Alberto Fernández toma posse na Argentina, ao lado de Cristina Kirchner
Novo mandatário afirma que quer ser “o presidente do diálogo e do encontro, para colocar a Argentina de pé outra vez”. Combate à fome e ao desemprego serão prioridades
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O novo presidente argentino, Alberto Fernández, tomou posse nesta terça-feira (10), em cerimônia realizada no Congresso Nacional, em Buenos Aires. Ele recebeu a faixa e o cetro presidenciais que estavam em posse do ex-presidente Maurício Macri. Em seu discurso, Fernández convocou a todos os argentinos a firmar um novo contrato social, “fraterno e solidário”. Do lado de fora, milhares de pessoas acompanharam a cerimônia, que teve a presença de um Lula gigante, em referência ao ex-presidente brasileiro.
“Fraterno, porque chegou a hora de abraçar ao diferente; e solidário, porque nesta emergência social é tempo de começar pelos últimos para depois chegar a todos. Esse é o espirito do tempo que inauguramos”, afirmou Fernandez, que prometeu recuperar o equilíbrio social, econômico e produtivo na Argentina, abalada por forte crise econômica dos últimos anos, agravada pelas medidas neoliberais adotadas por Macri. O novo presidente afirmou que o país tem “profundas feridas” que necessitarão de “tempo, sossego e, sobretudo, humanidade”, para serem superadas.
Ele lembrou que, para os argentinos, o 10 de dezembro não é “um dia qualquer”, em alusão à posse de Raúl Alfonsín, em 1983, que “sepultou a mais cruel das ditaduras que pudemos suportar”, e também homenageou o ex-presidente Néstor Kirchner, que foi marido da sua vice, a também ex-presidenta Cristina Kirchner. “Não contem comigo para transitar o caminho do desencontro. Quero ser o presidente capaz de descobrir a melhor faceta de quem pensa diferente de mim. Toda verdade é relativa. Talvez, com a soma das confrontações dessas verdades relativas, possamos alcançar uma verdade superadora’, como disse acertadamente Néstor Kirchner”, afirmou Fernández.
Comida e trabalho
O novo presidente destacou como uma das prioridades do seu governo o combate à fome. “Mais de 15 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar em um país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Necessitamos que toda a Argentina unida coloque um freio a essa catástrofe social. Uma em cada duas crianças são pobres em nosso país. Sem pão, não há presente nem futuro. Sem pão, a vida apenas padece. Sem pão, não há democracia nem liberdade.”
Outra prioridade, segundo Fernández, será o combate ao desemprego, com a criação de ocupações formais, prometendo ações para que os beneficiários de programas sociais se insiram no mundo do trabalho. “Hoje o desemprego afeta quase 30% dos jovens e, em taxas ainda mais elevadas, as mulheres jovens. A ideia de um novo contrato de cidadania social supõe unir vontades e articular o Estado com as forças políticas, os setores produtivos, as confederações de trabalhadores e os movimentos sociais, que incluem o feminismo, a juventude e o ambientalismo”.
Fernández também propôs investir no desenvolvimento científico, e atribuiu a atual situação geral do país a aplicação de “muitas más políticas econômicas”, em referência velada ao antecessor. Ele também destacou que não é possível sustentar o pagamento da dívida com o FMI se o país não cresce, e prometeu um “calendário próprio” para o pagamento do empréstimos, sem um cronograma “ditado de fora”.
Saúde, justiça e meio ambiente
O presidente anunciou a recriação do Ministério da Saúde, reduzido a status de secretaria no governo Macri, “para que as crianças sejam vacinadas na idade certa e para que os remédios cheguem idosos mais pobres”. Fernández também ressaltou que não há República nem democracia sem uma justiça independente e denunciou a “deterioração” do Poder Judiciário nos últimos anos. “Temos visto perseguições indevidas, detenções arbitrárias, induzidas por quem governava e silenciada por certas complacências midiáticas. Nunca mais uma Justiça contaminada por serviços de inteligência, por operadores e linchamentos midiáticos.”
Ele também destacou a influência do Papa Francisco em sua agenda de proteção ambiental, reafirmando as condições do Acordo de Paris para promover o desenvolvimento sustentável, porque “os desprotegidos são os que mais sofrem os efeitos das mudanças climáticas.
Ao final, Fernández agradeceu a “generosidade e visão estratégica” de Cristina, que optou abrir mão de uma eventual candidatura para apoiá-lo, e disse como espera ser lembrado, ao final do seu mandato, em 2023, quando o atual período democrático completará 40 ano: “Quero que sejamos lembrados por termos sido capazes de superar a ferida da fome na Argentina. Tomara que deixemos como herança haver reconstruído a nossa casa comum com um grande projeto nacional, do qual todos nós sintamos orgulho. Quero ser o presidente que escuta, do diálogo, do encontro. E quero convocá-los, aos que sintam que me desviei, que saiam às ruas para me lembrar do que estou fazendo”.