Após aumento dos remédios, planos de saúde terão reajuste recorde
Setor estima que alta deve variar entre 15% e 18,2% a partir de maio. “Bolsonaro quer oferecer os dados das pessoas como pratos no cardápio do banquete dos planos”, diz Alexandre Padilha
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A inflação de dois dígitos de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes força a alta não apenas dos preços dos medicamentos — que começaram o mês 11% mais caros — como também dos planos de saúde. A expectativa das empresas do setor é de que o aumento deste ano ultrapasse os 13,57% registrados em 2016 e chegue a até 18,2%, o que seria maior reajuste em duas décadas.
Responsável por regular os planos de saúde desde 2000, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) definirá até o fim do mês o próximo índice oficial de correção, que valerá entre maio de 2022 e abril de 2023. Ano passado, a redução da demanda por uso de serviços médicos devido à pandemia fez com que os planos individuais concedessem um desconto de 8,2%. Neste ano, tanto essa modalidade quanto a dos planos coletivos, que agregam os convênios empresariais, sofrerão reajustes pesados.
Era só o que faltava, depois da alta dos preços dos remédios, governo pode autorizar reajuste dos planos de saúde em até 18,2%. Ninguém merece esse governo, Bolsonaro é um desalmado que o brasileiro tá aturando. Torcendo aqui pro tempo passar logo e a gente se livrar desse homem.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) April 6, 2022
“Diversos fatores influenciam o reajuste dos planos de saúde, como o aumento do preço de medicamentos e insumos médicos, o crescimento da utilização de recursos dos planos e a incorporação de novas tecnologias nas coberturas obrigatórias aos planos de saúde”, explicou a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) em nota.
Além da alta da inflação, da sinistralidade e de forte retomada dos procedimentos eletivos, a entidade estima que os impactos da chamada Covid longa atingirão de 10% a 20% dos que contraíram a doença, ou até 6 milhões de pessoas no Brasil.
Outras instituições, como o Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), corroboram a expectativa. Um levantamento que considera a variação dos custos médico-hospitalares e verifica a média ponderada entre categorias de preços do serviço apontou variação de 18,2% no período de 12 meses encerrado em junho de 2021.
Já um relatório do banco BTG Pactual estima correção menor, de 15%, ainda acima do reajuste recorde de 2016 e do custo de vida. No ano passado, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), registrou alta de 10,06%. No acumulado em 12 meses até a primeira metade de março, a carestia já é de 10,8%.
Nesta sexta-feira (8), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o índice de março “cheio”, já com o impacto integral do mega reajuste dos combustíveis promovido pela Petrobras em 11 de março. O resultado deverá influenciar a tomada de decisão pela ANS.
Ao jornal O Globo, a coordenadora do programa de Saúde do Idec, Ana Carolina Navarrete, contestou as projeções. “Os percentuais projetados não fazem sentido, não condizem com a realidade e contradizem as informações divulgadas pela própria ANS. A variação de despesas médicas aumentou, mas não atingiu patamares anteriores à pandemia. O reajuste deste ano não pode servir para recuperar a redução que houve ano passado. É preciso analisar o comportamento dos custos e fazer a projeção”, disse.
No Twitter, a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), criticou o aumento. “Era só o que faltava, depois da alta dos preços dos remédios, governo pode autorizar reajuste dos planos de saúde em até 18,2%. Ninguém merece esse governo, Bolsonaro é um desalmado que o brasileiro tá aturando. Torcendo aqui pro tempo passar logo e a gente se livrar desse homem.”
Padilha defende saúde como direito, e não mercadoria
Ministro da Saúde durante o Governo Dilma Rousseff, o agora deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) afirma que 75% da população dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). O orçamento do sistema, lembra, é achatado desde a entrada em vigor da política de teto de gastos criada por Michel Temer em 2017, que retirou do sistema mais de R$ 30 bilhões.
“Não existe a possibilidade de um país como o Brasil, que é um país de renda média, com empobrecimento enorme da população, altos níveis de desemprego e determinantes sociais de saúde, não reconhecer a saúde como direito a ser garantido pelo Estado, e sim comprada como uma mercadoria”, afirmou em entrevista ao podcast Semana 13, no Canal do PT no Youtube.
“A gente tem o exemplo do que acontece com os planos de saúde, a pessoa às vezes investe por mês num plano de saúde o que se investe em saúde pública por ano e não tem a garantia do atendimento pleno nesse plano”, prosseguiu Padilha. “Imagina isso acontecer com todo o país, toda a população.”
O deputado tem alertado para os planos do desgoverno Bolsonaro de instituir um “open health”, o equivalente na saúde suplementar ao “open banking” recém-instituído no sistema financeiro. “Bolsonaro quer quebrar os dados de saúde das pessoas para serem oferecidas como pratos no cardápio do banquete dos planos de saúde”, disse à revista Fórum em janeiro.
Em debate promovido pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) em março, o ministro responsável pela implantação do Programa Mais Médicos afirmou que há uma percepção inédita na sociedade brasileira da importância do SUS. Para ele, há uma necessidade de fortalecimento do SUS em direção ao centro da agenda política e de desenvolvimento do país, a partir do enfrentamento da pandemia.
Da Redação