Antonieta de Barros: a mulher que ousou na política em 1934

Primeira parlamentar negra eleita no Brasil, Antonieta é exemplo de resistência, luta pela educação e pelos direitos dos menos favorecidos

Reprodução

Antonieta de Barros

Mulher, pobre, negra e filha de uma lavadeira ex-escravizada. No início do século 20, as possibilidades relacionadas a esses substantivos apontavam para caminhos ainda menos exitosos do que hoje em dia. Antonieta de Barros se encaixava exatamente nesse perfil.

Contrariando os padrões limitantes impostos a ela, tornou-se educadora, jornalista e a primeira parlamentar negra do Brasil a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa. Foi eleita deputada estadual em 1934, em Santa Catarina, estado onde nasceu em 1901.

Exemplo de resistência, Antonieta foi uma mulher dedicada e engajadas nas lutas de seu tempo. Sua coragem garantiu a possibilidade de estudo às mulheres, aos negros e aos menos favorecidos que cruzaram seu caminho.

Órfã de pai, foi criada pela mãe, que trabalhou como doméstica na casa do político Vidal Ramos, pai de Nereu Ramos, que viria a ser vice-presidente do Senado e chegou a ocupar por dois meses a Presidência da República.

Antonieta foi alfabetizada aos cinco anos de idade e deu asas ao sonho de ser educadora aos 17, quando ingressou na Escola Normal. Antes mesmo de concluir o magistério já mantinha um curso primário de alfabetização que levava o seu nome.

A professora no parlamento

Antonieta surge no cenário político catarinense em 1934, dois anos após a conquista das mulheres pelo direito ao voto. Foi eleita deputada estadual para a legislatura de 1935-1937, tornando-se a primeira parlamentar negra do Brasil, sendo reeleita para um segundo mandato em 1946.

A pesquisadora Luciene Fontão dedicou sua tese de doutorado, intitulada “Nos Passos de Antonieta: Escrever uma vida”, à biografia da ex-deputada. No trabalho ela destaca a atuação parlamentar da catarinense.

“Seus projetos de lei são voltados para a educação e para a qualificação do profissional que atua nos grupos escolares e instrução pública, bem como vai promover a Escola de Educação Profissional Feminina para estimular uma formação profissional qualitativa e digna às mulheres das classes menos favorecidas. Uma mulher que ousou ser política e ocupar o lugar que à época, normalmente, seria de um homem”, escreve.

Antonieta sentada entre seus colegas parlamentares, no dia de sua posse em 1935

Os passos de Antonieta na literatura

Sob o pseudônimo de Maria da Ilha, Antonieta escreveu principalmente crônicas, veiculadas em periódicos da capital catarinense. Ela chegou a fundar e dirigir os jornais A Semana (1922-1927) e Vida Ilhoa (1930). Durante sua vida, publicou o livro de crônicas autorais  Farrapos de Ideias, em 1937.

Em sua obra há aspectos da vida cotidiana da cidade, educação, política, problemas sociais e reflexões filosóficas sobre a vida e a morte. A pesquisadora Luciana Fontão avalia que os escritos de Antonieta são “de um valor inestimável na historiografia da literatura catarinense”, além de sua importante contribuição para a emancipação e representatividade de mulheres na escrita.

“A literatura produzida por Antonieta apresenta textos com características temáticas calcadas na crítica social, tendendo ao proselitismo provinciano de caráter urbano e marcado por uma linguagem com forte apelo didático e religioso, no culto aos valores humanísticos e cristãos. Ela representa a resistência da escrita feminina e a presença da mulher escritora na literatura produzida na Ilha de Santa Catarina”, pontua a pesquisadora.

Antonieta de Barros faleceu precocemente, em março de 1952, aos 50 anos, vítima de complicações diabéticas. A escritora deixou uma considerável produção escrita, além do exemplo de coragem e perseverança aos menos favorecidos. Antonieta também abriu caminho para que outras mulheres pudessem ocupar espaços historicamente restritos aos homens, como a política. 

Julho: Mês da mulher negra latino-americana e caribenha

O dia 25 de julho marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data teve origem durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992.

Ao longo dos anos, a data vem se consolidando no calendário de luta do movimento negro e tem resgatado a luta e a resistência das mulheres negras, bem como cumprido o papel de denunciar as consequências da dupla opressão que sofrem, com o racismo e o machismo.

No Brasil, a Lei nº 12.987/2014, foi sancionado pela presidenta eleita, Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola, viveu durante o século 18.

Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho.

Por Geisa Marques, da Comunicação Elas por Elas

 

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast