Ainda em liberdade, Bolsonaro aproveita para conspirar contra o país e explorar drama dos brasileiros na guerra

Graças às negociações diplomáticas do governo Lula, os nomes de 34 pessoas que tentam voltar ao Brasil foram incluídos em lista para sair da Faixa de Gaza

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É difícil de entender Bolsonaro preocupado com a vida de alguém, após ignorar a morte de mais de 700 mil brasileiros na pandemia

Ainda em liberdade, Jair Bolsonaro, alvo de mais de 600 processos na Justiça, aproveita os dias que lhe restam fora da cadeia para seguir conspirando contra o próprio país e espalhar mentiras, com o apoio do seu rebanho. Principal mentor dos atos golpistas de 8 de janeiro, o inelegível voltou a ameaçar a soberania nacional ao estimular uma crise entre o Brasil e Israel e fazer politicagem com a vida dos 34 brasileiros que esperam autorização para escapar da guerra na Faixa de Gaza.

Graças às negociações diplomáticas do governo Lula, que incluíram vários telefonemas do próprio presidente com lideranças envolvidas no conflito, os nomes dos brasileiros foram incluídos na lista de estrangeiros autorizados a deixar o enclave palestino.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, assim que for permitida a passagem pela fronteira com o Egito, o grupo embarcará em um avião da Força Aérea Brasileira de volta ao Brasil. Desde o início da guerra, há um mês, nove voos da FAB já repatriaram 1.445 brasileiros que estavam em Israel e na Cisjordânia.

Da nova conspiração da extrema-direita, a única parte tornada pública ocorreu na quarta-feira (8), quando Bolsonaro se sentou ao lado do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, em uma reunião com parlamentares da oposição, na Câmara dos Deputados.

O encontro, no qual o embaixador exibiu imagens do ataque do Hamas a Israel, ocorrido em 7 de outubro, foi marcado também por um ato contra o governo Lula, justamente no momento mais delicado das negociações diplomáticas para o resgate dos brasileiros.

A participação do embaixador no evento teve uma péssima repercussão e aumentou ainda mais as preocupações com a vida dos brasileiros sob os bombardeiros na Faixa de Gaza, já que eles haviam sido preteridos em várias listas de estrangeiros autorizados a deixar a região.

Perguntado, em entrevista, sobre o episódio, Daniel Zonshine disse não ter convidado Bolsonaro para a reunião. Porém, essa versão foi derrubada com a divulgação, nas redes sociais, de fotos em que aparecem, lado a lado, acima da mesa do evento, prismas com os nomes do embaixador e do ex-presidente.

Exploração do drama dos brasileiros

Mas a desfaçatez de Bolsonaro e milicianos não parou por aí. Em um oportunismo rasteiro, e com a ajuda de sempre dos seus robôs nas redes sociais, eles começaram a espalhar a fake news de que a inclusão dos brasileiros na lista de autorizados a deixar a Faixa de Gaza se deveu a uma negociação direta entre Bolsonaro e o governo de Israel

O próprio inelegível disse, em entrevista à CNN Brasil, ter conversado com Yossi Shelley, um dos assessores do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e pedido o apoio de Israel para a liberação de brasileiros.

É muito difícil entender esse “empenho” de Bolsonaro, porque, até então, ele e seu rebanho só haviam se manifestado em defesa de Israel na guerra, sem esboçar qualquer preocupação com os brasileiros retidos na Faixa de Gaza. Além do mais, da mesma forma que o governo israelense, os bolsonaristas associam os habitantes do enclave palestino, inclusive civis, ao terrorismo. Então, de onde vem toda essa atenção?

Difícil também de entender como Bolsonaro foi capaz de se preocupar com a vida de alguém, após imitar e debochar de uma vítima da covid-19 com falta de ar, de dizer “e daí, não sou coveiro”, ante os mais de 700 mil mortos pela pandemia no país; de promover o genocídio dos yanomamis, evitado, a tempo, pelo governo Lula; de defender a tortura, de bradar “minha especialidade é matar”, de propor “vamos metralhar a petralhada”, entre outros discursos de morte.

“É nojenta a maneira como Bolsonaro e seus aliados tentam se aproveitar do drama dos brasileiros (as) ameaçados pelo massacre da população civil de Gaza”, disse a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

“34 brasileiros e brasileiras, a metade crianças, seguem retidos na fronteira com o Egito, e Ciro Nogueira vem mentir que Jair Bolsonaro teria negociado sua libertação com o embaixador de Israel no Brasil”, prosseguiu a parlamentar, referindo-se ao senador e ex-ministro de Bolsonaro, um dos vários aliados que têm alimentado essa mentira.

Gleisi também chamou a atenção para o fato de que, “se isso fosse verdade, seria uma confissão de que os brasileiros foram tratados como reféns de uma articulação política entre Bolsonaro e o embaixador de Israel”. “O Brasil inteiro está acompanhando os esforços da nossa diplomacia, orientada pelo presidente Lula, para resgatar aquelas pessoas. Sem fazer política baixa com vidas humanas”, acrescentou a parlamentar. “Essa gente não presta!”.

Gleisi criticou a atuação do chefe da representação diplomática de Israel no Brasil, por conta de sua participação em um ato contra o governo Lula. “Mais uma vez o embaixador de Israel no Brasil intrometeu-se indevidamente na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro, realizado em pleno Congresso Nacional”, disse a deputada.

“É totalmente condenável a manipulação que fazem de um conflito em que a atuação da diplomacia do Brasil, orientada pelo presidente Lula, atuou desde o início pela construção de uma solução pacífica, na ONU e junto aos países envolvidos no conflito, a começar por Israel”, ressaltou a presidenta do PT.

Para Gleisi, “a aliança espúria entre Bolsonaro e o embaixador de Israel é mais repugnante ainda porque envolve a segurança e a vida de cidadãos brasileiros mantidos sob cerco e ameaça no massacre militar na região da Faixa de Gaza”.

“O Brasil não admite que questionem nossa soberania. Esta é a lição que o embaixador de Israel não entendeu. O tempo da subserviência acabou junto com o mandato de Jair Bolsonaro, que prestava continência para a bandeira dos Estados Unidos e fez do Brasil um pária entre as nações”, acrescentou.

Diplomacia

Já o chanceler Mauro Vieira, em entrevista à GloboNews, quando perguntado sobre as fake news bolsonaristas, afirmou que isso “não passa de conjecturas”. “Eu não falo com o embaixador de Israel aqui. Eu falo com o chefe dele, que é o ministro das Relações Exteriores”, disse.

Na entrevista, Vieira relatou que, nos últimos 30 dias, tem conversado constantemente com o ministro israelense, que lhe deu a garantia de que os brasileiros seriam incluídos na lista de estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza, o que acabou ocorrendo.

“Os nomes foram incluídos na lista, o que aconteceu é que, hoje, não saíram. Eu só posso me referir a fatos concretos em contatos oficiais, de governo a governo. Eu tenho mantido esses contatos, por instrução do presidente Lula, para viabilizar essa saída o mais rápido possível. O Itamaraty está totalmente envolvido, totalmente focado nessa operação”, enfatizou o chanceler.

Vieira detalhou que, após a inclusão de seus nomes na lista, os brasileiros, que estavam divididos em dois grupos ao sul da Faixa de Gaza, um próximo a Rafah e outro em Khan Yunis, foram reunidos, nesta sexta-feira (10), em um novo endereço, mais próximo da fronteira com o Egito, disponibilizado pela pela embaixada brasileira em Ramala, “para que estejam mais próximos, reunidos, prontos para saírem assim que for autorizada a abertura da passagem”.

Da Redação

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