Acuado, Bolsonaro insufla provocadores em sua defesa
“Xingando manifestantes de marginais e mais coisas, Bolsonaro ordena antecipadamente a repressão às manifestações no domingo”, denuncia a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. “Por isso deixamos claro”, adverte ela. “Qualquer coisa que acontecer neste domingo você será responsável Bolsonaro! A culpa será sua”.
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O presidente da República, que deveria responder pelos interesses do conjunto da população, elevou o tom das ofensas e das ameaças contra, pelo menos, 70% dos brasileiros, segundo as pesquisas mais recentes. Em sua “live” e durante evento em Goiás, nesta manhã, 5, classificou lideranças políticas, populares e estudantes de “marginais, terroristas, desocupados e maconheiros”.
Acuado pelo fracasso de seu governo, Bolsonaro tenta fugir da responsabilidade pelas mortes por Covid-19 e falência da política econômica de Guedes. Junto com seu vice-presidente, general Mourão, Bolsonaro aposta em aplicar no Brasil a política de Trump, rechaçada pelo próprio Pentágono e pelo Exército norte-americano.
Nesta sexta-feira, a comunidade negra realizou manifestação em frente à Fundação Palmares em Brasilia, em protesto contra o secretário da instituição, Sérgio Camargo que chamou os negros de “escória maldita”. Até domingo, dezenas da manifestações ocorrerão em todo o país. Domingo pela manhã, na Avenida Paulista, em São Paulo, está previsto um grande evento convocado pelas Frentes populares e entidades.
A estratégia de Bolsonaro de orientar suas “bases” a não sair para às ruas no domingo, para tentar esvaziar a manifestação da oposição na Avenida Paulista, não surtiu efeito. As Frentes e entidades, com apoio do PT mantiveram o evento e, diante disso, os bolsonaristas decidiram também organizar manifestação no mesmo local.
As autoridades chegaram a sugerir que bolsonaristas se manifestassem na região do Ibirapuera, onde já existe um acampamento desses grupos, mas eles não aceitaram. Diante da mudança de posição do bolsonarismo, e sem aceitar os apenas da Secretaria de Segurança de SP, haverá duas manifestações no domingo.
O ato da oposição está marcado para as 14h em frente ao Masp, e o outro para as 11h em frente à Fiesp, ambos na Avenida Paulista. Às 10h, no Masp, haverá protesto de movimentos negros contra o racismo.
Ao atacar as manifestações, Bolsonaro voltou a praticar crime de responsabilidade ao ameaçar o pacto federativo, afrontando a autoridade constitucional dos estados. Em tom de subversão à ordem, ele “orientou” as Polícias Militares dos estados para que façam o “seu devido trabalho”, estimulando a repressão contra os manifestantes.
“O outro lado, que luta por democracia, que quer o governo funcionando, quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que não compareçam às ruas nestes dias para que as forças de segurança, não só estaduais, bem como a nossa, federal, façam seu devido trabalho”, disse. Bolsonaro ainda sugeriu que a Força Nacional vai atuar na repressão.
Bolsonaro quer “aprontar”
As manifestações de Bolsonaro sugerem que ele “vai aprontar”, alerta a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). “Xingando manifestantes de marginais e mais coisas, Bolsonaro ordena antecipadamente a repressão às manifestações no domingo”, denuncia Gleisi. “Por isso deixamos claro: qualquer coisa que acontecer neste domingo, você será responsável, Bolsonaro. A culpa será sua”.
O senador Humberto Costa (PT-PE) concorda com a avaliação, dizendo que o governo “já vêm agindo para tentar desvirtuar o caráter das manifestações e dar pretexto à repressão e ao discurso de fechamento do regime” . Humberto orienta os militantes para que resistam às provocações e isolem os infiltrados. Na quinta-feira, o PT divulgou nota assinada pela presidenta Gleisi e pelos líderes do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), e na Câmara, Enio Verri (PT-PR), apoiando as manifestações em todo o país.
Efeito bumerangue
As referências agressivas do presidente Bolsonaro aos manifestantes ignora que as palavras utilizadas estão presentes no noticiário do país, mas envolvendo seu nome e de seus filhos. Uma situação que não é de hoje. No final dos anos oitenta, Bolsonaro foi afastado do Exército, acusado de “mau militar”, exatamente por ameaça de promover ações violentas.
Atualmente, o filho e senador Flávio Bolsonaro responde por patrocinar a prática criminosa da “rachadinha” em seu gabinete, quando deputado estadual no Rio de Janeiro, com auxílio do “amigo” Fabrício Queiróz. Por fim, quando tenta vincular, em especial a juventude, ao vício em drogas, Bolsonaro esquece que avião de sua comitiva oficial foi alvo da apreensão de 39 kg de cocaína, na Espanha. A droga estava na bagagem de um dos militares da missão que se dirigia à reunião do G20, no Japão.
Práticas históricas
O estímulo velado de Bolsonaro à repressão e à provocação remetem às práticas de setores ligados à ditadura militar, especialmente no período mais elogiado por ele. Em 30 de abril de 1981, setores militares insatisfeitos com a abertura democrática organizaram um atentado no Dia do Trabalhador, no Riocentro, no Rio de Janeiro, com objetivo de culpar as forças políticas e entidades responsáveis pelo evento.
A ação de provocação previa plantar bombas dentro do ginásio, que acabaram explodindo antes, por acidente, no colo de dois militares, um sargento e um capitão, que estavam à frente da operação criminosa. Na mesma ação, outra bomba foi colocada na usina elétrica responsável pelo fornecimento de energia para o ginásio, onde se encontravam 20 mil pessoas. O espetáculo era organizado pelo Centro Brasil Democrático, frente política e popular de resistência à ditadura.