Gleisi: “Nessas eleições, a economia popular estará no centro do debate”

“Essa é a preocupação: como vencer a inflação e gerar emprego”, disse a presidenta do PT, ao ‘UOL’. Ela criticou ainda os preços dos combustíveis: “Temos uma inflação que é causada pelo Estado brasileiro”

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Presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Foto: Reprodução

A presidenta Nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) avalia que as eleições deste ano trarão como tema principal o debate mais urgente do Brasil atual: como derrotar o fantasma da inflação e gerar empregos de qualidade para a população brasileira, hoje abandonada à própria sorte pelo desgoverno Bolsonaro. Em entrevista ao UOL, nesta quarta (6), Gleisi também defendeu a formação de uma ampla frente em defesa da democracia e do processo eleitoral, reforçou que é preciso “consertar o que deu errado na reforma trabalhista” e criticou a atual política de preços da Petrobras: “Hoje temos uma inflação que é causada pelo Estado brasileiro”, condenou a líder petista.

“Eu não tenho dúvidas de que essa eleição coloca a economia popular como centro [do debate]: como fazer para tirar o país, o povo da crise”, definiu Gleisi. “É maior preocupação que temos de ter: como debelar a carestia, a inflação, como voltar a gerar empregos, melhorar a renda das pessoas, como debelar a fome… não é possível em um país que é produtor de alimentos como o Brasil, temos 19 milhões de pessoas passando fome, é muito triste. Voltamos ao Mapa da Fome, algo que tínhamos superado”, insistiu a presidenta do PT.

Reforma Trabalhista

Para tirar o Brasil do atoleiro, um eventual novo governo do PT terá de provocar debates necessários como a revogação da reforma trabalhista. “Temos de consertar o que deu errado”, resumiu Gleisi. “Uma das premissas da reforma trabalhista era gerar emprego mas nós continuamos com dois dígitos de desemprego, então [a reforma] falhou feio nisso. Se era para facilitar o ambiente de contratação, das regras, das relações da justiça do trabalho para gerar emprego, isso não aconteceu”, justificou.

“Temos de legislar e revogar o que está errado, porque ela tem de ser boa para todos, para o empresário que contrata e para o trabalhador contratado”, explicou a petista. “Não é retirando direitos, reduzindo salários, que você vai melhorar o ambiente econômico do país. Ao contrário, temos uma população majoritariamente empobrecida”.

Gleisi ressaltou que a renda média nacional no país é muito baixa, com 70% da população ganhando até dois salários mínimos no Brasil. “Um país que tem mais de 200 milhões de habitantes tem um potencial mercado consumidor, que é fundamental ao desenvolvimento econômico, para a geração de riquezas”.

“Precisamos entender que o povo brasileiro tem de ter renda na mão”, defendeu. “E para ter renda na mão, tem de ter emprego e emprego que remunere bem, com direitos. É isso que queremos discutir, o ambiente econômico do Brasil tem de ser bom para todos, para quem faz negócios e bom para o povo”.

Petrobras

Gleisi criticou duramente a atual política de preços da Petrobras, frisando que é uma empresa pública, de economia mista e, portanto, deve priorizar a população, quem de fato é dona da empresa. “O que foi implantado a partir de 2016, no governo Temer, é a política de paridade de preços internacionais. Isso está trazendo para dentro do preço do combustível toda a externalidade [do mercado], não é justo que isso aconteça”, argumentou.

“Sempre tivemos uma política de preços onde se considerava o barril de petróleo, mas se trabalhava com o custo de produção interna, não internacional”, observou a petista. “A nossa produção tem um custo barato, vem barateando ao longo do tempo, inclusive o pré-sal. O custo de exploração do pré-sal hoje é quase o custo do barril da Arabia Saudita, onde o petróleo jorra da areia. Por que cargas d’água temos de trazer o custo de operação de outros países, que é muito mais elevado?”, indagou Gleisi.

Para ela, se o pais trabalhar com a referência internacional mas com custos operacionais brasileiros, os custos seriam reduzidos. “Hoje a margem líquida de lucro da Petrobras é de 27%. Das outras petroleiras, Chevron, Exxon, é na casa de 8%. Por que a Petrobras tem de ter uma margem de lucro de 27%? Para distribuir para acionistas minoritários?”, questionou.

Preços “abrasileirados” e refinarias

Gleisi lembrou que a política de abrasileirar os preços foi praticada por Lula durante sua gestão. “Hove uma época em que o preço do barril do petróleo estava a US$ 147 e a gasolina aqui dentro era R$ 2,60. Porque usávamos outra política de preço, e os investidores minoritários não deixavam de ter lucro. Mas não era com essa margem líquida, isso é extorsivo, é roubo ”, condenou.

A petista também defendeu a retomada do investimento em refinarias. “Por que estamos importando gasolina?”, perguntou Gleisi. “Temos mais de 300 empresas importando gasolina dos EUA, sendo que a gente tem capacidade de refino no país, aumentando nossas plantas de refinarias. Privatizaram a refinaria na Bahia, onde hoje é o preço o mais caro”.

Ela enfatizou que a política atual cria um efeito inflacionário em cadeia, atingindo vários setores. “Isso afeta toda a economia. Hoje estamos vivendo uma inflação no país causada pelo Estado brasileiro, pela política de preços da Petrobras. Veja o ciclo vicioso [de inflação] que estamos entrando”.

Eleições e aliança pela democracia

Gleisi reafirmou a necessidade do campo progressista e democrático se unir para barrar os retrocessos e a truculência golpista de Bolsonaro, em um amplo movimento nacional. “Lula tem conversado muito, atendido movimentos sociais, houve um reunião na CUT, ele esteve com Requião no Paraná, participou de ato com o MST no interior [do estado], elencou Gleisi.

“Defendo que haja conversas com todos que estão no campo da democracia, com todo aqueles que  querem defender o processo democrático e eleitoral”, alertou Gleisi. “Tem de ser um grande movimento pela defesa da democracia e pelos direitos do nosso povo. Lula não está parado, mas está inclusive respeitando a legislação eleitoral. Ele está em conversa com partidos políticos para preparar uma aliança ampla”, apontou”.

Fake news e violência bolsonarista

“Temos visto uma quantidade muito grande fake news, principalmente nos últimos dois meses”, advertiu a parlamentar. “As instituições brasileiras, principalmente o Judiciário, têm de tomar medidas para que a gente não repita o filme que vimos em 2018”.

Gleisi voltou a condenar o deputado bolsonarista Junior Amaral, que ameaçou o ex-presidente Lula em vídeo. De dentro de um carro, Amaral aparece exibindo uma arma, dizendo que estava “pronto para conversar”. A ameaça foi uma resposta a um trecho de discurso de Lula em que ele dizia que a população poderia visitar parlamentares para conversar, sem briga ou xingamento.

O deputado editou o vídeo, retirando a parte em que Lula fala em uma visita pacífica e Gleisi denunciou o extremista de direita. Para a deputada, o bolsonarista precisa “responder porque anda com essa arma no carro e incita a violência”.

“Temo que essa seja uma campanha de violência. O vídeo desse deputado mostra como eles reagem a um debate político, com eles não têm debate, têm só enfrentamento, violência física, [ímpeto de] eliminar”, lamentou.

Da Redação

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