Prejuízos das empresas no 1º trimestre refletem danos dos juros altos do BC de Bolsonaro

Por outro lado, rentistas fazem a festa às custas da destruição da economia brasileira

Tânia Rêgo/Agência Brasil

O fechamento de lojas e o desemprego estão entre as principais repercussões desse cenário de destruição da economia brasileira

Os resultados das empresas no primeiro trimestre aprofundam o desastre causado pelos juros altos praticados pelo Banco Central (BC) presidido por Roberto Campos Neto. Os dados mostram que os rentistas seguem lucrando com essa política, enquanto outros setores, como o varejo, amargam grandes prejuízos, pressionados pelos custos financeiros. O fechamento de lojas e o desemprego estão entre as principais repercussões desse cenário de destruição da economia brasileira.

Um dos dos gigantes do setor varejista do pais, o Magazine Luiza, por exemplo, teve um prejuízo líquido de pouco mais de R$ 391,2 milhões de janeiro a março deste ano, conforme balanço divulgado na segunda-feira (15). No mesmo período do ano passado, a companhia registrou um resultado negativo de R$ 161 milhões. Ou seja: o prejuízo líquido aumentou 143% de um ano para o outro. O desempenho foi afetado pela taxa de juros mais elevada e pelo aumento das despesas financeiras, informou a empresa, em nota.

As despesas financeiras líquidas do Magazine totalizaram R$ 632,4 milhões no trimestre, ante R$ 442,1 milhões na comparação ano a ano. Em relação ao mesmo período de 2022, a companhia informou, no comunicado, que “as despesas aumentaram 2,1 pontos percentuais devido ao aumento da taxa de juros”, que se mantém a 13,75% desde agosto e é a maior praticada no mundo.

Esse é o quinto prejuízo trimestral consecutivo e o maior tombo do Magazine Luiza desde 2011, quando abriu capital e entrou para a bolsa de valores. A companhia fechou 175 pontos físicos nos últimos 12 meses, sendo nove lojas, um centro de distribuição e, o restante, quiosques. No primeiro trimestre de 2023, foram 37 fechamentos de quiosques.

Também como consequência dos juros altos, as taxas de inadimplência do LuizaCred pioraram tanto em relação ao trimestre anterior quanto na comparação com o ano anterior, com a inadimplência acima de 90 dias aumentando 4 pontos percentuais em relação ao ano anterior e 0,4 ponto percentual em relação ao trimestre.

Veja a série “Banco Central de Bolsonaro, sabotador da economia brasileira”

Outra gigante varejista, a Marisa (AMAR3) registrou um prejuízo líquido de R$ 149 milhões no primeiro trimestre de 2023, número 64,2% maior do que os R$ 90,7 milhões registrados no mesmo período do ano passado. “O volume de peças vendidas caiu 11,7%, de 12,9 milhões no primeiro trimestre de 2022 para 11,4 milhões na base de vendas mesmas lojas”, disse a Marisa em nota divulgada na segunda-feira (15). Esse recuo é mais um dado a confirmar que, ao contrário do que insiste em sustentar o presidente do BC, o Brasil não enfrenta uma inflação de demanda que justificaria as altas taxas de juros.

Já a BRF (BRFS3), dona das marcas Sadia e Perdigão, reportou prejuízo líquido de R$ 1,024 bilhão no primeiro trimestre do ano, recuo de 35,2% em relação ao mesmo período de 2022, quando a empresa teve resultado negativo de R$ 1,58 bilhão. A perda foi maior do que a esperada pelo consenso Refinitiv, que projetava prejuízo líquido de R$ 514 milhões. A companhia atribui o resultado a problemas conjunturais, como o peso do alto nível de juros no Brasil, que afeta o consumo das famílias no mercado interno, e a alta oferta de carne de frango no mercado global, que entregou margem negativa no período.

As taxas de juros escorchantes defendidas por Campos Neto também afetam a construção civil, setor vital na cadeia produtiva do setor de habitação. Levantamento da Raio-X FipeZap+ revela que, no primeiro trimestre, 40% dos brasileiros tinham intenção de comprar um imóvel nos próximos três meses. É o menor patamar em três anos. Os dados foram coletados com base na intenção de compra de 1.077 usuários dos portais de venda de imóveis Zap+ e Viva Real entre janeiro e março deste ano. Somada aos juros altos, a queda na renda das famílias dos últimos quatro anos também prejudica a capacidade de pagamento dos trabalhadores.

“O setor da construção civil é o fundamento da retomada econômica pelo investimento em infraestrutura no país. Mas com o nível de juros em favor do improdutivo rentismo, o 1° trim/23 registrou a queda de 40% na intenção de compra de imóveis residenciais, o mais baixo desde 2020”, criticou o economista Marcio Pochmann, pelo Twitter, ao tomar conhecimento do levantamento da Raio-X FipeZap+.

Alegria do setor financeiro

Por outro lado, a política de juros altos adotada pelo Banco Central de Campos Neto tem feito a alegria das instituições financeiras. O Banco do Brasil, por exemplo, informou um lucro líquido ajustado de R$ 8,5 bilhões no primeiro trimestre de 2023.

Já o Bradesco (BBDC4) registrou lucro recorrente de R$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23). Por sua vez, o Itaú Unibanco obteve lucro líquido recorrente recorde de R$ 8,435 bilhões no primeiro trimestre, o que representa alta de 10,0% na comparação com o trimestre imediatamente anterior e avanço de 14,6% em 12 meses.

A política adotada pelo BC foi alvo de críticas do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, durante entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (15). Ele defendeu o direito do presidente Lula de divergir e questionar o patamar da Selic: “por que não se pode discutir a taxa de juros?”.

Mercadante também criticou declarações feitas por Campos Neto na tentativa de justificar a política do BC. “Eu vi a fala do Roberto Campos Neto que ele falou ‘não, taxa de juros é que nem antibiótico, precisa concluir o tratamento’. Eu acho que é uma boa imagem o antibiótico, você tem um ciclo de tratamento. Agora, a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, afirmou o presidente do BNDES.

Da Redação

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