Alexandre Padilha: Temer faz o povo sofrer e não governa mais o país
Em artigo pra Revista Fórum o médico diz que vivemos reféns das petrolíferas internacionais e que o combustível que o Brasil precisa está preso em Curitiba
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O Brasil pós-golpe entrega das nossas riquezas aos interesses estrangeiros e aplica políticas neoliberais. Esse é o jeito golpista de Michel Temer/Meireles/PSDB governar. E não à toa vivemos há tempos – 1,4 milhão de domicílios passaram a usar forno à lenha com a alta do gás -, e não só na última semana, em um cenário crítico instalado no país.
Em novembro do ano passado, escrevi para esta coluna o texto “O lobby que vendeu nosso pré-sal”, pelo qual denunciava a política desastrosa de Temer na Petrobras, que cedeu ao lobby em favor das multinacionais e que substituiu a participação obrigatória da Petrobras na exploração do pré-sal. A greve dos caminhoneiros é consequência da revolta diante da abertura do governo aos interesses das multinacionais, ao capital especulativo.
Claro que ela é heterogênea. Há várias manifestações de pedido de intervenção militar, mas é resultado de uma política desastrosa, capitaneada por Pedro Parente, com impactos já previstos, como por exemplo na saúde, onde os bloqueios ainda impedem o fornecimento de produtos, hospitais cancelam cirurgias – como o Hospital das Clínicas da Unicamp, que suspendeu um transplante de fígado ontem por falta de bolsas de sangue -, atrasos nas entregas de medicamentos, na realização de exames e até no fornecimento de alimentos aos pacientes internados.
Pedro Parente, o atual presidente da Petrobras, indicado por Temer, o mesmo que em 2001 – no governo do Fernando Henrique Cardoso – ficou conhecido como o Ministro do apagão elétrico, permanece aplicando a política de privatização, sem controle do Estado e de caráter totalmente neoliberal na maior estatal do país.
A política entreguista de Temer da Petrobras vendeu as refinarias a preço de banana para as petroleiras internacionais, retirou a exclusividade da empresa na extração do pré-sal e pratica uma política de preços voltada para a valorização das ações da bolsa de Nova Iorque. Tudo isso nos dois anos de golpe.
Também foi firmada que nossas refinarias produzissem apenas 70% do petróleo, para que o Brasil fosse obrigado a importar combustível, com discurso de que era mais barato importar do que produzir, em uma visão totalmente míope dos que não percebem a importância da soberania nacional.
Só neste período, o combustível teve reajuste 229 vezes. Na prática está acontecendo o seguinte: aumenta o dólar, com ele os valores da importação, o preço dobra e o povo não consegue comprar. Fora toda essa tragédia, o Congresso aprovou no ano passado a medida provisória que favorece as petrolíferas estrangeiras, com isenções que impõem perda de R$ 1 trilhão para o país.
A Petrobras possui capacidade para produzir petróleo e seus derivados de forma efetiva, mas o governo golpista prefere que ela seja privatizada e tirada da soberania do povo.
Ampliação
Os governos do PT ampliaram em sete vezes o valor da empresa, que foi sucateada pelo governo tucano nos anos de Fernando Henrique Cardoso, fazendo com que os lucros da estatal privilegiassem os interesses do Brasil, em especial para recursos em investimentos na saúde e educação.
No governo do presidente Lula, quando era ministro das Relações Institucionais, ajudei na aprovação do marco regulatório do pré-sal, com o Fundo Social, no qual os recursos da exploração eram guardados para investimentos futuros no país. Também foi aprovado o uso de 25% dos royalties do pré-sal – ampliados em 75% os investimentos para a saúde.
O país sofre há nove dias um caos institucional/organizacional – já anunciado – resultado das inseguranças políticas de um governo golpista impopular, que está tirando sua responsabilidade e colocando a culpa na pulverização digital das manifestações, no possível locaute das empresas de transporte e caminhoneiros autônomos – o que é crime.
A Petrobras era a 8ª maior empresa e a 2ª petrolífera com maior valor de mercado do mundo, sendo a líder em tecnologia e em reservas de petróleo. Agora, vivemos reféns das petrolíferas internacionais e de um governo que faz o povo sofrer e não governa mais. O combustível que o Brasil precisa está preso em Curitiba, por isso, Lula livre!
Alexandre Padilha é médico formado pela Unicamp, foi ministro da Coordenação Política de Lula, ministro da saúde no governo Dilma e secretariado da gestão Haddad em São Paulo
**Artigo inicialmente publicado no site “Revista Fórum” em 29 de maio de 2018