Anderson Dalecio: Carta aberta aos militantes do PT de SBC
A única forma do PT contribuir na mobilização dos trabalhadores contra os ataques de Temer e dos demais golpistas é mostrar na prática que é diferente deles
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Nós, militantes do PT de São Bernardo do Campo, cidade da região metropolitana de São Paulo, tivemos o privilégio de acompanhar e participar das grandes greves metalúrgicas que reavivaram a luta de classes no Brasil no fim dos anos 70 e levaram à fundação do PT em 1980 e a formação de quadros importantes para o partido, o maior deles, o presidente Lula.
O PT não foi fundado porque não existia uma oposição no país. Ela existia, porém, era uma oposição que acreditava que faria as mudanças que o povo precisava, e ainda precisa, através da atuação parlamentar. Mesmo um setor da esquerda que tinha que atuar ilegalmente por causa da ditadura, também apostava nessa linha política.
O PT surgiu para provar que estavam errados, que não se pode defender ou conquistar um direito sem a luta popular, e que essa deve ser a principal aposta da esquerda e da classe trabalhadora. A prova disso é a constituição que defendemos com tanto afinco, se nela constam direitos importantes, não foi graças aos 16 deputados que o PT tinha na constituinte, mas sim graças a luta nas ruas. A mesma coisa foi o impeachment da presidenta Dilma, o PT, mesmo com uma grande bancada nas duas casas, não pode evitar que acontecesse, pois a direita conseguiu mobilizar amplos setores da sociedade. Por fim, vale lembrar, que os setores que naquela época se diziam de esquerda e democráticos e colocavam tantas esperanças no parlamento, hoje estão no PMDB, PSDB e PPS, e são os que dirigem o atual golpe contra a democracia.
A resolução do diretório nacional do PT de liberar as bancadas do congresso nacional a fazer acordo com os golpistas, aprovada por 45 (sim, uma triste coincidência) votos a favor e 30 contrários, tem sido defendida pelos setores majoritários do partido, com o argumento de que os postos conquistados nas duas casas com esses acordos, irão favorecer os trabalhadores.
O senador Lindbergh foi preciso ao caracterizar esse argumento como “cretinismo parlamentar”, porque é justamente o que é. Acreditam que a luta contra os ataques de Temer e seus lacaios no Congresso não será barrada pela luta dos trabalhadores nas ruas, mas sim pela “atuação iluminada” dos deputados e senadores, com seus acordos e manobras. Na fundação do PT, Lula disse a célebre frase: “Que ninguém mais ouse duvidar da capacidade de organização e luta da classe trabalhadora”. Hoje não há quem duvide mais da capacidade de luta dos trabalhadores, do que a maioria da direção do PT.
Se a história mostra que só a luta mantém e conquista direitos, a única forma do PT contribuir na mobilização dos trabalhadores contra os ataques de Temer e dos demais golpistas é mostrar na prática que é diferente deles, em outras palavras, fazer acordo com esses golpistas por cargos, é uma sabotagem consciente ao PT e a luta contra golpe. Essa decisão da direção dá o seguinte recado à sociedade e as elites reacionárias: podem golpear a democracia a vontade, podem inclusive derrubar Lula mesmo se ele for eleito democraticamente em 2018, desde que estejam dispostos a negociar alguns cargos no Senado e na Câmara, tudo bem. Mesmo que não seja essa a intenção, toda a ação trás uma consequência e a consequência dessa ação é essa.
Isso, NEM DE LONGE, reflete o desejo e a disposição da militância petista, que foi e vai às ruas para lutar contra o golpe, contra os golpistas e seus ataques. Por isso, defendemos que as lideranças do PT na Câmara e no Senado, em conjunto com o presidente Rui Falcão, organizem um plebiscito sobre a questão na Comunidade do PT na internet. Assim terão a sustentação necessária para lançar candidatura própria à Câmara e ao Senado e a usar mais esse espaço para denunciar o regime de exceção atualmente em curso no país.
É hora da direção do partido sair do seu pedestal e voltar a ouvir a militância e o povo nas ruas, pois essa é a única forma de criarmos as condições para reverter a atual correlação de forças e começarmos a impor derrotas aos golpistas.
Anderson Dalecio, coordenador do Núcleo do Partido dos Trabalhadores de São Bernardo Rosa Luxemburgo, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.
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