Líder de entidade patronal pede revisão da dolarização dos combustíveis

Preço de Paridade de Importação da Petrobras (PPI) é questionado por presidente de associação de empresas aéreas. “Gestores e investidores ganhando alto e o povo no maior arrocho”, diz Gleisi Hoffmann

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Política dos governos do PT “do poço ao posto” garantia gasolina mais barata

O aumento do preço do querosene de aviação (QAV), na última semana, foi o fim da picada para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz. Pela primeira vez, o principal dirigente de uma entidade patronal critica abertamente a política do Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada por Michel Temer após o golpe de 2016 e mantida por Jair Bolsonaro.

“Esse país precisa enfrentar um debate sobre a política de paridade internacional. Isso tem de ser feito de forma racional e técnica. Eu tenho consciência de que há impactos econômicos, políticos, legais nesse tema. Mas os efeitos desses números sobre os consumidores e sobre a sociedade tornam esse debate inadiável”, disse Sanovicz à coluna Painel, na Folha de São Paulo deste domingo (3).

“Hoje, 90% do querosene de aviação consumido no Brasil é produzido aqui”, lembra o líder patronal. “Ora, nós compramos um querosene que, entre a produção e o consumo, viajou 100 quilômetros ou menos. O do Galeão vem por duto, direto da Reduc. E o consumidor brasileiro paga como se o QAV tivesse viajado milhares de quilômetros vindo do Golfo do México.”

A Reduc é a Refinaria Duque de Caxias. No município da Baixada Fluminense, o aumento do QAV chegou a 18%. O mesmo ocorreu em Paulínia (SP) – onde funciona a Replan, maior refinaria em capacidade de processamento da Petrobras – e Guarulhos (SP), que recebe derivados de petróleo e álcool da Replan e das refinarias do Vale do Paraíba, de Guararema, de São Caetano do Sul, de Capuava e de São Sebastião.

É preciso enfrentar esse debate porque esses custos que não estão sujeitos a nenhum aspecto de governabilidade no Brasil, que estão ligados a câmbio, petróleo, guerra, recaem sobre os setores produtivos e sobre os consumidores”, apontou ainda Sanovicz, preocupado com os efeitos dos reajustes abusivos sobre o setor que lidera. Sua fala ecoa a narrativa mantida por parlamentares da oposição, líderes sindicais e profissionais do setor petrolífero desde o golpe contra a presidenta legítima Dilma Rousseff.

Nas últimas horas, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, vem elencando uma série de notícias que circularam durante o fim de semana e desnudam ainda mais a transformação operada na Petrobras – de uma empresa “do poço ao posto”, principal indutora do desenvolvimento nacional, em mera fábrica de dividendos e bônus por performance financeira. Gleisi também apontou as principais vítimas da dolarização.

“Absurdo o gás de cozinha sozinho consumir quase 1 terço da renda das famílias mais pobres. Sem falar na água e da conta de luz. E o que sobra pra comida? Culpa desse governo que dolarizou os preços na Petrobras. Por acaso o brasileiro ganha em dólar?”, perguntou a deputada federal paranaense em postagem no Twitter, abrindo a série de comentários sobre o tema.

Venda de refinarias encarece combustível, mas enriquece gestores e acionistas

Gleisi Hoffmann mencionou a informação de que a remuneração dos administradores da Petrobras mais que dobrou entre 2020 e 2021, passando de US$ 2,8 milhões para US$ 6,1 milhões (R$ 34 milhões na cotação de 30 de dezembro). Destacou ainda um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) demonstrando o óbvio: o investimento em refinarias é o principal fator em uma política de redução de preços dos combustíveis.

Hoje, o desgoverno Bolsonaro atua para acelerar ainda mais a dilapidação resultante do lawfare movido pela força tarefa da lava jato sobre a Petrobras. Desde 2016 a empresa vem sendo “depenada”, como disse recentemente Dilma Rousseff. “Agora que está ficando provado de quem é o interesse de destruir a Petrobras, nós temos que fazer a nossa tarefa”, pregou Luiz Inácio Lula da Silva em debate recente sobre os combustíveis.

Lula mencionou estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em associação com a Federação Única dos Petroleiros (FUP). O mais recente deles revela que apenas na “gestão” de Bolsonaro foram privatizados 62 ativos da empresa, o que corresponde a cerca de 67% de um total de 93 vendidos nos últimos nove anos. O entreguismo bolsonarista acumulou US$ 33,9 bilhões, de um montante de US$ 59,8 bilhões. Outros 34 ativos continuam à venda.

O resultado do fatiamento do Sistema Petrobras para a população é o óbvio: de outubro de 2016, quando o PPI foi adotado, a 1º de fevereiro de 2022, o gás de cozinha nas refinarias sofreu reajuste de 287,2%, a gasolina, de 117,2% e o diesel, de 107,1%, face a uma inflação acumulada de 29,8%. Os reajustes nos postos acumularam, no período, 81,6% na gasolina, 88,1% no diesel e 84,8% no gás de cozinha.

Segundo o Dieese/FUP, a Petrobras apresentou em 2021 um custo médio de extração de petróleo e produção de derivado de R$114,89 por barril. Ao mesmo tempo, vendeu esse produto no mercado interno por um valor três vezes e meia maior (R$ 416,40), garantindo lucro de R$ 301,51 por barril, que foi comercializado no país no ano passado.

O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, lembra que, mesmo sem o PPI, o petróleo do pré-sal já garante à Petrobras alta lucratividade: o custo operacional da região não chega a US$ 28 por barril. No entanto, “isso reduziria lucro de importadores e dividendos de acionistas, os quais atingiram o recorde absurdo de R$ 101,4 bilhões em 2021”.

Um dos estudos do Dieese/FUP também revela que a participação do petróleo importado no processo de refino brasileiro atinge atualmente apenas 6% do total, e 94% do processamento é realizado com óleo produzido no país. O principal exportador de óleo para o país atualmente é a Arábia Saudita, cujo príncipe, Mohammed bin Salman, visitará o Brasil em maio.

Acusado de ser o mandante do assassinato de Jamal Khashoggi, ex-colunista do The Washington Post, Mohammed bin Salman mantém relações próximas com Bolsonaro desde outubro de 2019, quando o recebeu na capital saudita, Reina. Na ocasião, Bolsonaro disse que “todo o mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe, especialmente as mulheres”.

O brasileiro também disse que desenvolvera “certa afinidade” com o “quase irmão” após conhecê-lo na reunião do G20, em junho de 2021. Talvez pelos cadáveres que ambos carregam nas costas, talvez pelos bons negócios – não apenas de petróleo, mas também de armas: duas das maiores empresas brasileiras da indústria de Defesa, a CBC e a Mac Jee, fecharam recentemente grandes negócios com a Arábia Saudita. Vão vender material bélico e assumir operações de fábricas já existentes por lá.

Da Redação

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