Alckmin prioriza abastecimento de bairros nobres

Levantamento de consumo mostra queda no uso de água nos bairros onde ocorre o racionamento não declarado

Dois pesos, duas medidas. É o que mostra o levantamento divulgado pela Companhia de Saneamento Básico de Estado de São Paulo (Sabesp) sobre o mapeamento da redução do consumo de água no município de São Paulo. De acordo com os dados, os bairros nobres Jardins Paulista, América e Paulista, além de Alto de Pinheiros, Boaçava, Lapa, Sumaré e Perdizes – foi o que menos reduziu o consumo de água no último semestre. De janeiro a junho, o consumo médio saiu de 19,55 m³ para 18,11 m³, na região.

Em contraponto, bairros da Zona Norte, onde as denúncias de falta de água são constantes desde o início do ano, foram os que mais registraram “economia”.  De acordo com a Sabesp de janeiro a junho deste ano, enquanto o consumo médio por residência em Jardins reduziu em apenas 7,4%, na região de Jaçanã, o índice de queda foi de 20,43%. Nos bairros de Jaçanã, Edu Chaves, Jardim Brasil, Vila Mazzei, Jardim Guançã, e parte da Vila Gustavo, o consumo médio por residência caiu de 14,35 m³ para 11,42 m³. Ainda de acordo com o levantamento, o consumo médio de água aconteceu em todo o município, na ordem média de 16,2%.

A interpretação dos dados feita pelo coordenador da frente nacional pelo saneamento ambiental, Edson Aparecido da Silva, é de que, apesar de a população estar tomando medidas para reduzir o consumo de água diante da crise hídrica, a redução compulsória é o fator determinante para os resultados mostrados. “Essas áreas com maior queda coincidem com a área da região norte da cidade e periferia onde houve maior intermitência de abastecimento de água”, explica.

Edson afirma ainda que a postura adotada pelo governo estadual prioriza as áreas nobres e afeta drasticamente as regiões mais pobres da cidade. “Desde o início da crise, as regiões mais periféricas vêm sofrendo com a redução do bombeamento da água, devido a postura que o Alckmin adotou. É verdade que parcela da população aderiu à campanha de redução, mas enquanto as regiões mais pobres têm rodízio disfarçado, não está faltando água para a burguesia paulista”, critica.

A reportagem foi atrás de moradores das duas regiões para entender como funciona na prática. Enquanto na casa da jornalista Ana Paula Cruz, residente em Jaçanã, ocorre cortes de água diariamente, na casa do músico Luiz Pimentel, morador de Jardins, nunca houve sequer interrupção no fornecimento. Apesar disso, o músico explica que sua família aderiu mudanças em prol do bem comum. “Aqui em casa foi uma redução bem brusca. Hoje em dia só lavamos carro em posto, o banho é o mais rápido possível e lavar roupa três vezes por semana só”, conta.

Até o momento, o governo estadual nega a existência de racionamento e apenas informa que reduziu a pressão do bombeamento de água. Para o vereador Paulo Reis, Alckmin só deve mudar a postura quando o problema começar a ser identificado nas zonas mais nobres. “Eles negam o racionamento. Oras, quando uma dona de casa abre a torneira e não tem água isso é racionamento. E, isso acontece principalmente nas periferias. Deixa o problema chegar às torneiras dos Jardins para ver se eles vão continuar com esse discurso de diminuição”, diz.

 

Conscientização Estudo preliminar elaborado pelo chefe do departamento de recursos hídricos da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Zuffo, faz uma análise entre o consumo de água nas diferentes classes sociais. Zuffo faz uma comparação entre a mediação do consumo compartilhado e individual de água em edifícios verticais. Na classe A, não há elasticidade entre as duas modalidades. Na classe B, o consumo individual apresenta uma economia de 5% em relação ao coletivo e na classe C, de 30%.

“Na classe mais rica, não há diferença porque as pessoas continuam gastando a mesma quantidade de água independente da forma como é feita a medição. Já na classe mais baixa, quando é compartilhado, o consumo é 30% maior. O que demonstra falta de conscientização”, avalia.

Nesta sexta-feira (29), o Cantareira chegou à baixa recorde de 11,3%, do seu volume morto, e o Alto Tietê conta com apenas 16% do seu volume total.

 

Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias

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