Advogados de Lula suspeitam de interferência dos EUA na Lava Jato
Em depoimento no Paraná, delator afirmou que foi procurado pelo governo dos Estados Unidos “para buscar um interesse, entendimento entre as partes”
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O depoimento do ex-executivo da Camargo Corrêa,Eduardo Leite, na audiência em que Luiz Inácio Lula da Silva é réu na Operação Lava-Jato, levantou a suspeita dos advogados do ex-presidente sobre a existência de interferência norte-americana na Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro.
No depoimento, realizado na segunda-feira (21) na Justiça Federal em Curitiba (PR), o advogado Cristiano Zanin Martins perguntou a Leite: “O senhor firmou o acordo de colaboração premiada com o Ministério Público. Também firmou, ou está firmando, com algum órgão dos Estados Unidos?”.
A conversa se desenrolou da seguinte maneira:
Leite: Não, ainda não.
Advogado: Ainda não significa o quê?
Leite: Que eu posso vir a firmar, mas hoje não tenho nada firmado com o governo americano.
Advogado: O senhor está em negociação?
Leite: Também não. Eu fui procurado pelo governo americano no intuito de buscar um interesse, entendimento das partes.
Advogado: Qual foi o órgão que procurou o senhor?
Leite: [inaudível]
Advogado: E o senhor comunicou isso ao Ministério Público ou ao juízo?
Leite: Com certeza. Isso foi partilhado junto ao Ministério Público.
Advogado: A quem especificamente o senhor comunicou?
Leite: Não sei. Meus advogados que podem lhe informar.
Advogado: Ao Ministério Público e ao juízo?
Leite: Não sei lhe dizer. Quem pode lhe informar é meu advogado.
Advogado: Em que status estão essas tratativas?
Leite: Do mesmo jeito que elas começaram. Na verdade, foi uma busca do governo americano através da força-tarefa, no qual nós fomos procurados para saber o intuito, o interesse de haver um partilhamento, da gente participar de um processo…
Advogado: Essa demanda dos Estados Unidos veio através da força-tarefa?
Nesse momento, o procurador Diogo Castor de Mattos interrompeu o advogado: “Essas perguntas já foram indeferidas, relativas a colaboração do exterior”. Em seguida, Sérgio Moro afirmou: “A outra testemunha disse que não ia responder, que não se sentiu segura. A testemunha está respondendo e o defensor dela está aqui presente. Então, se tiver algum óbice, imagino que…”.
O advogado de Lula protestou a ambos: “Se isso não tem relação alguma com os autos… Eu não sou obrigado a adiantar a vossa excelência as estratégias da defesa”.
Tratado de 2001
A suspeita dos advogado de Lula sobre a interferência do governo dos Estados Unidos na Operação Lava Jato, caso se mostre real, confirmaria interferência estrangeira na Justiça e na soberania nacional.
Em tratado firmado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos em 2001, ficou acordado que o Ministério da Justiça tem a exclusividade para tratar questões do tipo. Nunca um juiz de primeira instância.
“A revelação feita em audiência de que o Ministério Público Federal estaria trabalhando junto com autoridades americanas parece não estar de acordo com o tratado que o Brasil firmou em 2001 com os Estados Unidos que coloca o Ministério da Justiça como autoridade central para tratar esse tipo de questão”, disse o advogado do ex-presidente à “Folha de S. Paulo”.
Em nota, o Ministério Público Federal afirmou que “o assunto em questão é sigiloso” e que, portanto, não se manifestaria.
Mais um caso
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco confirmou, atuando como testemunha em audiência de processo penal contra Lula, que está negociando acordos de delação com mais de um país estrangeiro, a respeito das irregularidades de que teria participado na confecção de contratos da estatal.
Embora tenha admitido que está montando esses acordos, ele se recusou a responder as pergunta da Defesa de Lula sobre o teor de tais acordos com autoridades estrangeiras, como, ´por exemplo, se conta com a colaboração de autoridades brasileiras. Com isso, Barusco se tornou um tipo de testemunha processual que não está prevista na lei brasileira: aquela que não tem o dever de responder com a verdade a todas as perguntas que lhe são feitas.
Ele contou com a anuência do juiz Sérgio Moro para manter-se calado no banco das testemunhas quando lhe foram feitas perguntas sobre o tema.
Sobre a acusação específica que faz o MPF-PR ao ex-presidente, de que Lula teria recebido vantagem indevida por meio de um apartamento do Guarujá, Pedro Barusco disse não ter nenhuma informação sobre o caso.
Também disse nunca ter tido nenhuma reunião ou contato com o ex-presidente, tendo o visto apenas em eventos públicos. Em acordo de delação fechado com os procuradores curitibanos, Barusco pagou multa R$ 6,5 milhões e devolveu mais de US$ 90 milhões que recebeu no exterior.
Da Redação da Agência PT de Notícias