Alckmin, finalmente, admite racionamento de água em SP

Após a Justiça cobrar “declaração franca” sobre a escassez de água, governador do PSDB se rendeu ao óbvio

Primeiro, foi um puxão de orelha da juíza Simone Viegas de Moraes Leme, da 8ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que proibiu a multa sobre o consumo extra de água. Depois, o inevitável: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin voltou atrás e admitiu o que os paulistas estão sob racionamento de água há um ano – fato sempre negado por ele.

A juíza, ao proibir a cobrança da multa, pediu uma “declaração franca” quanto à situação de escassez e adoção do racionamento oficial, como exige a lei federal 11.445 de 2007. Alckmin, agora, defende que decisões administrativas da Agência Nacional de Água (ANA) configuravam o racionamento e permitiam a taxa extra.

“Entendemos que a medida tem legalidade, é de justiça e é necessária. O racionamento já existe”, admitiu o tucano, nesta quarta-feira (14), em entrevista depois da troca de comando da Polícia Militar de São Paulo. Segundo ele, quando a ANA determina uma redução de captação de 33 metros cúbicos por segundo para 17 metros cúbicos por segundo, “é óbvio” que o racionamento está em curso. “Não tem que ter decreto. Isso está mais que explicitado”, disse Alckmin.

A magistrada lembrou que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) sempre negou sistematicamente a situação de racionamento. “Identifica-se o equívoco quanto ao posicionamento frente à crise”, afirmou a juíza na decisão. Mesmo com a mudança de postura do tucano, o novo presidente da Sabesp, Jerson Kelman, insiste na negação.

Para Kelman, que deu entrevista ao programa Bom Dia SP, da TV Globo, o problema de restrição é pontual e não atinge toda a região metropolitana – o que não configuraria o racionamento. O presidente da estatal ainda coloca nas mãos de São Pedro – o popular santo católico com alegada jurisprudência divina sobre o clima – a segurança hídrica dos paulistanos.

“Se não chover, o sofrimento da população vai aumentar. Não tem como escapar disso. Nós temos que evitar um caos maior. Nós, como sociedade, não é só a Sabesp, temos que ser mais parcimoniosos com o uso da água”, afirmou.

Irresponsável – Há mais de um ano, Geraldo Alckmin nega a existência de racionamento em São Paulo. Tema explosivo durante a corrida para o Palácio dos Bandeirantes, a falta de água levou o governador a enviar um ofício ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por conta da avaliação da relatora especial para água e saneamento, Catarina de Albuquerque.

Catarina havia concluído que o problema em São Paulo era causado por falta de planejamento do governo estadual. Alckmin, nervoso, exigiu uma retificação do relatório e ameaçou colocar em dúvida a competência da organização para realizar a Cúpula do Clima.

Em agosto de 2014, quando o volume acumulado no Sistema Cantareira estava com 15,1%, Alckmin chegou a dizer que um racionamento seria uma “atitude irresponsável”.

Por Tiago Falqueiro, da Agência PT de Notícias

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