Anne Karolyne: A luta das mulheres é constante, seremos resistência
A secretária nacional de Mulheres do PT avalia a participação das candidatas nas Eleições 2018 e fala sobre oposição ao governo de Bolsonaro
Publicado em
O saldo das Eleições 2018 foi positivo para as mulheres, na avaliação da secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Karolyne Moura. Ela ressalta, no entanto, que ainda é preciso avançar em representatividade política.
O PT foi o partido que mais elegeu candidatas no país, sendo 21 deputadas estaduais, 10 federais, duas vice-governadoras e uma governadora.
Em entrevista ao site do PT, a secretária comenta o resultado do pleito, fala sobre a contribuição do projeto Elas por Elas para o desempenho das mulheres no processo eleitoral e afirma que, com a eleição de Jair Bolsonaro, as mulheres, mais uma vez, serão protagonistas à frente das mobilizações.
Confira a entrevista na íntegra
Essa foi a primeira eleição com destinação de cota dos fundos partidário e eleitoral para as mulheres. Considerando esse fator, como você avalia o resultado?
A gente fica feliz com o aumento das mulheres, mas ainda está muito longe daquilo que a esperamos como representatividade. Acho que foi acertada a decisão de ter uma política de financiamento para as mulheres, mas foi tudo muito novo pra nós.
É preciso fazer uma avaliação muito com pé no chão, porque, embora tenha aumentado a presença das mulheres nas eleições, é preciso uma análise mais criteriosa sobre de que forma essas mulheres se organizam para fazer a disputa daqui pra frente.
Precisamos nos apropriar melhor sobre de que forma vai se dar esse financiamento, para não termos apenas um monte de vices, como apareceu nesse processo, para que isso não se torne uma prática, e que a gente consiga ter mulheres que de fato tenham condições de ser candidatas e de fazer a disputa nas próximas eleições.
No PT, também foi executado durante a campanha eleitoral o projeto Elas por Elas. Essa iniciativa contribuiu com o resultado?
O Elas por Elas é um legado das mulheres do PT, ele entrou para a história e só tende a crescer. No final deste ano, queremos fazer um balanço com as secretárias estaduais do que foi o projeto e avaliar os erros e acertos. O PT foi o único partido que teve um projeto de incentivo à participação das mulheres, precisamos manter e ampliar essa iniciativa daqui pra frente.
Eleito para a Presidência, Jair Bolsonaro, sempre foi visto como uma ameaça aos direitos das mulheres. Quais serão os principais enfrentamentos a partir do ano que vem?
Eu acho que a primeira coisa que eles vão vir atrás, nessa história da “caça às bruxas”, é quanto à liberdade de escolha das mulheres, direito ao corpo, à sexualidade, acho que isso vai vir muito forte.
Além disso, têm outros direitos que quando reduzidos impactam diretamente a vida das mulheres, é o caso de programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, a questão do preço alto do gás de cozinha, uma vez que as mulheres chefiam a maioria das famílias. Acredito que os ataques virão por esse caminho, e a nossa resistência será muito forte.
Não é verdade que temos igualdade no nosso país, não é verdade que homens e mulheres ganham igual, não é verdade que não tem machismo, tudo isso existe e nós vamos precisar combater na sociedade. Só que tem, por parte deles, a naturalização, por isso precisamos estar muito atentas.
A pauta das mulheres não é prioridade, o plano de governo do candidato eleito já mostrava isso. A conquista de direitos nunca foi fácil para as mulheres, e eu acho que agora vai ser muito difícil. Neste momento, a nossa principal luta é pela manutenção da democracia, porque quando se tem democracia e liberdade é possível lutar e avançar em algo.
Acho que o papel da Câmara, das mulheres eleitas, sobretudo da nossa bancada, que é a maior, vai ser fundamental nessa resistência e nessa frente em defesa da democracia.
Neste momento, a nossa principal luta é pela manutenção da democracia, porque quando se tem democracia e liberdade é possível lutar e avançar em algo.
As mulheres lideraram as principais mobilizações populares durante o processo eleitoral contra a candidatura e o discurso de ódio disseminado por Bolsonaro. Nesse momento pós-eleições, como a Secretaria de Mulheres vai articular e compor a Frente de Resistência pela Democracia?
Instalamos um Comitê Nacional de Mulheres composto pelos partidos que estavam apoiando a candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila e também pelos movimentos sociais. Nós queremos manter esse grupo conversando e se somando à ideia de uma frente democrática. A participação das mulheres nessas eleições foi muito relevante, não só na disputa de candidatura, mas no debate, nas mobilizações, com destaque para movimentos como o ‘Ele Não’. As mulheres, sobretudo, garantiram essa votação expressiva na candidatura do Haddad e da Manuela.
A luta das mulheres é uma constante e a nossa intenção é fazer com que esse comitê se torne uma frente de mulheres também contra esse governo, que já sabemos que será de retirada de direitos.
As principais mobilizações que virão serão das mulheres, naturalmente haverá uma resistência. Mas tem uma coisa que nos assusta que é a violência, e foi por isso que na reunião da Executiva, na terça-feira (30), a gente propôs a criação da rede solidária de acolhimento. A violência assusta e inibe a vontade de ir para as ruas.
A gente foi no dia 29 de outubro e no dia 20 muita gente não quis ir com medo da violência, então a gente precisa ter um olhar mais específico para essa questão. As mulheres vão continuar resistindo, como sempre, e agora somando com outros movimentos organizados. Mas precisamos combater essa sensação de medo que está pairando na sociedade.
Por Geisa Marques, da Secretaria Nacional de Mulheres