etapa da regra fiscal e da reforma tributária, nós vamos abrir uma avenida para discutir o que é estratégico para o país”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antes da votação, durante debate das comissões de Desenvolvimento Econômico de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle, na Câmara.

Haddad citou, além dos gastos tributários, as despesas do governo com juros da dívida pública, hoje da ordem de R$ 740 bilhões, um custo desnecessário causado pela Selic de Campos Neto.

“Vejam que curiosidade: o gasto injustificado alimenta o juro real porque é o desequilíbrio das contas públicas promovido pelo gasto tributário que faz com que o Banco Central suba o juro por insustentabilidade da trajetória da dívida pública”, disse Haddad, ao apontar que há espaço para uma redução da Selic.

“Somando gasto tributário com [gasto com] juros da dívida pública, [dá] R$ 1,3 trilhão. Esse deveria ser nosso objetivo, [a redução]. Para quê? Para sobrar espaço fiscal para investir, para construir estradas, ferrovias, hidrovias, escolas, universidades, para dar condições ao povo, que está numa situação mais difícil, ter acesso à educação profissional, a uma renda mínima”.

Gleisi: “Vemos posicionamento político do presidente do BC”

Presente na sessão da Câmara, a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu a proposta do governo e a atuação de Haddad. E voltou a cobrar de de Campos Neto uma redução dos juros. “Hoje temos um problema, o Banco Central que não baixa a taxa de juros”, lamentou a deputada.

“O que estamos vendo é um posicionamento político do presidente do BC, que dá entrevistas na mídia, fala em palestras para investidores, mas não atende os convites para vir até essa Casa”, criticou. “Ele tem que vir aqui para tentar justificar porque temos uma taxa de juro real de 7% ao ano (13,75% no total), quando a inflação está em 5,5%”.

Trava ao crédito e ao investimento

“Sabemos a importância do investimento público, e o governo está fazendo a sua parte, mas isso [juro alto] impede o crédito e o investimento privado e torna mais difícil a geração de empregos e o desenvolvimento econômico e social do país”, frisou Gleisi.

O deputado federal e líder do governo na Câmara José Guimarães (PT-CE), também foi crítico à política de Campos Neto de sabotagem ao crescimento brasileiro. “Eu queria muito que o presidente do Banco Central, a autoridade monetária do país, levasse em conta que a alta taxa de juros compromete a estabilidade econômica e o pleno emprego. Essa taxa de juro compromete o plano de voo do governo que prevê estabilidade e crescimento econômico”.

Da Redação, com Folha

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