“A omissão do Conselho de Segurança da ONU é uma ameaça à paz”, diz Lula, no G20
A 2ª Sessão da Reunião de Líderes, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (18), tratou da reforma da governança global, um dos três pilares da presidência brasileira no grupo que reúne as maiores economias do planeta
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Em seu discurso de abertura da 2ª Sessão da Reunião de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, o presidente Lula destacou a necessidade de reformas nas estruturas de governança global, apontando falhas históricas e desequilíbrios que agravam desigualdades sociais e conflitos internacionais. Ele ressaltou que a resposta para os desafios planetários exige um sistema mais inclusivo e eficiente, que priorize a cooperação multilateral.
A reforma da governança global, pauta principal da 2ª sessão, é um dos três pilares da presidência brasileira no G20, grupo formado por 19 das maiores economias do mundo mais a União Africana e a União Europeia. Os outros dois são combate à fome, à pobreza e à desigualdade; e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental).
De forma contundente, Lula denunciou a omissão do Conselho de Segurança da ONU como uma ameaça à paz e à segurança internacional. Segundo ele, o uso indiscriminado do poder de veto pelos membros permanentes paralisa o órgão e perpetua crises. “Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor”, afirmou.
Leia a íntegra do discurso do presidente Lula clicando aqui.
Necessidade de reformas
Lula destacou que o sistema atual de governança global é obsoleto, excludente e incapaz de lidar com os desafios contemporâneos. E defendeu a convocação de uma conferência para revisar a Carta da ONU, com o objetivo de garantir maior representatividade e equidade nas decisões globais. “Apenas 51 dos atuais 193 membros das Nações Unidas participaram de sua fundação. O futuro será multipolar, e aceitar essa realidade pavimenta o caminho para a paz”, ressaltou.
O presidente também criticou decisões que priorizam o setor privado em detrimento de populações vulneráveis, citando como exemplo a crise econômica mundial de 2008, quando “escolheu-se salvar bancos em vez de ajudar pessoas”. Segundo ele, a globalização neoliberal falhou, alimentando desigualdade, extremismo e violência, ao mesmo tempo em que fragilizou a democracia em diversos países.
Propostas concretas
Entre as soluções apresentadas, Lula mencionou a necessidade de reformar as instituições financeiras internacionais, como as de Bretton Woods, para rever regras e políticas que afetam em cheio os países em desenvolvimento.“O serviço da dívida externa de países africanos é maior que os recursos de que eles dispõem para financiar sua infraestrutura, saúde e educação”, disse.
Além disso, defendeu uma taxação de 2% sobre o patrimônio de super-ricos, capaz de gerar US$ 250 bilhões anuais “para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais do nosso tempo”. E destacou a importância de regulamentar a inteligência artificial como parte de uma governança global mais equilibrada.
Chamado à responsabilidade
O presidente destacou a importância da ação coletiva, celebrando o fato de o G20 ter incluído, pela primeira vez, a reforma da governança global em sua agenda e aprovado um Chamado à Ação, com o apoio de 40 países. No entanto, reforçou que isso é apenas o início. “A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo. Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita”, declarou.
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Encerrando seu discurso, Lula fez um apelo por mudanças imediatas e citou o poema Congresso Internacional do Medo, de Carlos Drummond de Andrade, escrito durante a Segunda Guerra Mundial. “Para evitar que o título desse poema volte a descrever a governança global, não podemos deixar que o medo de dialogar triunfe”, concluiu.
Leia a seguir o poema de Drummond:
Congresso Internacional do Medo
(Carlos Drummond de Andrade)
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Confira a seguir o boletim da TvPT, diretamente do Rio de Janeiro:
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Da Redação