Abin paralela: Flávio recebeu chefe da Receita para discutir blindagem sobre rachadinhas
Segundo jornal, Tostes Neto foi à casa do senador, em 2020, após reunião em que Bolsonaro defendeu acionar os chefes da Receita Federal e do Serpro para barrar investigação sobre possível crime de peculato
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A revelação de que o então secretário da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, foi até a casa do senador Flávio Bolsonaro em Brasília, em setembro de 2020, para ampará-lo e blindá-lo nas investigações sobre possível crime de rachadinha, é mais um escândalo envolvendo o ex-presidente e seus familiares, conforme divulgado pelo jornal Folha de São Paulo nesta quinta (18).
A Polícia Federal confirmou que a visita de Tostes ocorreu poucas semanas após a reunião de Bolsonaro, no Palácio do Planalto, com Alexandre Ramagem, então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e duas advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach. Na reunião o ex-presidente afirmou que era preciso conversar com os chefes da Receita e do Serpro com o intuito de anular as investigações contra o “filho 01”, forma como Bolsonaro se refere a Flávio.
Como se não bastassem os já conhecidos crimes de falsificação de cartão de vacina, roubo de joias, ‘Abin paralela’ e tentativa de golpe, agora vem à tona mais um, caracterizado pela presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, como uso descarado da estrutura de Estado para acobertar crimes e corrupções de Bolsonaro e família.
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“A PF revelou hoje que o chefe da Receita Federal do inelegível atendia Flávio Bolsonaro em domicílio. Isso é que é um negócio de família. Unidos no uso do Estado para acobertar sua corrupção e seus crimes”, escreveu Gleisi.
A PF revelou hoje que o chefe da Receita Federal do inelegivel atendia Flávio Bolsonaro em domicílio. Isso é que é um negócio de família. Unidos no uso do estado para acobertar sua corrupção e seus crimes
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) July 18, 2024
As informações foram publicadas pela Folha três dias após a divulgação de áudios, encontrados pela Polícia Federal no computador de Ramagem, em que fica claro que o ex-presidente usou o cargo e a estrutura do governo para interferir em investigações sobre as rachadinhas, crime de peculato que Flávio é acusado de ter praticado em seu mandato de deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Conforme divulgado pela Folha, Tostes apresentou a Flávio os resultados de uma investigação solicitada por sua defesa a respeito de possíveis acessos ilegais, efetuados por servidores da Receita, a dados dele e de familiares. A advogada Juliana declarou à Globonews que seu cliente teria sido alvo de auditores em um suposto esquema dentro da Receita Federal.
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Unafisco vai processar advogada do filho 01
“As acusações são extremamente graves e potencialmente danosas à reputação dos auditores fiscais e da instituição”, disse, em comunicado ao jornal O Globo, a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco) que decidiu responsabilizar Juliana civil e criminalmente. Ela e outra advogada, Luciana Pires, também foram à casa de Flávio Bolsonaro em setembro de 2020 junto com José Barroso Tostes. Luciana declarou ter “ficado em choque” ao ver que o então presidente estava presente à reunião.
A suspeita é que Juliana Bierrenbach tenha pedido uma “devassa” contra auditores da Receita Federal. As investigações da PF mostraram que a “Abin paralela” monitorou auditores fiscais e atuou para descobrir “podres e relações políticas” dos servidores. Em nota a Unafisco informou que “não hesitará em tomar todas as medidas legais, civil e criminalmente, para proteger a reputação dos auditores fiscais”.
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Conforme publicado pelo jornal O Globo, a afirmação de Luciana está na gravação de uma reunião em que as advogadas consideraram “atuar numa ação para descredibilizar investigação da Receita que tinha o parlamentar como alvo. A Unafisco vai interpelar Juliana Bierrenbach por suas recentes declarações de que uma organização criminosa atua dentro da Receita Federal, supostamente agindo contra desafetos políticos”.
A advogada informou que não vai se retratar, segundo o jornal, que divulgou também que num áudio de reunião ocorrida em 25 de agosto de 2020 com a presença de Bolsonaro, Juliana, Alexandre Ramagem e general Augusto Heleno, o ex-presidente “sugere entrar em contato com funcionários públicos, usar agências e órgãos do estado para ter informações que pudessem auxiliar a defesa de seu filho”.
Escândalos em série
O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou o episódio da visita domiciliar de Tostes a Flávio Bolsonaro como um escândalo.
ESCANDALOSO! O filho do presidente da República investigado por organização criminosa num esquema de rachadinhas. O presidente diz que precisa acionar a Receita. O chefe da Receita, a mando do pai presidente, vai à casa do filho investigado prestar explicações a ele.
ESCANDALOSO! O filho do presidente da República investigado por organização criminosa num esquema de rachadinhas. O presidente diz que precisa acionar a Receita. O chefe da Receita, a mando do pai presidente, vai à casa do filho investigado prestar explicações a ele. pic.twitter.com/nJXhC9mzwE
— Humberto Costa (@senadorhumberto) July 18, 2024
Os conteúdos das reuniões de Bolsonaro se tornaram públicos após o ministro do STF, Alexandre de Morais, ter derrubado o sigilo das gravações obtidas pela Polícia Federal. Numa delas, Bolsonaro diz que gostaria de conversar com os chefes da Receita e do Serpro, que possui os dados do Fisco.
Da Redação